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 | James Hill para The New York Times
| Foto: James Hill para The New York Times

Às margens do lago que fica no centro dessa cidade, situada nos Urais, um shopping center semi-construído aos poucos está se transformando em monumento a um homem e uma era de que poucos russos se lembram com carinho, mesmo na região onde ele nasceu.

O Centro Presidencial Boris N. Yeltsin, inspirado no modelo norte-americano que homenageia seus ex-presidentes, irá se tornar o primeiro no gênero em um país cuja história oficial geralmente reescreve ou sumariamente apaga o legado dos antigos líderes, em vez de celebrá-lo.

Considerando que o presidente Vladimir V. Putin fez mais ou menos o mesmo com Yeltsin — repudiando as políticas do homem que o tirou da obscuridade política para se tornar o segundo presidente da Rússia, em 1999 — o projeto é, no mínimo, incongruente.

"Duvido que o público se interesse", sentencia Yelena Gabareyeva, de 33 anos, no passeio em família ao lado do reservatório. E lamentou a "destruição" que sempre pareceu ligada ao legado de Yeltsin, pelo menos no imaginário popular.

Errático e cheio de vida, Yeltsin foi o primeiro líder eleito da Rússia, de 1991 a 1999, e ainda tem admiradores, é claro. "O objetivo é mostrar quem foi Boris Yeltsin, com suas boas e más qualidades: o que fazia, como chegou a Moscou, as mudanças que introduziu no país e o que a Rússia democrática tem a lhe agradecer", explica Vladimir N. Shevchenko, ex-chefe de protocolo do Kremlin e um dos envolvidos na criação do centro.

A inauguração está prevista para outubro e oferece aos russos a chance de reavaliar o verdadeiro alcance das conquistas e fracassos do ex-presidente. O fato de Yeltsin ter tido um papel vital na reviravolta política que acabou com a União Soviética é indiscutível, ao contrário das consequências de suas ações. Foi ele que introduziu um novo capítulo de liberdades democráticas e um certo capitalismo, sim, ao custo do caos, da alta criminalidade, uma guerra civil na Chechênia e uma oligarquia corrupta que enriqueceu poucos e deixou milhões na ruína.

Yekaterinburg, cidade de 1,3 milhão de habitantes a 1.500 km a leste de Moscou, foi uma escolha óbvia para a localização do centro, já que Yeltsin, que morreu em 2007, aos 76 anos, nasceu em Butka, um vilarejo a 240 quilômetros dali. Ele estudou em Yekaterinburg, na época conhecida como Sverdlovsk, e se destacou no partido Comunista a ponto de se tornar prefeito da cidade antes de se mudar para Moscou. Em exposição estarão a recriação do escritório no Kremlin — incluindo os móveis que foram retirados quando ele se saiu — assim como a da barricada em Moscou sobre a qual ele subiu com um tanque em agosto de 1991.

Na cidade, a impressão é a de que muitos não se interessam ou até desdenham de seu legado. Em 2012, o rosto da estátua que o representava foi pintado de azul.

Alla Selenova, que também passeava às margens do lago, é mais condescendente — e reconhece a má reputação de Yeltsin, mas ressalta sua importância histórica como o primeiro líder russo eleito. Em relação ao museu, apenas comentou: "Vai precisar de uma boa campanha de marketing".

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