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| Foto: michelle v. agins/The New York Times

"Volta para a caverna, dinossauro!", disse a britânica Sian Edwards ao telefone, rindo, divertida.

A frase foi resposta a alguns comentários retrógrados feitos por músicos até respeitados em relação às maestrinas. Em agosto, o jovem maestro russo Vasily Petrenko disse: "Uma garota bonita no pódio pode estimular outros tipos de pensamento".

Logo depois, veio a polêmica sobre os comentários que Bruno Mantovani, compositor e diretor do Conservatório de Música e Dança de Paris, fez num programa de rádio: "Às vezes, as mulheres se desencorajam pelo simples aspecto físico da coisa, tipo reger, pegar um avião, pegar outro, reger novamente". Para completar, o crítico nova-iorquino Alex Ross traduziu a entrevista concedida pelo russo Yuri Temirkanov, um dos mentores de Petrenko, no ano passado: "A essência da profissão de regente é a força; a da mulher é a fraqueza".

Essa sequência de pérolas, em pleno ano de 2013, chamou a atenção para a situação das mulheres nesse ramo. De acordo com a Liga das Orquestras Norte-Americanas, das 103 com maiores orçamentos, apenas doze são regidas por mulheres; entre as 22 melhores, só uma tem uma regente feminina.

Em 16 de dezembro, a britânica Jane Glover estreou liderando a Metropolitan Opera como a terceira maestrina a fazer parte dos 133 anos de história da companhia.

Os números das orquestras são um pouco melhores, mas mais da metade das vinte de maior destaque não teve maestrinas convidadas nem nesta temporada nem na anterior e somente cinco contaram com mulheres em ambas.

Entrevistas recentes com maestros, empresários e professores sugerem que o que impede a igualdade nem é tanto o machismo explícito, mas sim as mudanças gradativas da sociedade em relação à aparência da liderança.

"Tenho consciência de que não pareço a maestrina padrão", admite Gemma New, de 26 anos, da Orquestra Sinfônica de Nova Jersey. "Tenho cara de novinha. Muita gente pergunta que faculdade estou cursando! Mas quando começamos a conversar ou essas pessoas têm a chance de ver meu trabalho, mudam de ideia rapidinho."

Em 2007, Marin Alsop se tornou diretora de música da Orquestra Sinfônica de Baltimore, a primeira mulher a assumir um conjunto de primeiro escalão. Falando por telefone do Brasil, onde ocupa o mesmo cargo na Sinfônica de São Paulo, ela comenta: "Quando comecei, eu achava que seria natural ver cada vez mais mulheres entrando nesse campo, mas é estranho porque os números na realidade praticamente não mudaram em dez, vinte ou trinta anos".

A maestrina Anne Manson diz: "Meu empresário conversou com uma companhia de ópera britânica e ouviu algo do tipo: ‘Nós nunca colocaríamos uma mulher à frente dessa orquestra. Ela seria devorada viva’". Laura Jackson afirma que, no início dos anos 90, ouviu da representante de uma orquestra da Nova Inglaterra que "eles não trabalhavam com mulheres na regência".

Alsop completa dizendo que, como as referências físicas sempre foram masculinas, há o agravante de como exatamente se deve reger. "Quando um homem faz um gesto forte, é visto como masculino e viril; se a mulher faz o mesmo, é considerada agressiva e controladora. É muito difícil, mas tento desassociar meus gestos do meu sexo."

Quanto tempo vai levar para se atingir um equilíbrio? Edwards, que recentemente se tornou maestrina principal da Academia Real de Música da Inglaterra, prevê que as classes com números aproximados de homens e mulheres vão começar a surgir nos conservatórios nos próximos vinte ou trinta anos.

Atualmente ela participa de um curso piloto no Morley College, um centro de educação continuada em Londres cujo objetivo é atrair as meninas para a profissão de regente.

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