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Em Estepa, trabalho temporário em fábricas para fazer doces conhecidos como polvorones na maior parte da Espanha e chamados de mantecados na cidade | Laura Leon para The New York Times
Em Estepa, trabalho temporário em fábricas para fazer doces conhecidos como polvorones na maior parte da Espanha e chamados de mantecados na cidade| Foto: Laura Leon para The New York Times

Na véspera de Natal, a quinta geração de donos da La Colchona fechou uma fabriqueta que emprega 15 pessoas na cidade.

Porém, ao invés de fazer parte da longa lista de empresas afetadas pela crise espanhola, a La Colchona conseguiu aumentar o faturamento deste ano e pretende abrir novamente as portas em setembro do ano que vem, no início da próxima temporada de preparação para o Natal.

A confeitaria faz parte do setor altamente sazonal em que se baseia a economia de Estepa, onde vivem 13 mil pessoas. Embora o setor funcione durante apenas um quarto do ano, sua contribuição vai muito além da temporada. As empresas reinvestem cerca de 85 por cento do faturamento na economia local, ajudando a sustentar outros negócios nos arredores de Estepa.

As 23 fábricas da cidade operam praticamente um monopólio nacional, produzindo 95 por cento dos doces crocantes comidos tradicionalmente pelos espanhóis na época do Natal. Esses doces, que vêm em diferentes formatos e sabores – de biscoitos de canela a pasta de amêndoas coberta com açúcar – são conhecidos como polvorones na maior parte da Espanha.

Os produtores em Estepa afirmam que já tentaram convencer os espanhóis a comerem polvorones em outras épocas – mas sem sucesso. E as exportações representam apenas algo entre 5 e 10 por cento da produção total, indo em sua maioria para países latino-americanos que são culturalmente ligados à Espanha.

Ainda assim, o setor tem sido fundamental durante as dificuldades econômicas que tomaram conta da Espanha. Em uma região agrícola coberta de olivais, o setor fabril de Estepa emprega mais de 2 mil pessoas nos meses anteriores ao Natal, além de gerar 2.500 vagas indiretas nas áreas de logística e distribuição.

Graças aos polvorones, Estepa manteve uma taxa de desemprego de apenas sete por cento durante os meses anteriores ao Natal. O total aumenta para 14 por cento durante o verão, quando a maior parte das vagas se concentra no setor agrícola. Em contraste, a Andaluzia, o maior estado da Espanha, possui atualmente uma taxa de desemprego em torno de 36 por cento.

"É como se a cidade ganhasse na loteria todos os anos na época do Natal", afirmou Miguel Fernández Baena, prefeito de Estepa.

Compreensivelmente, alguns dos trabalhadores do setor têm sentimentos ambíguos quando o Natal se aproxima. "Estou feliz por ter trabalhado nos últimos meses, mas triste por isso estar acabando", afirmou Emilio Martos Gómez, que opera o forno a lenha da La Colchona. "Preciso encontrar um trabalho depois do Natal, mas acho que não existem muitas perspectivas."

Algumas empresas diversificaram a produção e passaram a produzir outros confeitos, mas "é difícil saber" se eles serão lucrativos, afirmou Marcos Galván, da quarta geração de proprietários da La Estepeña.

O setor da confeitaria de Estepa tem origem na cozinha árabe, trazida à Andaluzia durante a ocupação mourisca, e nas receitas medievais desenvolvidas nos conventos católicos. Os doces se tornaram típicos no Natal há cerca de 60 anos, durante a ditadura de Franco, quando os trabalhadores da Andaluzia migraram para cidades industriais no norte da Espanha.

Atualmente, os polvorones são encontrados em toda a parte, como as tortas de carne moída na Inglaterra, o panetone na Itália e o stollen, um bolo de especiarias e frutas secas, na Alemanha. Estepa produz mais de 16.300 toneladas de confeitos – ou cerca de 300 gramas do produto por espanhol – gerando um faturamento de cerca de 40 milhões de euros.

Os polvorones de Estepa geralmente são embalados em caixas de um quilo e as versões padrão são vendidas por cerca de quatro euros. Os quatro ingredientes principais são farinha de trigo, açúcar, canela e banha. A banha ajudou a transformar os polvorones em uma especialidade de Natal, já que as famílias procuravam reciclar a gordura do porco depois dos abates tradicionais de novembro.

Quando está se preparando para o Natal, a La Estepeña possui 250 funcionários. Durante o resto do ano, são apenas cinco funcionários que ajudam a manter os equipamentos da fábrica, além de outros 17 fazendo a gestão e a administração.

Durante o pico de produção, a fábrica funciona em diversos turnos, seis dias por semana. Galván afirmou que alguns funcionários acabam trabalhando até 72 horas por semana. As fábricas de Estepa pagam cerca de 8 euros por hora nos turnos normais e mais 20 por cento pelas horas extras.

Nos chãos de fábrica em Estepa, os trabalhadores, em sua maioria mulheres, fazem a mesma coisa há décadas. Tradicionalmente, esse trabalho permite que as mulheres de Estepa complementem a renda familiar. Entretanto, desde 2008 "esse trabalho deixou de ser uma ajudinha e se transformou em sua principal fonte de renda", afirmou Rafael Fernández, secretário do órgão regulador que supervisiona o setor.

"Agora, esse trabalho realmente parece ser um milagre de Natal", afirmou Carmen Sánchez, de 58 anos. "O que mais alguém como eu poderia fazer, quando até mesmo pessoas de 20 e poucos anos e com alta escolaridade não encontram emprego em lugar nenhum?"

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