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Combustíveis fósseis, como o petróleo, respondem por 80% da energia consumida no México | Henry Romero/Reuters
Combustíveis fósseis, como o petróleo, respondem por 80% da energia consumida no México| Foto: Henry Romero/Reuters

Durante seis anos, enquanto a seca castigava o Estado de Chihuahua, Mario Ruiz se aferrou a seu pequeno rebanho.

Até que o pasto que alimentava seu gado secou. Muitas vacas de Ruiz morreram de fome. Outras ele vendeu para comprar forragem para aquelas que ainda tinham salvação. Restaram apenas 30 das 130 vacas do rebanho.

Agora que as chuvas retornaram, transformando a estepe poeirenta em um tapete verde, fazendeiros como Ruiz, 41, estão lutando para recompor suas criações. Mas eles temem que a seca, que devastou plantações e matou 400 mil cabeças de gado no Estado de Chihuahua, ao sul da fronteira com os Estados Unidos, torne-se um inimigo constante.

"Se chover, nós sobreviveremos", disse Ruiz. "Mas parece que chove cada vez menos e mais tarde do que o esperado."

Diante da ameaça crescente de eventos climáticos extremos —secas, furacões e elevação das águas costeiras—, o México se posicionou como líder na luta contra a mudança climática. O país promete reduzir drasticamente as emissões de carbono até 2020 e produzir um terço de sua energia usando fontes limpas até 2024.

O México, que é o 13° maior emissor de gás carbônico do mundo, aprovou leis estaduais e federais que regulam emissões, promovem o manejo florestal sustentável e estabelecem verbas para energia renovável e eficiência energética. Em 2012, o país foi um dos primeiros do mundo a aprovar uma lei relativa à mudança climática.

Porém, enquanto líderes mundiais se reúnem em Lima, Peru, para estabelecer um "rascunho zero" para um novo acordo multilateral sob a Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre a Mudança do Clima, certos analistas duvidam que o México possa cumprir suas metas tão louváveis.

"O México vestiu a camisa da mudança climática porque isso estava na moda", disse Carlos Tornel, analista de políticas públicas no Centro Mexicano para Legislação Ambiental (Cemda), organização de pesquisa e defesa ambiental. "Estamos engajados na luta contra a mudança climática —como o bom menino que faz o dever de casa—, mas há poucos recursos destinados a isso."

O governo introduziu um imposto sobre carbono em janeiro, e a Bolsa de Valores do México lançou uma plataforma para negociar créditos de carbono no ano passado.

O México também está entre os países em desenvolvimento que foram mais ágeis para apresentar seu inventário de emissões de gases de efeito estufa sob a Convenção da ONU, segundo a organização Globe International, que promove leis relativas ao desenvolvimento sustentável.

Todavia, não há penalidades para o descumprimento de metas de emissões, e especialistas ambientais dizem que as iniciativas atuais são insuficientes.

Embora haja um plano detalhado para órgãos federais reduzirem as emissões —a meta é reduzir 83 milhões de toneladas de gás carbônico entre 2014 e 2018—, não há algo equivalente, segundo especialistas, para reduções por parte do setor privado e de instituições estaduais e municipais.

Rodolfo Lacy Tamayo, subsecretário de Planejamento e Política Ambiental, disse que o governo tomaria uma série de iniciativas, incluindo a redução de poluentes como metano e a substituição de diesel e gasolina por gás natural em carros e no transporte público.

Mais de 80% do consumo atual de energia dependem de combustíveis fósseis. No entanto, medidas aprovadas em agosto, que abriram as reservas mexicanas de gás e petróleo a investidores estrangeiros, diminuem os incentivos para a energia renovável, argumentam alguns críticos.

"Há uma percepção muito arraigada de que o petróleo é parte de nossa cultura e que as fontes renováveis de energia não são viáveis", comentou Miguel Soto, porta-voz do Greenpeace.

O clima inclemente é um fardo crescente. O governo estimou que o custo médio anual de desastres foi de US$ 2,1 bilhões entre 2000 e 2013, cerca do triplo da média anual entre 1980 e 1999.

O país perdeu aproximadamente 30% de seu gado. Em Chihuahua, a seca e a expansão de terras agrícolas produziram uma batalha feroz por água.

Ruiz, que não tem permissão para cavar um poço e tampouco tem recursos para isso, parou há 15 anos de plantar feijão e milho na terra comunitária perto de sua casa, porque as chuvas vieram tarde demais na estação.

Ele não tem certeza se poderá resistir caso a seca retorne no próximo ano. Ele não tem dinheiro para comprar mais vacas, pois o preço aumentou para cerca de US$ 1.000 por cabeça. E contou que muitos vizinhos seus desistiram de trabalhar com isso.

"Se é impossível semear a terra e manter as vacas, o que se pode fazer?", indagou ele. "O jeito é vender tudo e migrar para a cidade."

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