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Manifestante mascarado e fantasiado na Cidade do México e cartazes ironizando Peña Nieto e seu partido, o PRI | Reuters
Manifestante mascarado e fantasiado na Cidade do México e cartazes ironizando Peña Nieto e seu partido, o PRI| Foto: Reuters
  • A polícia reunida antes de uma manifestação contra planos de permitir investimentos privados na estatal petrolífera Pemex

A emoção que encheu a praça da Libertação, em Guadalajara, há dois anos, quando Enrique Peña Nieto anunciou sua candidatura presidencial em meio a bandas de mariachi, jovens descolados e mulheres extasiadas, já se dissipou, para muitos.

Ao mesmo tempo em que Peña Nieto ganha elogios internacionais por implementar reformas na energia, educação, telecomunicações e impostos, seu índice de aprovação pública no país caiu de 54% para 37%, mais baixo que qualquer presidente mexicano na memória recente. "Num primeiro momento, pareceu que muita coisa estava mudando —‘veja todas estas leis novas’", disse o engraxate Martin Moreno, 60 anos, que votou em Peña Nieto. "Mas, para quem é de classe média ou menos, a realidade é que a vida piorou."

A mudança mais ambiciosa promovida pelo governo —a abertura do setor energético ao investimento privado— ainda não foi concluída, e as autoridades afirmam que seus esforços legislativos vão acabar por beneficiar todos os mexicanos.

"O processo de reformas não visa ter impacto imediato", disse o ministro das Finanças, Luis Videgaray. "O que estamos procurando fazer é modificar a estrutura que há muitos anos vem dificultando o crescimento do país."

Mas aqui, no Estado de Jalisco, famoso pela posição central que ocupa na cultura e política mexicanas, o abismo entre a mensagem do governo e a avaliação que a população faz de sua performance já virou um cânion. A dúvida é se isso reflete um descumprimento das promessas do governo ou um sinal de maturidade da jovem democracia mexicana.

Peña Nieto pode ter se promovido como um rosto novo e fotogênico e como uma ruptura com o tempo em que seu Partido Revolucionário Institucional (o PRI), comandou o México como falsa democracia durante sete décadas. Mas, dois anos depois, a "esperança e luz" que ele prometeu em campanha ainda não se concretizaram. Os jovens, em especial, se dizem desiludidos com o modo antigo de fazer as coisas, com pouca transparência.

E, ao mesmo tempo em que o país atrai níveis recordes de investimento estrangeiro, especialmente no setor automotivo, a economia cresceu apenas 1,1% no primeiro trimestre deste ano. Enquanto isso, a pobreza cresceu, segundo relatório governamental recente, especialmente entre aqueles que não têm nível de instrução suficiente para ingressar nos setores de exportação.

Na periferia pobre de Guadalajara, Teresa Mozqueda, 33, uma dos muitos eleitores locais de Peña Nieto que hoje se arrepende de sua escolha, disse que, na carroça de legumes de seu marido, "as vendas às vezes estão mais baixas, às vezes iguais, mas nunca melhores". Ao mesmo tempo, "o que compramos está mais caro".

Moreno, o engraxate, tem medo da nova lei fiscal que visa ampliar a base tributária. Segundo ele, a lei vai exigir que ele abra uma conta bancária e deduza impostos.

Peritos dizem que esse é um erro de interpretação; que o ingresso no novo regime não poderá ser compulsório e que há programas de incentivos para compensar pelos custos do esforço para levar a grande economia informal mexicana a seguir as leis e os benefícios.

Diante dos planos para permitir investimentos privados na Pemex, a estatal petrolífera, outros mexicanos, desde ambulantes até executivos, recordam a decepção que se seguiu à privatização de rodovias com pedágios. O plano era melhorar o nível das estradas; em vez disso, para muitos, elas estão caras e, em muitos casos, sua qualidade é baixa.

Especialmente no setor de alta tecnologia em Guadalajara, teme-se que a nova lei das telecomunicações, que visa aumentar a concorrência e reduzir taxas, equivalha a um golpe do governo para limitar a privacidade, dando às autoridades poder maior de monitorar comunicações e fechar sites ou limitar o acesso à internet.

Esse tipo de pessimismo é histórico no país, e analistas políticos argumentam que Peña Nieto só poderá acabar com ele se der mostras de competência ousada —uma mudança dramática no funcionamento do governo, com melhorias concretas na Justiça, na economia e na transparência.

"Ele ainda não decidiu se quer ser um reformista de verdade, alguém que vai modernizar realmente o país", opinou Sergio Aguayo, analista político do Colégio de México.

Colaboração de Paulina Villegas, da Cidade do México

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