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Carlos Lyra no Rio de Janeiro em abril | Andre Vieira/The New York Times
Carlos Lyra no Rio de Janeiro em abril| Foto: Andre Vieira/The New York Times

Quase 60 anos se passaram desde que a bossa nova surgiu no Rio de Janeiro. Para a maioria, esse som cool e minimalista, com sua batida insinuante, ainda define o Brasil. No país, no entanto, a música é respeitada, mas vista com certa nostalgia.

Porém, para Carlos Lyra, que escreveu e cantou muitas das canções mais famosas, a bossa ainda é o ápice de elegância e finesse, e ele a vê como símbolo de um tempo em que esse tipo de coisa era importante no Brasil.

O compositor mais famoso da bossa nova, Antônio Carlos Jobim, uma vez chamou Lyra de “um grande melodista, harmonista, rei do ritmo, da síncope, da ginga” e “singular, sem igual”. Porém, ao contrário de Jobim, cuja “Garota de Ipanema” trouxe fama mundial para ele e para a bossa nova em 1964, Lyra não teve nenhum sucesso comparável.

Agora com 82 anos, ele compõe e se apresenta quando tem vontade, e foi para os Estados Unidos em maio para um show do “Bossabrasil”, no clube de jazz Birdland, em Manhattan.

Ele vê sua juventude como um oásis, governado por Juscelino Kubitschek, presidente democrático que fomentou a cultura. “Tudo era lindo”, ele disse.

Lyra nasceu privilegiado. Vivendo na elegante Zona Sul do Rio de Janeiro, ele estudou violão clássico e gostava de Debussy, Ravel, Villa-Lobos e do cinema americano.

Em 1958, nasceu a bossa nova. A maioria das músicas fala sobre a boa vida carioca, o romance inconsequente e a doçura do desespero. As de Lyra também falam sobre isso, mas exploraram questões mais sérias, como a dificuldade da vida nas favelas.

Em 21 de novembro de 1962, ele era parte do grupo dos fundadores da bossa nova que se apresentou no Carnegie Hall. Essa hoje lendária apresentação lançou a música como produto de exportação brasileiro. As canções de Lyra, começando com seu primeiro sucesso, “Maria Ninguém”, apareceram em inúmeros discos.

Ele se juntou ao Partido Comunista — uma atitude arriscada, pois o Brasil tinha então um presidente socialista, João Goulart, cujas suspeitas de ligações comunistas haviam provocado uma profunda tensão política.

No dia 31 de março de 1964, um golpe militar derrubou Goulart e iniciou uma ditadura. Lyra estava entre os primeiros artistas a fugir.

Ele se mudou para Nova York e depois para o México, onde permaneceu por cinco anos. Quando voltou com a esposa americana que conheceu no México, Katherine Riddell, uma nova onda de rebeldes pop havia posto a bossa nova de lado.

Revoltado com o Brasil em meados da década de 70, Lyra levou sua esposa e sua filha, Kay, para viver em Los Angeles. Depois de alguns anos, voltou ao Brasil. A ditadura terminara em 1985, mas para Lyra, o estrago estava feito.

“O Brasil nunca mais se reergueu. Está mal, bem mal. A cultura agora não tem profundidade. Outro dia, ouvi tocarem minhas músicas no elevador. Na cena musical atual, prefiro ouvir música no elevador que no rádio.”

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