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 | Tomas Munita para The New York Times
| Foto: Tomas Munita para The New York Times
  • Mianmar limitou os direitos da população rohingya, e desde 2012, mais de 100.000 foram colocados em campos como o do Estado de Rakhine, acima. Outros milhares fugiram em barcos

O governo de Mianmar tem dado a cerca de um milhão de rohingyas nesta região costeira do país uma escolha desanimadora: prove que sua família vive aqui há mais de 60 anos para ser tratado como cidadão de segunda classe, ou será levado para os campos e enfrentará a deportação.

Essa política, juntamente com novos decretos e legislação, trouxe mais desespero para os rohingyas, uma minoria muçulmana perseguida, estimulando o maior fluxo de refugiados desde um grande êxodo há dois anos.

No mês passado, 14.500 rohingyas zarparam das praias do Estado de Rakhine para a Tailândia, com o objetivo de alcançar a Malásia, de acordo com o Arakan Project, grupo que monitora os refugiados rohingyas.Em um apelo público ao governo, o presidente Obama pediu ao presidente de Mianmar, Thein Sein, que revisse as políticas anti-rohingya, especificamente o plano de reassentamento. Mianmar deve "apoiar os direitos civis e políticos da população rohingya", disse Obama.

Os rohingyas enfrentam discriminação há décadas. Tiveram sua cidadania negada, foram expulsos de suas casas, suas terras foram confiscadas, e a população foi atacada pelos militares. Depois de um ataque em 1978, cerca de 200.000 fugiram para Bangladesh.

O mais recente ataque começou com um tumulto sectário em 2012, no qual centenas de rohingyas foram mortos e dezenas de suas aldeias incendiadas pelos budistas radicais. Desde então, quase 100.000 pessoas fugiram de Mianmar, e mais de 100.000 estão confinadas em acampamentos miseráveis, proibidas de sair.

O Plano de Ação de Rakhine representa a humilhação final, disse Mohamed Saeed, organizador da comunidade em um campo perto de Sittwe, capital do Estado de Rakhine.

Muitos rohingyas vieram para Mianmar no século 19, quando os britânicos governavam tudo o que hoje é Índia, Bangladesh e Mianmar, anteriormente conhecido como Birmânia. Mas a exigência de prova de residência desde 1948 é algo impensável para muitos, que não têm a papelada ou estão lá há pouco menos de seis décadas, dizem defensores de direitos humanos.

Os que podem provar residência se qualificam para a cidadania naturalizada, que tem menos direitos do que a cidadania plena e pode ser revogada. Além disso, seriam classificados como "bengalis", sugerindo que são imigrantes de Bangladesh e abrindo o caminho para uma possível deportação.

O Human Rights Watch descreveu as medidas como "nada menos do que um plano de segregação permanente".

Este ano, em consonância com a posição do governo que os considera estrangeiros, os rohingyas foram impedidos de participar do censo nacional.

Além dessas políticas, há a situação calamitosa em campos e aldeias. Nos campos perto de Sittwe, onde vivem 140.000 rohingyas, serviços de saúde são virtualmente inexistentes.

Muitos rohingyas que querem deixar os acampamentos ou aldeias no norte de Rakhine pagam US$200 só para entrar nos barcos. Uma vez na Tailândia, os refugiados devem pagar um adicional de US$2.000 aos contrabandistas para a segunda etapa até a Malásia.

Alguns, como Nor Rankis, de 25 anos, que disse que queria se juntar a seu marido e seu irmão na Malásia, não pagam nada. Esse é um sinal quase certo de que será vendida por traficantes na Tailândia. "Não quero viver aqui. Não dá para sobreviver", disse ela.

Um porta-voz do Estado de Rakhine insistiu que os rohingyas não pertencem a Mianmar e defendeu o plano de reassentamento quando necessário, porque a alta taxa de natalidade muçulmana ameaçava a maioria budista.

"Não há nenhum rohingya dentro da lei. Eles são imigrantes ilegais", disse o diretor assistente U Win Myaing, porta-voz do Ministério de Informação.

Alguns funcionários do governo descrevem o Plano de Ação de Rakhine como uma proposta, mas o governo já levou o plano a cabo pelo menos em um dos acampamentos, Myebon, a cerca de 100 quilômetros ao sul de Sittwe.

Depois de algumas noites esperando por um contrabandista, Nor Rankis nadou pela Baía de Bengala até um pequeno barco de madeira, lotado com pelo menos outras vinte pessoas.

"Confio em Deus. É por isso que tento ir embora", ela disse.

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