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Há séculos o Krampus corre pelo centro das cidadezinhas espalhando o medo às vésperas do Natal. Um deles gera diversão e pavor em Munique | Gordon Welters para The New York Times
Há séculos o Krampus corre pelo centro das cidadezinhas espalhando o medo às vésperas do Natal. Um deles gera diversão e pavor em Munique| Foto: Gordon Welters para The New York Times

Muito antes de os pais dividirem com o Papai Noel o monitoramento do comportamento dos filhos, quem mora nos vilarejos alpinos já contava com uma criatura peluda e de chifres para fazer os pequenos saberem que tinham que se comportar.

Tom Bierbaumer ainda se lembra do terror que sentia todo ano, em dezembro, quando o som dos chocalhos alertava para a chegada do Krampus, figura demoníaca das montanhas que atua como a versão malvada do bom velhinho – e começava a pensar no que tinha aprontado nos meses anteriores, como nas vezes em que se recusou a tirar a mesa do jantar, não terminou a lição de casa ou puxou o cabelo de alguma coleguinha de escola.

Bierbaumer, que cresceu nos Alpes da Baviera, é diretor de um clube em Munique, o Sparifankerl Pass, dedicado a manter viva a tradição. "Quando o Krampus chega à sua casa e você é criança, fica morrendo de medo de receber castigo", conta.

Além de ir de casa em casa com o Papai Noel, há séculos o Krampus corre pelo centro das cidadezinhas espalhando o medo às vésperas do Natal e espantando os maus espíritos. Conforme a sociedade foi se distanciando do passado rural, a tradição também começou a sumir – mas para evitar a homogeneização cultural que se espalha pela

Europa, a nova geração decidiu recuperar o costume.

Há dez anos, Bierbaumer, que tem 46, convenceu as autoridades de Munique a organizar o Krampuslauf, disputa na qual múltiplas versões do Krampus correm pelas fileiras de cabaninhas de madeira da feira natalina.

Somente a versão antiga da criatura mítica, além de suas primas, as Perchtas, pode participar. É preciso usar máscaras de madeira com chifres, se cobrir com pele de carneiro ou cabrito e levar um chicote, mesmo que só para exibição. Os clubes gastam de 1.800 a 2.500 euros, ou algo em torno de US$2,2 a US$3 mil por ano para comprar as fantasias, sempre feitas de material local.

Os organizadores calculam que a principal feira natalina da cidade este ano tenha atraído 1,7 milhão de pessoas só nas duas primeiras semanas.

Manhã de domingo, homens e mulheres cobertos de pelos reunidos no ponto de partida da corrida ao som dos tambores e chocalhos; Edeltraudt Danzing está ali para acompanhar a façanha. "É uma tradição pagã peculiar do vilarejo. Ainda bem que meus netos não estão aqui, teriam ficado horrorizados", diz ela.

Algumas crianças se escondiam entre as pernas dos pais quando os personagens chifrudos começaram a correr entre a multidão puxando a aba do boné sobre os olhos dos garotos ou passando as garras pelos cabelos das mulheres; outras, mais corajosas, corriam atrás do Krampus ou Perchta que passava para lhes beliscar o pelo, rindo de prazer com os urros ou a ameaça de uma chicotada da besta-fera.

"Manter o ritual da data é superimportante", comenta Günter Tschinder, integrante do Höfleiner Moorteufel de Carinthia, um dos 27 grupos que tomaram parte da corrida deste ano.

"É uma tradição que veio dos nossos bisavós e deve ser mantida e transmitida às gerações futuras – da maneira correta, como se fazia há 40, 50, 60 anos, e não com toda a carga comercial, como se fosse um filme de Hollywood", diz ele.

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