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Ilustração de “The Hour of Meeting Evil Spirits” | Matthew Meyer
Ilustração de “The Hour of Meeting Evil Spirits”| Foto: Matthew Meyer

Os tanukis, criaturas mutantes do folclore japonês, semelhantes a texugos, são endiabrados. Numa história, um tanuki mata uma idosa e faz uma sopa com ela, então assume a forma da mulher e dá a sopa de comer ao marido.

Monstros fantásticos como os tanukis abundam em “The Book of Yokai: Mysterious Creatures of Japanese Folklore” (“o livro dos yokais: criaturas misteriosas do folclore japonês”), de Michael Dylan Foster, um dos vários livros sobre os yokais a chegarem às livrarias neste ano.

“Yurei: The Japanese Ghost” (“yurei: o fantasma japonês”), de Zack Davisson, examina criticamente a história de alguns dos mais temidos e amados espectros japoneses. Ambos são textos acadêmicos, enriquecidos com as imagens de bestas em pinturas sobre rolos, xilogravuras e ilustrações originais.

“Yokai Character Collection” (“coleção de personagens yokais”), de Michael Goldstein, é mais pictórico. Tem o aspecto horripilante de um manual de “Dungeons & Dragons”.

E há também o ainda inédito “The Hour of Meeting Evil Spirits” (“a hora de encontrar espíritos maus”), de Matthew Meyer, um olhar enciclopédico sobre os yokais, incluindo notas sobre a aparência e o comportamento de cada criatura e seus lugares favoritos. É um livro de mesa que funciona como um guia ilustrado, cheio de lendas e obscuras curiosidades sobre os yokais.

Mas por que essa safra recente de livros sobre os yokais? As pessoas estão sendo expostas as essas criaturas graças a um constante fluxo de importações culturais do Japão. Haruki Murakami incluiu vários deles em seus romances, enquanto hordas aparecem nos filmes de Hayao Miyazaki. Outros ainda foram descritos em videogames e cards colecionáveis.

“Pokémon”, império que movimenta bilhões de dólares com brinquedos e videogames, tem os yokais como base para muitos dos seus personagens. O mesmo ocorre com game e anime “Yo-Kai Watch”. Eles acabam inspirando os fãs a buscarem os textos originais.

“Os alunos da graduação que entram para os campos da literatura e folclore do Japão são fortemente influenciados pela cultura popular”, disse Foster, que leciona na Universidade de Indiana e escreveu “Pandemonium and Parade: Japanese Monsters and the Culture of Yokai” (“pandemônio e desfile: monstros japoneses e a cultura do yokai”). “Eles crescem com essas coisas por intermédio do anime e do mangá, e querem saber de onde eles vêm.”

Os yokais em si são onipresentes no Japão — não só em filmes e desenhos animados, mas também em outdoors e até mesmo em rótulos de cerveja.

Relativamente poucos entre milhares de textos e estudos acadêmicos sobre os yokais foram traduzidos do japonês, o que torna os novos livros ainda mais valiosos para quem busca as histórias originais sem ser fluente na língua. Em “The Book of Yokai”, Foster aproveita desde textos e contos populares recolhidos no século 10«. pelo escritor Abe no Seimei até histórias de Kunio Yanagita, um acadêmico do século 20, ávido colecionador de histórias e considerado um dos fundadores do folclorismo japonês.

Novos textos e histórias continuam sendo descobertos e traduzidos.

Entre os yokais mais apavorantes estão os yureis, os espíritos dos mortos. Em “Yurei: The Japanese Ghost”, Davisson, tradutor de vários mangás clássicos, traça um perfil de vários ytureis. Dois dos mais famosos são a trágica Okiku, uma menina que se atirou num poço (ou foi atirada) após quebrar um dos valiosos pratos do seu senhor, e Oiwa, uma esposa infeliz amaldiçoada com um marido mau.

Os yureis inspiraram pinturas e ilustrações ao longo dos séculos, sendo que a mais conhecida provavelmente é “O Fantasma de Oyuki” (1750), retrato que o artista Maruyama Okyo fez da sua amante, então recém-falecida. Seu fantasma — com longos cabelos negros, roupas pálidas e sem pés — apareceu-lhe em um sonho, e sua pintura definiu o padrão visual de todos os fantasmas japoneses que viriam em seguida, seja em pinturas e gravuras ou nos personagens do teatro kabuki e filmes de terror.

“Depois daquela pintura”, disse Davisson, “a aparência de todos eles ficou assim”.

Os fãs adoram acompanhar essas evoluções ao longo do tempo, além de aprender o máximo de informações sobre os yokais. Isso pode explicar por que muitos desses livros, acadêmicos ou não, têm a aparência de enciclopédias ilustradas, com descrições detalhadas de dezenas de criaturas.

Por que esses monstros tão antigos continuam a fascinar? “Há o mistério do mundo sobre eles”, disse Bill Tsutsui, um estudioso da cultura japonesa. “Você percebe isso nesse sentido folclórico do passado: que o mundo real à nossa volta é lindo e maravilhoso, e mesmo assim pode ser realmente terrível também.”

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