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Afegãos viciados em heroína criam um verdadeiro espetáculo para os curiosos em uma ponte de Cabul | Brayan Denton/The New York Times
Afegãos viciados em heroína criam um verdadeiro espetáculo para os curiosos em uma ponte de Cabul| Foto: Brayan Denton/The New York Times

Toda tarde os curiosos se reúnem em uma ponte na região oeste da cidade, não para admirar o rio Cabul, mas observar as figuras agrupadas às suas margens, cheias de lixo.

Alguns dos homens que ali se encontram balançam o corpo para frente e para trás; outros ficam sentados, cobertor sobre a cabeça, protegendo o fósforo aceso do vento e escondendo o rosto encovado dos que estão sobre eles.

É aí que os viciados em heroína da capital, cada vez em maior número, se juntam para fumar, injetar e, às vezes morrer – quase sempre na frente de uma verdadeira plateia.

O cultivo da papoula, principal ingrediente do ópio, disparou no país durante a guerra e, consequentemente os níveis do vício o acompanharam.

"Ficamos de olho só para ver o que vai acontecer com essa gente", admite Ali Juma, um peão de obra de trinta anos.

Há pouco tempo os observadores ficaram fascinados por um rapaz que parecia morto, já que seu corpo retorcido não tinha se mexido desde que tinham chegado ali, mas depois de um tempo, resolveram voltar a olhar os vivos.

"Olha só o estado daquele sujeito. Por que as pessoas vivem assim?", questiona Abdul Qadir, apontando para um homem que mal conseguia parar em pé perto de outro, que alisava um pedaço de papel alumínio usado para fumar heroína.

Abdul estava indo para casa um dia quando resolveu parar para ver os viciados, o que já virou parte de sua rotina. "Não é sempre, mas paro aqui com frequência, sim", confessa o motorista de 32 anos.

Um vendedor de maçãs chamado Ahmed Javid disse que sentia muita pena; para ele, os viciados são vítimas de problemas sociais mais abrangentes. "Eles sofrem muito.

Alguns se viciaram quando trabalhavam no Irã; outros, por causa de más amizades".

Muitos observadores culpam o governo por omissão.

"É constrangedor ver que o governo não está fazendo nada para ajudar esses pobres coitados. Não sei como as autoridades dormem à noite, sem nem pensar na agonia de seus conterrâneos", diz o soldado Faz ul-Din.

Na verdade, o governo pretende levar os dependentes para outro local, para passarem por reabilitação. O centro de tratamento será em Camp Phoenix, antiga base militar dos EUA.

Oficiais norte-americanos calculam que cerca de 2,7 por cento dos adultos no Afeganistão seja usuário de ópio, um dos níveis mais altos do mundo.

Para os especialistas, ele se deve ao aumento do cultivo da papoula em todo o país e à proliferação dos laboratórios que transformam a pasta de ópio em heroína.

Por enquanto, porém, os acampamentos a céu aberto ainda são novidade para muitos e parecem atrair mais atenção que outras formas de sofrimento.

Como a mulher de burca que esmolava entre os carros, o filho pequeno sentado em um buraco no meio da rua, perigosamente próximo aos pneus dos carros que passavam, praticamente invisível para a maioria; no entanto, ali perto um adolescente se ajoelhava ao lado de um viciado idoso que dormia – e acabou tirando uma foto do homem com o celular.

Contribuiu Ahmad Shakib

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