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Canhoneira faz patrulha, integram uma operação de segurança enorme para os Jogos Olímpicos de Sochi | James Hill para The New York Times
Canhoneira faz patrulha, integram uma operação de segurança enorme para os Jogos Olímpicos de Sochi| Foto: James Hill para The New York Times
  • A segurança dos Jogos Olímpicos ganhou caráter de urgência após dois atentados suicidas em dezembro em Volgogrado

Sochi pode ser a cidade mais segura da Rússia agora.

Enquanto a investida frenética na construção fervilhava nas semanas que antecedem a abertura das Olimpíadas de Inverno, o governo do presidente russo, Vladimir V. Putin, colocava em ação o que autoridades e especialistas descreveram como o mais reforçado aparato de segurança na história do evento, que, para os críticos, ameaça reduzir o espírito dos jogos.

Além de empregar dezenas de milhares de policiais e reforços militares na área de Sochi, o governo apertou o controle dentro da cidade antes da abertura dos jogos, marcada para sete de fevereiro, proibindo veículos não registrados na região e exigindo que os russos visitando a região registrem-se na polícia em questão de três dias, como devem fazer os estrangeiros.

A ameaça de terrorismo se tornou uma realidade sombria dos grandes eventos esportivos, das maratonas, na esteira do atentado a bomba em Boston no ano passado, ao Super Bowl deste ano, em dois de fevereiro, em Meadowlands, Nova Jersey.

Com os Jogos Olímpicos de Inverno sendo realizados nos arredores de uma insurgência islâmica que vem cozinhando em fogo baixo logo além da Cordilheira do Cáucaso, a ameaça aqui é iminente, bem como os preparativos russos.

"Eles tentaram criar um país independente", afirmou Mark Galeotti, professor da Universidade de Nova York que realiza pesquisas em Moscou, e é especialista nas forças de segurança russas. "Ao menos por enquanto, Sochi foi separada do resto do mundo."

Embora os planos estejam em andamento há anos, eles ganharam nova urgência depois que dois atentados suicidas à bomba mataram 34 pessoas em Volgogrado, em dezembro. Os criminosos ainda não são conhecidos.

Em resposta aos atentados, as autoridades proibiram qualquer quantidade de bebida em todos os voos na Rússia e, em Sochi, a polícia e os guardas da fronteira acentuaram a vistoria em todas as estações ferroviárias. A principal estação, um prédio neoclássico da era de Stalin, agora conta com uma estrutura temporária para verificar todos os passageiros e malas antes que entrem no terminal. Cercas novas impedem o acesso à estação.

Dezenas de milhares de câmeras de vigilância estão colocadas em praticamente todo espaço público, monitoradas 24 horas por dia de um centro de controle dentro do que antes foi um auditório do Partido Comunista na cidade durante o período soviético. "Tudo está sendo feito para todos nesta cidade se sentirem em casa e seguros", afirmou Sergei V. Cherepov, diretor do centro, virando-se para fazer um som de cuspida sobre o ombro, gesto russo cuja intenção é trazer boa sorte.

Os espectadores olímpicos devem solicitar um passe que trará suas fotografias e informação biográfica que escâneres lerão instantaneamente. Somente quem tiver passe e ingresso poderá entrar nas áreas olímpicas. De forma irônica, críticos chamaram os passes de "ausweise de torcedor", usando a palavra alemã para os cartões de identificação que têm a conotação sombria da ocupação nazista durante a II Guerra Mundial.

Dois jornalistas russos, Andrei Soldatov e Irina Borogan, registraram os esforços do Serviço de Segurança Federal para atualizar o sistema de escuta do país, conhecido como SORM, para monitorar praticamente todas as comunicações em Sochi.

Algumas providências devem servir como meios de dissuasão. Baterias antiaéreas foram instaladas de Tuapse à fronteira com a Geórgia, somente a cinco quilômetros dos estádios. Navios de guerra vão patrulhar ao largo da costa. Porém, Putin afirmou que seriam adotadas medidas para que outras medidas de segurança não se tornassem "perceptíveis demais".

Na Vila Olímpica, cercas impedem acesso a estádios e arenas onde os organizadores esperam que mais de 80 mil pessoas se reúnam todos os dias, com perto de 40 mil por dia nos espaços nas montanhas ao redor do vilarejo de Krasnaya Polyana.

Pontos de controle averiguam os veículos com permissão para entrar no centro olímpico, dando a impressão de ser uma zona fortificada. Editorial publicado pelo jornal "Vedomosti" lamentou que embora Sochi pudesse ser "o lugar mais seguro do mundo", os jogos seriam "insensíveis e frios" por conta das medidas de segurança.

O dr. Galeotti disse que os 50 mil policiais e soldados empregados em Sochi representavam o dobro dos utilizados durante as Olímpiadas de Londres, em 2012, embora a população londrina seja mais de 20 vezes maior do que a Sochi. "O que mostra o quanto a Rússia está apostando nisso."

As forças foram aumentadas com o emprego de cossacos, os guerreiros a cavalo que antes patrulhavam a fronteira da Rússia e que experimentaram um retorno recente como uma espécie de vigia de bairro no sul do país. Centenas se mudaram para a Vila Olímpica, juntando-se à polícia em patrulhas a pé com seus tradicionais chapéus de lã e calças folgadas para montaria – embora sem armas, "nem mesmo nossos chicotes", disse o subcomandante do grupo, Valery V. Yefremov.

Há quem reclame que o governo tenha usado o pretexto da segurança para abafar a oposição. A princípio, Putin proibiu todas as manifestações públicas, mas sob a pressão do Comitê Olímpico Internacional, ele modificou as restrições para permitir protestos em um parque em Khosta, 11 quilômetros ao norte da Vila Olímpica.

Yevgeny Vitishko, ambientalista condenado por vandalismo depois de protestar contra a construção de uma cerca em parques protegidos, disse que as autoridades já fizeram tanta coisa para suprimir as críticas que a zona de protesto era um gesto sem sentido.

"A sociedade civil que poderia ter se reunido num local como esse já foi destruída", garantiu.

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