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As telas de computador na sala de controle desta gigantesca plataforma flutuante monitoram a pressão em um poço estreito, perfurado numa camada de pedra até uma reserva de gás natural que está cinco quilômetros abaixo do fundo do mar. Há seis meses, uma equipe internacional contratada por um prestador de serviços da empresa Petróleos Mexicanos (Pemex), o monopólio estatal de petróleo do México, vem escavando um poço exploratório aqui. Agora, o trabalho está quase encerrado. Uma operação como essa atrairia pouca atenção na parte norte do Golfo, onde dezenas de plataformas de águas profundas já fazem parte do mosaico que alimenta o "boom" energético dos Estados Unidos. No lado mexicano, porém, a busca está apenas começando.

A Pemex aposta seu futuro na produção em águas profundas. Mas, depois de oito anos de prospecção, a empresa ainda está a anos de extrair o primeiro barril de óleo em águas profundas. Antes de conseguir isso, a Pemex terá de deixar para trás seu passado de monopólio estatal pesado e vagaroso, remodelando-se como uma empresa dinâmica, pronta para competir no cenário mundial.

"Os campos verdadeiramente grandes, as oportunidades materiais para a Pemex, descansam em águas profundas", disse Emilio Lozoya Austin, o executivo-chefe da empresa. "É aqui onde se encontra nossa maior curva de aprendizagem."

Os ambiciosos planos de Lozoya são parte de uma ampla reviravolta do setor energético mexicano, com o objetivo de elevar a enfraquecida produção nacional de gás e petróleo. Ao encerrar o monopólio da Pemex, o governo espera atrair importantes investimentos externos pela primeira vez desde que o México expulsou as petrolíferas estrangeiras, em 1938.

Dentro de um ano, o órgão regulador do setor, a Comissão Nacional de Hidrocarbonetos, vai realizar os primeiros leilões abertos do país para campos de gás e petróleo, incluindo regiões em águas profundas no golfo do México."A Pemex não terá nenhum privilégio especial", disse Juan Carlos Zepeda, presidente da agência reguladora.

A mudança não será fácil para a Pemex, há muito tempo administrada como um braço do governo. A tarefa da empresa tem sido bombear petróleo e entregar dinheiro para o governo mexicano, um trabalho que se tornou possível com as generosas descobertas em águas rasas na parte sul do Golfo, nos anos 1970. O resultado foi que a Pemex sofreu prejuízos e nunca investiu no futuro. Isolada do setor petrolífero global, ficou para trás dos gigantes energéticos.

Desde o seu auge, em 2004, a produção mexicana de petróleo bruto teve uma redução de cerca de 1 milhão de barris por dia, devendo ficar em 2,35 milhões de barris diários neste ano.

E a Pemex não tem nem capital financeiro nem capacidade técnica suficientes para produzir petróleo e gás em suas complexas reservas de águas profundas. A prioridade de Lozoya para águas profundas a partir de 2015 é atrair parceiros para iniciar a produção em dois campos. Ele disse que grandes corporações, como a Exxon Mobil, Chevron e Shell, são "candidatas óbvias". A previsão é de que o investimento privado em produção de gás e petróleo aumente continuamente a cada ano, até alcançar cerca de US$ 27 bilhões em 2020.

A reputação da Pemex como empresa corrupta é uma das maiores preocupações dos investidores, segundo Deborah Byers, sócia-gerente da consultoria EY, em Houston (Texas). Promotores mexicanos estão investigando uma das maiores subcontratadas da Pemex, a empresa de serviços marítimos Oceanografía – com importantes conexões políticas –, por acusações relacionadas a uma fraude bancária de US$ 400 milhões envolvendo falsas faturas da Pemex. A estatal não explicou por que concedeu tantos contratos à Oceanografía, uma empresa financeiramente instável, sem experiência fora do México. Para ampliar o controle sobre os contratos de US$ 40 bilhões da Pemex, Lozoya centralizou-os em um departamento. A empresa perdeu US$ 1,15 bilhão neste ano com o desvio de petróleo dos seus oleodutos por criminosos. Lozoya argumenta que a Pemex fez uma guinada ao dar seu mais importante passo.

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