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 | Graham Crouch/ The New York Times
| Foto: Graham Crouch/ The New York Times

O rapaz estava sentado com as pernas cruzadas em um palco, cercado por outros monges jainistas. Na maior parte do tempo, seus olhos ficaram fechados.

Do amanhecer até o meio da tarde, membros da plateia se aproximavam para mostrar ao jovem monge um objeto qualquer, apresentar um problema de matemática ou falar uma palavra ou uma frase em um idioma entre pelo menos seis diferentes. Ele absorvia a miscelânea silenciosamente, enquanto os espectadores tomavam nota de tudo.

Após seis horas, o 500° e último item foi proferido para o monge. Um silêncio mesclado de ansiedade dominou a plateia.

O monge abriu os olhos e se recordou de todos os 500 itens na sequência correta, fazendo apenas um intervalo para preencher uma lacuna que havia momentaneamente deixado de lado. Quando os escrivães confirmaram a proeza, 6.000 pessoas em um estádio em Mumbai irromperam em cânticos triunfais.

O evento, no mês passado, fez parte de uma campanha para estimular crianças a meditarem, uma prática adotada há séculos pelos monges jainistas.

O jainismo é a menor das principais religiões da Índia e tem cerca de 5 milhões de fiéis. Muitos seguidores são bem-sucedidos na política, na ciência e nos negócios. Todavia, até para os padrões jainistas, o monge Munishri Ajitchandrasagarji, 24, é especial.

Seu guru, P. P. Acharya Nayachandrasagarji, disse que nenhum outro monge chega perto da capacidade do rapaz. "A mente de Munishri é como um computador durante um download", comparou o guru. "Muitos processos podem ocorrer simultaneamente em sua mente."

"Um exemplo disso é quando eu esqueci o número 81", disse Munishri, interrompendo. "O restante dos processos continuou, então esse processo específico começou e me lembrei dele. Isso não requer esforço. Eu simplesmente consigo extrair as coisas do meu subconsciente."

O guru, atualmente com 58 anos, relatou que na juventude trabalhou em um ateliê de lapidação de diamantes, porém ficou desiludido com o mundo material e renunciou a ele. Então, passou a vagar descalço pela Índia, orando e traduzindo escrituras jainistas.

Em 2000, ele passou por Unjha, onde Munishri era um menino de dez anos. O garoto ganhou a bênção de sua família para ficar sob a tutela do guru e dois anos depois também iniciou uma vida itinerante marcada por solidão, meditação e desenvolvimento da memória. Segundo o guru, Munishri decorou mais de 20 mil versos de escrituras jainistas e, na privacidade do templo, consegue reter na memória até 800 itens aleatórios na sequência correta.

O monge não se considera especialmente dotado ou uma espécie de gênio raro. "Eu consigo fazer isso porque abri mão de tudo", disse Munishri.

"Qualquer pessoa pode fazer isso também, pois não se trata de um milagre. Minha mensagem é simples: quando você está ciente de sua capacidade e se livra das distrações, o poder de sua mente é imenso."

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