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Hillary Clinton deve se tornar a candidata presidencial do Partido Democrata em 2016, mas ela ainda tem um longo caminho pela frente | Daniel Acker para The New York Times
Hillary Clinton deve se tornar a candidata presidencial do Partido Democrata em 2016, mas ela ainda tem um longo caminho pela frente| Foto: Daniel Acker para The New York Times

Os democratas americanos levaram uma sova nas eleições legislativas recentes, mas isso pode jogar a favor deles na eleição presidencial de 2016.

Hillary Rodham Clinton, a favorita para se tornar a candidata presidencial de seu partido, provavelmente vai tratar os republicanos, que agora têm a maioria na Câmara e no Senado, como o partido do poder. Vai culpá-los pelos pontos fracos da economia e da política externa.

Enquanto o presidente Barack Obama tentou avançar fazendo concessões aos republicanos (e fracassou), Clinton é mais resistente e vai se retratar como líder mais resoluta. É provável, também, que ela se beneficie de um partido unificado, enquanto os republicanos estão gravemente divididos entre o bloco populista e profundamente conservador Tea Party e a facção mais convencional, representativa das grandes empresas. Não existem pré-candidatos democratas que rivalizem com Clinton, mas pelo menos cinco pré-candidatos republicanos sérios devem disputar a indicação de seu partido, permitindo prever que as primárias serão longas e cansativas.

Mas os democratas e Clinton podem ter que encarar um mal-estar mais profundo dos eleitores. Isso é paradoxal, dado que as pesquisas de opinião indicam que os eleitores concordam mais com os democratas do que com os republicanos sobre a maioria das questões.

Os eleitores apoiam os democratas para que estes usem o governo para o bem geral —isto é, quando os eleitores são favoráveis à presença do governo. Hoje, contudo, uma grande maioria encara o governo como sendo corrupto e indigno de confiança. Apenas um em cada cinco americanos concorda que é possível confiar no governo federal para fazer a coisa certa a maior parte do tempo. Em 2003, essa parcela era de 60%. Não se sabe se Hillary Clinton conseguirá reconquistar essa confiança perdida.

Apesar de ter sido secretária de Estado no governo Obama, ela já se distanciou do presidente, relativamente impopular. Numa entrevista à revista "The Atlantic", em agosto, Clinton criticou o fato de Obama não ter dado mais apoio aos rebeldes sírios, qualificando isso como uma causa direta da ascensão dos jihadistas conhecidos como Estado Islâmico.

As realizações de Obama incluem uma economia que está em processo de recuperação, um novo plano de saúde para quem não tinha convênio médico e a retirada das tropas terrestres americanas do Iraque, exatamente como ele prometeu. Apesar disso, sua popularidade está num ponto baixo quase recorde.

Para alguns analistas, os resultados da eleição representaram uma rejeição da personalidade e do estilo de liderança de Obama, visto por muitos como arredio e isolado. A eleição também foi um exemplo clássico de um padrão profundo na política americana: no sexto ano de uma Presidência, os eleitores inconstantes tendem a já estar fartos do presidente no poder. Esse padrão provocou grandes perdas legislativas para alguns presidentes de grande popularidade e que tiveram dois mandatos, como Ronald Reagan, Dwight D. Eisenhower e até Franklin D. Roosevelt. Todos foram reeleitos facilmente, mas seus partidos sofreram derrotas pesadas dois anos mais tarde.

Mas Hillary Clinton tem seus próprios pontos de vulnerabilidade. Para muitos americanos, ela é uma figura de uma era agora distante, os anos 1990. Em 2016, ela terá 69 anos. Seu marido, o ex-presidente Bill Clinton, é um estrategista brilhante, mas também é conhecido por criar problemas políticos com algumas de suas declarações. Alguns eleitores vão se perguntar se estarão elegendo um copresidente.

Os Clinton fundiram interesses beneficentes, financeiros e políticos na Fundação Clinton, que permitiu ao casal trocar favores com doadores ricos. Essas atividades podem oferecer um alvo de alto perfil para a imprensa e a oposição e podem sugerir uma candidata demasiado ligada às grandes empresas. Essa imagem remete a algumas das mesmas vulnerabilidades que afetam Obama.

O resgate dado por Obama aos grandes bancos pode ter ajudado a salvar a economia de uma segunda Grande Depressão, mas sugeriu uma proximidade excessiva do governo com Wall Street. Seu plano de reforma da saúde vai ajudar milhões de americanos a ter seguro-saúde, mas é complicado e frustrante de se usar, reforçando a narrativa republicana sobre a incompetência do governo democrata.

Nos Estados governados por republicanos, estes conseguiram erigir barreiras ao voto, como a exigência de documentos de identificação com foto, que prejudicam as minorias e os pobres. Mesmo onde não há obstáculos, poucos eleitores dos grupos que tendem a apoiar os democratas foram às urnas neste ano, aparentemente devido a uma insatisfação geral. Resta ver se Hillary, que tem o mesmo conjunto de assessores de Wall Street que o presidente, vai conseguir reconquistar o apoio desses eleitores.

Clinton pode ser mais vulnerável do que muitos imaginam. Ela também foi vista como a provável candidata democrata em 2008, mas foi derrotada por um novato. O caminho até novembro de 2016 será longo.

Robert Kuttner é co-editor da revista "The American Prospect" e membro do centro de estudos Demos.

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