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Filhote de tartaruga-cabeçuda equipado com minitransmissor de dados | Rebecca Scott
Filhote de tartaruga-cabeçuda equipado com minitransmissor de dados| Foto: Rebecca Scott

Quando filhotes de tartaruga-cabeçuda saem de seus ovos na praia de Boavista, na mais oriental das ilhas de Cabo Verde, elas se dirigem à água para iniciar algo que biólogos descrevem como um frenesi de natação.

A praia e as águas costeiras são cheias de predadores, e os filhotes são saborosos e indefesos. Eles precisam chegar às correntes oceânicas o quanto antes, para irem a águas menos perigosas.

Esse é o padrão seguido pelos filhotes de tartaruga marinha de modo geral, e os cientistas têm uma ideia das correntes em que elas se deslocam. Mas, até agora, eles não tinham uma maneira confiável de rastrear as sessões de natação das tartarugas ou de ver como elas enfrentam suas primeiras horas de vida.

Com a ajuda de uma nanoetiqueta, um artefato acústico minúsculo que pesa meio grama, Rebecca Scott e vários colegas obtiveram pela primeira vez um registro detalhado das primeiras horas de vida de tartarugas.

As informações aprofundam o conhecimento que se tem dessa espécie internacionalmente ameaçada.

"Pudemos rastrear tartarugas que acabavam de nascer, seguindo-as da praia até o mar aberto", contou Scott, pesquisadora do Centro Geomar Helmholtz de Pesquisas Oceânicas, de Kiel, Alemanha. "Sempre soubemos que as tartarugas são carregadas por correntes oceânicas, mas essa é a primeira vez que as acompanhamos no mar."

Scott prendeu minitransmissores a 11 filhotes na praia Boavista. Os aparelhinhos foram desenvolvidos pela Vemco, empresa da Nova Escócia, inicialmente para rastrear a primeira descida de salmões ao mar.

De um barco, os pesquisadores seguiram os filhotes de tartaruga por oito horas, ouvindo os sinais enviados pelos transmissores. Os filhotes nadaram até 14 quilômetros para chegar ao mar aberto. Os cientistas usaram o barco para afastar predadores, e dez dos filhotes sobreviveram —mais do que provavelmente teriam sobrevivido sem essa intervenção. "Deu muito trabalho", contou Scott. "O mar estava muito agitado, e tínhamos um barco de pesca muito velho."

A cientista disse que o uso dessas etiquetas em filhotes pode melhorar nossa compreensão sobre o comportamento das tartarugas logo após seu nascimento, trazendo descobertas que poderão ser somadas a trabalhos recentes que usam modelos computadorizados de correntes oceânicas para rastrear o percurso seguido pelos animais.

Das sete espécies de tartaruga marinha, seis estão ameaçadas ou em perigo de extinção. Logo, é necessário entender seu comportamento e suas migrações.

Scott e seus colegas também realizaram um experimento com filhotes de tartaruga nadando por uma semana numa área de mar calmo na praia de Boavista. Os filhotes usavam "arreios" minúsculos de Lycra, presos por uma linha monofilamentar a um aparelho que registrava quando eles estavam nadando.

O furor inicial de natação permaneceu constante por 24 horas, diminuindo fortemente na noite do segundo dia. Depois disso, os filhotes passaram a dormir à noite e não nadar.

Scott disse que filhotes de tartaruga-cabeçuda em um experimento semelhante conduzido por outros pesquisadores na Flórida, onde teriam que nadar mais para chegar a correntes oceânicas, não deixaram de nadar à noite. "Eles nascem sabendo o que precisam saber."

O trabalho foi publicado na "Proceedings of the Royal Society B: Biological Sciences".

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