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Novos estudos mostram que expor mais as crianças pobres à fala não basta para compensar o déficit que elas enfrentam | Katherine Taylor /The New York Times
Novos estudos mostram que expor mais as crianças pobres à fala não basta para compensar o déficit que elas enfrentam| Foto: Katherine Taylor /The New York Times

Já faz quase 20 anos que um histórico estudo educacional concluiu que, aos 3 anos, crianças oriundas de famílias de baixa renda haviam escutado 30 milhões de palavras a menos que crianças ricas, o que as colocavam em desvantagem educacional antes mesmo de irem para a escola.

Agora, cada vez mais pesquisas contestam a noção de que basta expor mais as crianças pobres à fala para que elas superem esse déficit. A qualidade da comunicação entre as crianças e seus pais e cuidadores é, segundo os especialistas, muito mais importante do que o número de palavras que uma criança escuta.

Um estudo apresentado no mês passado em uma conferência da Casa Branca sobre como "reduzir a disparidade" no uso da linguagem concluiu que, entre crianças de 2 anos oriundas de famílias de baixa renda, as interações de qualidade envolvendo palavras – o uso de símbolos partilhados ("Olha, um cachorro!"), os rituais ("Quer uma mamadeira depois do banho?") e a fluência conversacional ("Sim, aquilo é um ônibus!") – eram mais apropriadas do que qualquer outro fator para prever a aptidão linguística aos 3 anos.

"Não se trata apenas de apresentar as palavras", disse Kathryn Hirsh-Pasek, professor de psicologia na Universidade Temple, em Filadélfia, e coordenadora do estudo. "Trata-se de ter conversas fluentes em torno de rituais e objetos partilhados, como fingir que estão tomando café da manhã juntos e usando uma banana como telefone. É disso que a linguagem é feita."

Numa conclusão correlata, publicada em abril, pesquisadores que observaram bebês de 11 e 14 meses em suas casas concluíram que a prevalência das interações individuais e o uso frequente daquele tom de voz – agudo e lento – habitualmente usado com bebês eram indicadores confiáveis para prever a aptidão linguística aos 2 anos. O número total de palavras ditas não tinha correlação com a aptidão futura.

Mesmo o estudo de 1995 que introduziu a noção da disparidade de 30 milhões de palavras, conduzido pelos psicólogos Betty Hart e Todd Risley, da Universidade do Kansas, concluiu que o tom de voz adequado, a reatividade e o uso de símbolos afetavam o QI e o vocabulário da criança.

Mas os estudos deste ano foram os primeiros a comprar o impacto da quantidade de palavras com a qualidade da comunicação. As conclusões, segundo Patricia Kuhl, da Universidade de Washington, que participou do estudo de abril, sugerem que ativistas e educadores deveriam reconsiderar gritos de guerra como "eliminem a disparidade oral", que tendem a simplificar exageradamente os desafios que as crianças pobres enfrentam.

Para o novo estudo, Hirsh-Pasek e seus colegas selecionaram 60 crianças de baixa renda com 3 anos de idade e graus variados de proficiência linguística que haviam participado de um estudo mais amplo, de longo prazo, que acompanhou 1.300 crianças do nascimento aos 15 anos.

A qualidade da comunicação respondia por 27% da variação nas habilidades de expressão linguística um ano depois, segundo Hirsh-Pasek.

Mas os partidários de que os pais conversem mais com os filhos dizem que a maior quantidade de linguagem inevitavelmente leva a uma maior qualidade.

Anne Fernald, psicóloga do desenvolvimento na Universidade de Stanford, na Califórnia, disse que "quando você aprende a conversar mais, tende a falar de formas mais diversificadas e mais elaboradas, e isso ajuda no desenvolvimento cognitivo da criança". Mas Ann O’Leary, diretora da iniciativa Too Small to Fail ("pequenos demais para fracassar"), admitiu que as mensagens aos pais poderiam ir além da ênfase na qualidade.

"Quando fazemos essas campanhas para superar a disparidade das palavras, elas capturam a imaginação, levam as pessoas a entenderem que precisamos fazer muito mais do que falar", disse ela.

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