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 | Daniel Berehulak para The New York Times
| Foto: Daniel Berehulak para The New York Times
  • Veículo da Médicos Sem Fronteiras leva sobrevivente do ebola. Acima, ambulatório na Libéria

Quando o vírus do ebola começou a se espalhar em Serra Leoa, as autoridades fizeram um apelo urgente a Médicos Sem Fronteiras, deixando bem claro que, sem sua ajuda, o país mergulharia no caos.

"Pediram que fôssemos a todos os lugares. Não sabiam o que fazer", conta Walter Lorenzi, ex-coordenador da instituição em Serra Leoa. O grupo ergueu um centro de tratamento do zero, no meio da mata, em Kailahun, em apenas doze dias.

A Médicos Sem Fronteiras continua na linha de frente da luta contra o ebola na África Ocidental. Uma vez que o sistema de saúde pública local entrou em colapso, criou seis centros de tratamento e está cuidando da maioria dos pacientes.

Só que também está se expandindo: além de manter postos nas zonas de guerra e outras áreas de perigo, nas últimas semanas teve que se engajar ainda mais no combate à epidemia de ebola, triplicando o número de funcionários e convidando novos profissionais para se unir à causa.

"Decidimos crescer e fazer coisas que nunca havíamos tentado antes", afirma a Dra. Joanne Liu, presidente internacional do grupo, também conhecido como Médecins Sans Frontières.

Em Bruxelas, seu centro de distribuição, moderno e impecável, enviou centenas de milhares de máscaras, roupas protetoras, barracas e suprimentos médicos para a África ocidental nos últimos meses. Para superar os obstáculos, a equipe de logística está inovando, desenvolvendo estruturas equipadas para que os funcionários não morram de calor, sacos mortuários modernos que absorvem os fluidos infecciosos e procurando descobrir uma forma rápida de secar as botas de borracha constantemente molhadas por causa da desinfecção.

Os especialistas projetam os centros de tratamento de forma a ter uma única entrada e uma única saída, divisão bem definida entre as áreas de baixo e grande risco e espaço para os médicos e enfermeiros se observarem uns aos outros durante a remoção da roupa protetora.

E o grupo conta com legiões de voluntários e doadores, atraídos pelo histórico de insistência no princípio da independência e de oferecer assistência onde ninguém mais tem coragem de ir.

Outras agências de ajuda humanitária de vez em quando reclamam da arrogância dos integrantes da Médicos Sem Fronteiras, dos protocolos de segurança tão rígidos que soam até exagerados e do foco na ajuda imediata que pouco faz para dar apoio aos sistemas de saúde públicas locais a longo termo.

Porém, a organização — que ganhou o Prêmio Nobel em 1999 — não decepciona. Surgiu no fim dos anos 60, quando as forças nigerianas tentavam conter o movimento secessionista na Biafra. E quando o governo não permitiu que os médicos da Cruz Vermelha Francesa enviassem comida para a população do território rebelde, faminta, eles se revoltaram, rompendo o pacto de neutralidade e silêncio. A Médecins Sans Frontières foi criada para cuidar das pessoas que sofrem, estejam onde estiverem. Grande parte do US$1,3 bilhão de doações vem de cidadãos comuns; apenas nove por cento sai dos governos. Em 2013, enviou cerca de seis mil especialistas a 67 países e contratou trinta mil funcionários locais. Este ano, esses números estão inchando. Durante o surto de ebola, os pedidos comprovam a tarefa árdua a que a organização se propõe: pulseiras de identificação de pacientes com códigos de barra que suportem a exposição repetida ao cloro; um aspirador com potência industrial para sugar fluidos contaminados; um carrinho para transportar os cadáveres em terreno irregular. As equipes já estão enviando computadores para as áreas mais ermas para que os pacientes possam compartilhar os últimos momentos com suas famílias, além de fornecer 70 mil kits desinfetantes às famílias dos pacientes e outros.

"O ebola é como a ocorrência de um terremoto, só que permanente", compara o chefe da logística Jean Pletinckx.

Agora o grupo está decidindo para onde ir em Serra Leoa, Makeni ou Freetown. Na Libéria, país mais afetado, está trabalhando para melhorar seu centro de tratamento de 250 leitos, em Monróvia. Ali ninguém mais toma soro intravenoso para combater a desidratação por causa dos riscos aos enfermeiros e médicos.

"Sabemos muito bem o tipo de compromisso que temos que fazer, mas estamos tentando melhorar ainda mais nossa qualidade", afirma Christopher Stokes, diretor geral do escritório da organização na Bélgica.

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