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Dá para esperar. A frase do momento, popularizada pela gigante norte-americana das telecomunicações AT&T em sua campanha de utilidade pública, pede aos motoristas que limitem o uso do celular.

Só que muitos não podem se dar a esse luxo: são os que trabalham para o Uber e seus concorrentes que, para faturar, têm que responder imediatamente às chamadas sem pensar nas condições do trânsito ou na segurança.

Quando o motorista recebe uma requisição de serviço – que reconhece por causa do bipe alto – tem apenas quinze segundos para aceitar a corrida, ou seja, tem que olhar para o telefone, avaliar a distância e tomar a decisão. Se ultrapassar essa marca, o pedido vai para outra pessoa. Não é preciso ser especialista em segurança para saber do perigo quando o telefone – que por si só é uma fonte de grande distração – se torna o meio essencial de transação. E o Uber não é o único, já que um sistema semelhante é utilizado pela Lyft; outros, ainda mais exigentes, começam a ser aplicados por um número cada vez maior de profissionais.

Em San Francisco, onde nasceu o Uber, cidade considerada um centro de inovação de serviços de transporte, os taxistas usam um software chamado Flywheel que pretende competir com o Uber. Ele funciona assim: quando um cliente pede um táxi, uma mensagem é enviada a vários carros nas proximidades; quem for mais rápido em responder ao aplicativo fica com a corrida. Se ninguém reagir em vinte segundos, o pedido vai para outro grupo.

Para os especialistas e legisladores que estudam as distrações ao volante, o sistema coloca os taxistas em uma posição difícil: é atender ou perder dinheiro. "É um serviço condicionado: você recebe a chamada, responde, faz a corrida, recebe por ela", explica Deborah Hersman, ex-presidente do Comitê Nacional de Segurança no Transporte, que é uma agência do governo norte-americano. Reagir ao aparelho exige atenção visual, manual e cognitiva, explica ela. "Não há dúvida de que distrai muito".

Mesmo quem faz parte do setor diz que há motivos de sobra para uma pausa: ao ser perguntado se a demanda por atenção imediata poderia ser perigosa para os motoristas, o CEO da Flywheel, Rakesh Mathur, admitiu que sim. E acrescentou: "É preciso criar uma opção mais segura, como algum tipo de tecnologia de ativação por voz".

Porém, acrescentou que não tinha conhecimento de nenhum problema relacionado ao uso do aplicativo – e nem há relatos de acidentes causados por motoristas do Uber.

Esse último, por sinal, divulgou uma nota, afirmando que seu aplicativo foi criado "priorizando a segurança" e que o motorista não precisa olhar para o telefone para aceitar a corrida, basta responder ao tom audível tocando em qualquer local da superfície da tela. A concorrente Lyft afirma que "a segurança é sua prioridade e que a seus motoristas é pedido o uso da navegação hands-free, uma base para o aparelho e a prática da direção segura".

Em dezembro, o motorista do Uber Syed Muzaffar, que matou uma menina de seis anos em uma faixa de pedestres em San Francisco, foi acusado de homicídio culposo, mas ainda não se conseguiu provar se ele usava o software no momento do acidente.

Abdoulrahime Diallo, que trabalha no Uber de Nova York, afirma que o aplicativo nunca lhe causou dificuldades porque é só uma questão de tocar a tela para aceitar a corrida e ver o destino. Ao mesmo tempo, ele explica que o serviço dificulta a vida dos motoristas, que podem até sofrer suspensão por ignorarem ou recusarem corridas. A lógica da empresa é a de que quem está conectado deve estar disposto a aceitar qualquer coisa.

David Bruder, que trabalha em meio-período para o Uber em Palm Springs, na Califórnia, diz que, embora não tenha problemas de distração, preferia ter mais tempo para decidir.

"Não precisava muito, cinco segundos a mais já estaria ótimo. Que diferença cinco segundos vai fazer para o cliente?", questiona ele.

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