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Durante a cerimônia de entrega do Prêmio Nobel da Paz em Oslo, no início deste mês, um jovem subiu ao palco, abriu uma bandeira mexicana manchada de tinta vermelha e pediu ajuda para seu país porque 43 estudantes estão desaparecidos desde que se envolveram em um confronto com a polícia.

Na festa da premiação do Grammy Latino, em Las Vegas, em novembro, os grandes vencedores, a banda Calle 13, demonstraram sua solidariedade às vítimas durante a apresentação. No México, as passeatas lotam as ruas constantemente, seus participantes exigindo que o governo faça algo contra a corrupção e a criminalidade. Mas será que os políticos estão ouvindo esses apelos?

O governo federal deve nomear um promotor especial para acabar de vez com os subornos, as propinas e o favoritismo e revelar as facetas do crime organizado envolvidas no caso dos universitários desaparecidos.

Esse tipo de determinação talvez seja exatamente aquilo de que o público necessita – mas segundo entidades de fiscalização do governo, o que existe no momento é um agente com um mínimo de independência necessário para uma missão tão abrangente.

O novo cargo será ligado à Promotoria-Geral – chefiada por um aliado do presidente Enrique Peña Nieto que, por sua vez, terá poder de veto sobre o nomeado pelo Senado – só que o próprio líder do país enfrenta acusações de conflito de interesses no caso de uma mansão que sua mulher tentou comprar de uma empreiteira ligada ao governo, levantando dúvidas sobre o nível de autonomia que essa pessoa terá.

Assim, em um período de tumulto generalizado por causa dos estudantes desaparecidos, já considerados mortos nas mãos das autoridades municipais – em conluio com o narcotráfico – o México se vê frente a um abismo entre a classe políticas e os pedidos de mudança. Os partidos, todos enfraquecidos ou sem autoridade moral para cobrar atitudes corruptas ou a aplicação da lei por causa de seus próprios desmandos e/ou omissão, não conseguem representar a gana que se vê nas ruas.

O Partido Revolucionário Institucional de Peña Nieto tem um legado de corrupção e as pesquisas mostram que o povo não põe fé no líder. O Partido da Revolução Democrática, esquerdista, está no poder no estado e na cidade de onde os estudantes desapareceram e o conservador Partido da Ação Nacional ainda é criticado por não controlar a violência do narcotráfico que disparou durante o mandato anterior ao de Peña Nieto.

"O que foi proposto como solução é o mesmo que tentar tratar um câncer com aspirina. Parece que o governo está surdo e não consegue reconhecer a oportunidade única de mudar as coisas no México", afirma Juan Pardinas, analista político do grupo de pesquisas Instituto Mexicano para a Competitividade.

Para muitos, essa desconexão é proposital. "É uma fissura histórica. A classe política tem o poder e tenta apenas mantê-lo", diz Mauricio Merino, analista do CIDE, um instituto de políticas da capital e um dos 80 intelectuais e representantes de grupos de fiscalização que pediram aos líderes políticos recentemente que esqueçam a proposta de um único promotor especial e, em vez disso, criem um órgão independente para combater a corrupção.

Novas pesquisas mostram que Peña Nieto tem no momento o nível mais baixo de aprovação em dois anos de governo; além disso, a confiança no processo político está em queda livre, pois nele corre uma dinheirama ilícita, apesar do controle dos gastos de campanha.

Mantendo o moral do povo em baixa estão vários casos que questionam a integridade do Estado. Primeiro, o sumiço dos 43 estudantes; depois, surgiram os detalhes sobre a casa que Angelica Rivera estava comprando, a crédito, de uma empresa que participa das licitações do governo. O dono da firma que construiu o casarão faz parte de um consórcio liderado pelos chineses que tinha acabado de ganhar a licitação para construir a rede ferroviária de alta velocidade – embora essa tenha sido cancelada. A primeira-dama desistiu do negócio.

Este mês Peña Nieto anunciou um plano de dez etapas que basicamente pretende acabar com 1.800 delegacias municipais, substituindo-as pela polícia estadual e dando ao governo federal poderes para caçar os governantes municipais suspeitos de atividades corruptas, mas, de acordo com os analistas, faltam propostas concretas para acabar com a sujeira no judiciário e nos partidos.

As novas gerações torcem para que uma "Primavera Mexicana" surja da indignação, mas um protesto recente mostrou menos participantes e falta de objetivos claros. Para um presidente que mostra tcuidado em manter a imagem pública, talvez a manifestação não tenha importância nenhuma.

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