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John Richardson, biógrafo de Picasso, é curador da mostra “Picasso &The Camera” na Galeria Gagosian | Todd Heisler/The New York Times
John Richardson, biógrafo de Picasso, é curador da mostra “Picasso &The Camera” na Galeria Gagosian| Foto: Todd Heisler/The New York Times

Como amigo de Picasso nos anos 50, época em que o artista morou no sul da França, John Richardson testemunhou bem mais que qualquer um.

Pode revelar histórias apimentadas sobre as escapadas sexuais do espanhol e relembra várias de suas manias: passar uma mistura de óleo aquecido com ramos de lavanda na cabeça para fazer o cabelo crescer; sua paixão por purê de bacalhau; sua aversão pela música clássica. E também descrever, com riqueza de detalhes, seus métodos de pintura, escultura e desenho.

Foi só recentemente, porém, que o autor da biografia de Picasso percebeu o papel que a fotografia teve na vida e no trabalho do mestre.

"É um tema que pouca gente investiga e provou ser muito mais complexo, fascinante e revelador que eu imaginava. Picasso sempre teve câmeras, na maioria Leicas, embora não se tenha encontrado nenhuma sobrevivente", diz Richardson.

Não foi o caso de milhares de fotos do artista e de uma seleção de seus filmes caseiros; Bernard Ruiz-Picasso, neto do artista, tem um verdadeiro tesouro, nunca exibido publicamente antes, que é a base de "Picasso & The Camera", na Galeria Gagosian, em Chelsea, mostra que inclui mais de 40 pinturas, 50 desenhos e 225 fotos.

Em uma sala são exibidos os filmes que ele fazia durante as férias, além de outros que mostram sua vida no Château Boisgeloup, sua casa na Normandia durante os anos 30. Um deles mostra Paul, Picasso e o filho de Olga Khokhlova, então com oito anos, vestido de toureiro com a babá, Mimi, se fazendo de touro, dedos na cabeça fingindo chifres. Há também um filme feito por Man Ray, em 1937, quando esteve com Picasso no sul da França.

"Picasso foi o artista mais fotografado da história e se tornou um ícone no mundo todo; no entanto, tirava fotos que hoje seriam consideradas selfies, posando em diferentes identidades: o dândi, o boêmio, o machão", explica Michael Cary, diretor da galeria.

Ele também lançou mão da câmera para registrar o progresso de suas esculturas.

"No caso das cabeças que fez, em 1931, dá para ver pelas fotos que ele tentou juntar duas delas para simular um beijo, como a famosa escultura de Brancusi de 1908", prossegue, referindo-se ao bloco em estilo primitivo do artista romeno que mostra duas figuras enroscadas. Há também uma sequência de imagens mostrando como Picasso levou as esculturas para o jardim de sua casa, em Boisgeloup, e fotografou todas, em seus pedestais, de ângulos diferentes, enquanto tentava aproximá-las.

"Até que ele desistiu; dois anos depois fez a pintura do beijo, que está aqui na exposição", afirma Richardson.

Em 1909, os primórdios do Cubismo começaram a surgir nas obras de Picasso. "Dá para perceber bem nas fotos que ele tirou na Horta de Ebro, na Espanha", explica Valentina Castellani, diretora da Gagosian. Foi lá que Picasso fez registros da paisagem, marcada por encostas irregulares e telhados retangulares e que hoje se acredita terem sido a inspiração para a pintura "Le Réservoir, Horta de Ebro", emprestada à galeria por David Rockefeller.

De longe, a descoberta mais surpreendente de Richardson foi o uso que Picasso fez de "L’Art en Grèce", livro de fotos de esculturas gregas antigas.

A mostra ilustra a forma como Picasso reinterpretou as imagens das estátuas em seu próprio vocabulário moderno.

"O detalhe mais revelador do livro é a forma como mostra que a fotografia realmente abriu os olhos de Picasso para as possibilidades da escultura moderna", conclui Richardson.

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