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Há alguns dias, Mahdi Taghizadeh realizou algo com que nunca sonhou: fez uma imagem de tela e compartilhou com seus seguidores no Twitter. "O pessoal ficou todo animado. Finalmente", comemorou o empresário digital.

O pequeno triunfo de Mahdi em uma calçada de Teerã é um dos primeiros resultados tangíveis de uma vitória rara do presidente iraniano, Hassan Rouhani, sobre os clérigos linha-dura que efetivamente controlam esse país. No final de agosto, surpreendentemente, o governo concedeu licenças 3G e 4G para as duas principais operadoras móveis locais, que agora correm para fornecer conexões de alta velocidade a milhões de assinantes.

Enquanto muitos iranianos há tempos usam software ilegal para obter acesso a sites proibidos como YouTube e Twitter, até agora as principais operadoras iranianas móveis tinham ordens de reduzir as velocidades da rede aponto de tornar impossível o uso de sites, as chamadas de vídeo e o envio de mensagens.

Há muito tempo Rouhani já pedia um alívio para o arrocho à Internet, mas teve um sucesso apenas limitado face à oposição da coalizão de clérigos, comandantes do Exército e políticos que alegavam qualquer redução na rigidez disseminaria ideias indesejadas. Desde os protestos que sacudiram as ruas da capital, em 2009, as autoridades fizeram questão que os ativistas não pudessem contar com a Internet para se organizar.

Em pronunciamento recente, Rouhani afirmou que os dias dos métodos de controle ilimitado estavam contados. "Não podemos fechar os portões do mundo para as nossas gerações mais novas", disse ele, segundo a agência de notícias estatal.

Há alguns meses, o governo permitiu que as empresas de telefonia aumentassem a largura de banda para as conexões domiciliares, oferecendo tráfego de dados a 10 megabit/s, o que permite aos usuários ver e enviar vídeos, embora seja uma velocidade ainda considerada lenta comparada a dos EUA, de 30 megabits/s, e da Coreia do Sul, a 55.

Os clérigos xiitas declararam que a TV por satélite era ilegal e censuraram milhões de site em uma tentativa não tão bem-sucedida de proteger seu rebanho das tecnologias modernas. A era da informação, porém, já os divide: enquanto alguns acreditam que a rede seja útil para a ciência, outros ainda insistem em supervisioná-la.

A obsessão com o controle se estende até aos termos usados na pesquisa. Até pouco tempo atrás, quem digitasse "mulheres" no Google era redirecionado para um site que dizia: "Com base na legislação de crime cibernético, o acesso a esse site foi negado". O Parlamento pressionou o Ministro das Comunicações e exigiu que ele "reduzisse a velocidade da Internet".

Embora satisfeitos com as mudanças, muitos iranianos continuam frustrados com a limitação do uso da Internet imposta pelo governo.

"Temos que encontrar formas de aceitar as restrições. Eles já chegaram a declarar que o videocassete era ilegal e olha que ridículo parece essa decisão hoje. É assim que vamos nos sentir sobre este período no futuro", filosofa Movarid, de 28 anos, que se recusou a dar seu sobrenome.

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