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“Eu quis mostrar às pessoas que suas previsões estavam erradas. É isso que me motiva” | Michel Degroot /The New York Times
“Eu quis mostrar às pessoas que suas previsões estavam erradas. É isso que me motiva”| Foto: Michel Degroot /The New York Times

Michaela DePrince, bailarina americana de 20 anos de idade que em agosto passou a integrar o Balé Nacional da Holanda, é, sob alguns aspectos, o equivalente a uma dançarina do grupo de artistas de um musical da Broadway.

Mas, todas as noites, muitas pessoas assistem ao balé apenas para vê-la dançar.

Ela perdeu seus pais durante a guerra em Serra Leoa e superou diversos obstáculos para se tornar bailarina. Mas virou celebridade somente em 2014, quando seu livro de memórias foi publicado nos EUA e em outros países sob o título “Hope in a Ballet Shoe” (Esperança em uma sapatilha de balé).

Nos últimos meses, “houve uma enxurrada de pedidos de apresentações individuais, entrevistas e talk shows”, contou o diretor artístico da companhia de balé, Ted Brandsen. DePrince foi convidada para ser modelo de grifes, porta-voz de organizações humanitárias internacionais e até embaixadora cultural da embaixada de Serra Leoa na Holanda. Ela recusou todos os convites.

É uma vida muito diferente do que qualquer pessoa poderia ter previsto para ela.

Michaela nasceu com o nome de Mabinty Bangura em 1995, durante uma guerra civil que se arrastou por 11 anos e deixou 50 mil mortos, incluindo seu pai, quando ela tinha três anos. Mabinty e sua mãe se mudaram para a casa de um tio, que lhes dava tão pouca comida que sua mãe morreu de inanição. Então o tio deixou a criança em um orfanato.

Ali, Mabinty foi apelidada de “filha do diabo”. Diziam-lhe que ela era “feia demais” para ser adotada, devido às manchas brancas em seu pescoço e peito, causadas por um problema de pele.

Mas um dia os ventos alísios da África Ocidental levaram uma revista ao orfanato. A capa mostrava uma bailarina de saia cor-de-rosa, com a perna dobrada numa postura elegante.

Mabinty, que tinha quatro anos, ficou fascinada e jurou que um dia seria como a menina da foto. Na época, ela nem sequer sabia o que era balé.

Esse relato vem de seu livro de memórias, que ela escreveu com a mãe adotiva, Elaine DePrince.

Em 2012, ela foi uma das várias dançarinas de balé mostradas no documentário “First Position”, de Bess Kargman, sobre participantes do concurso Youth America Grand Prix, que lhe valeu uma bolsa de estudos na American Ballet Theater School.

Michaela DePrince contou sua história numa palestra da TEDx em Amsterdã em novembro que já foi vista cerca de 25 mil vezes.

Ela também vem impressionando o público do balé. Semanas depois de ingressar na companhia holandesa, ela teve a oportunidade de dançar um papel de solista em “Lago dos Cisnes”. De acordo com Brandsen, “ficou claro para todos que essa moça estava fazendo o que deveria fazer”.

Ele contratou DePrince para a companhia júnior um ano e meio atrás, após uma audição aberta, e ela subiu na companhia rapidamente. Num programa de quatro balés contemporâneos, ela já tem dois papéis de solista confirmados. “Eu sempre quis mostrar às pessoas que suas previsões estavam erradas. É isso que me motiva”, disse DePrince.

Com o Balé Nacional da Holanda, no qual 30 nacionalidades estão representadas, ela diz que chegou ao lugar certo. “As companhias de dança da Europa produzem obras contemporâneas incríveis”, comentou.

Ninguém se surpreende tanto com sua celebridade repentina quanto a própria Michaela, que diz não gostar de falar de sua infância. “Quando começou, eu pensava ‘por que vocês estão interessados?’.” Mas, depois de receber mensagens de meninas jovens, suas mães e pessoas na África, ela diz que passou a entender. “Este é meu modo de me comunicar com as pessoas”, disse. “É meu jeito de lhes levar inspiração.”

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