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Tunisianos dizem com frequência que o primeiro levante da Primavera Árabe não começou em 2010 após a autoimolação do vendedor de frutas Mohamed Bouazizi, mas sim em 2008, quando houve protestos durante seis meses contra práticas corruptas de contratação nas minas de Gafsa.

Isso mostra os desafios prolongados da revolução na Tunísia que ainda revoltam a população local. Nas cidades de Moulares e Redeyef, protestos paralisaram as minas de fosfato —um pilar da economia— por grande parte dos últimos três anos.

Corriqueiramente, cidadãos bloqueiam ruas e queimam pneus. Policiais e membros do governo são repudiados.

"A greve só vai acabar quando tivermos emprego", disse Bashir Mabrouki, 28, em um grupo de jovens reunido em torno de um braseiro, enquanto protegiam uma barricada de pedras e ferro-velho que bloqueou a circulação de mercadorias no mês passado.

As reclamações continuam desde a derrubada do ditador Zine el-Abidine Ben Ali em janeiro de 2011. Elas indicam o que muitos aqui consideram a questão não concluída de sua revolução e um problema presente em todo o norte da África: o fracasso em realizar as aspirações de uma população jovem.

Segundo o Banco Mundial, o desemprego atinge 21% dos jovens na Argélia. No Egito esse índice é de 25% e no Marrocos chega a 18%.

Aqui na Tunísia, onde mais de 30% dos jovens não conseguem achar trabalho, as minas de Gafsa são emblemáticas dos desafios enfrentados pelos governos.

Os empregos por aqui estão cada vez mais escassos desde uma mudança em prol da mineração a céu aberto na década de 1970.

Preocupados com o clima de insatisfação, sucessivos governos criaram 15 mil empregos nas minas de fosfato e em iniciativas relacionadas a meio ambiente, recursos florestais e transportes. Mas o Estado ainda não consegue criar oportunidades suficientes para os desempregados.

Cerca de 30 mil pessoas se inscreveram na rodada mais recente de abertura de vagas em Gafsa para 2.700 empregos, disse Kamel Ben Naceur, ministro da Indústria, Energia e Minas. Cada série de contratações cria revolta entre os não selecionados.

As mesmas reclamações —como pobreza, poluição, falta de serviços básicos como energia elétrica e água limpa, e corrupção na distribuição de empregos cobiçados— que incitaram a revolta contra a ditadura continuam inflamando os protestos contra o novo governo tecnocrático da Tunísia, que tomou posse em janeiro deste ano.

Outrora líder do mercado, a Tunísia viu sua produção de fosfato diminuir um terço em relação aos volumes anteriores à revolução. A perda de receita chegou a 3 bilhões de dinares tunisianos (R$ 4,4 bilhões), afirmou Naceur.

Líderes da revolta se queixam de que o governo fica imerso demais na política e ignora as necessidades da população.

"A revolução perdeu o rumo", comentou Tarek Halimi, 49, um dos líderes dos protestos em 2008 na cidade de Redeyef.

Ele criticou os programas governamentais de geração de empregos, chamando-os de lambanças sem sentido. "Com bilhões de dólares você só compra dez ou 20 árvores e um time iniciante de futebol amador? Isso é ridículo".

Em um café, Anwar Leki, 24, limpa mesas sentindo raiva. Filho de um mineiro aposentado por invalidez, ele tem 12 irmãos, alguns deles com formação universitária, mas nenhum conseguiu emprego em três rodadas de contratações.

"Esse pó de fosfato está por toda parte e entra até em casa", disse ele. "Eu ganho seis dinares (R$ 8,28) por dia. Concluí a escola secundária, mas não tive condições de entrar na universidade. A gente vê tudo isso, sofre muito e não pode nem se expressar."

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