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Os ovos de macuco são até 14 vezes mais brilhantes que o ovo de galinha tradicional | Fred R. Conrad/The New York Times
Os ovos de macuco são até 14 vezes mais brilhantes que o ovo de galinha tradicional| Foto: Fred R. Conrad/The New York Times

Quando se trata de cor da casca, a maioria dos ovos de aves traz um dos quatro motivos: marrom com manchas, sem manchas, branco com manchas ou branco puro. Porém, há uma exceção notável: os ovos do macuco, um pássaro terrestre tímido nativo da América Central e do Sul. Os macucos, que parecem um cruzamento entre uma galinha-d’angola e um papa-léguas, misturam-se à paisagem da floresta por causa de sua plumagem uniforme em tons de marrom e cinza. Mas eles produzem algumas das cascas de ovos mais espetaculares do mundo, em cores como azul, verde limão e chocolate, e tão brilhantes que até refletem as árvores e os arbustos ao seu redor.

Agora, um estudo no The Journal of the Royal Society Interface traz um olhar mais atento aos ovos do macuco e descobre que eles possuem iridescência e uma estrutura singular — o único exemplo conhecido já encontrado em cascas de ovos. "Trabalhar com esses ovos foi, para mim, como virar um artista", disse Mark E. Hauber, especialista em comportamento animal do Hunter College, em Nova York, e autor de "The Book of Eggs" (O livro dos Ovos).

Para revelar os segredos estruturais da aparência de cerâmica dos ovos, Hauber e seus colegas primeiramente reuniram exemplares verdes, azuis, marrons escuros e marrons claros de quatro espécies de macucos. A princípio, havia a hipótese de que os ovos possuíam um pigmento especial. Mas análises químicas encontraram pigmentos semelhantes aos das de outras aves.

Então, os pesquisadores examinaram a cutícula dos ovos, uma das camadas externas. Eles quantificaram a suavidade dessa cutícula em escala nanométrica e mediram o brilho da superfície quase espelhada, descobrindo que ovos de macuco são até 14 vezes mais brilhantes que o da galinha tradicional. Um teste de espectroscópio revelou também que os ovos azuis eram iridescentes (os ovos verdes e marrons eram brilhantes demais para o espectroscópio o que comprometeria a precisão das medidas). Finalmente, a equipe dissolveu a cutícula usando um solvente à base de ácido e descobriu que o brilho e a iridescência desapareceram, deixando o ovo parecido com um de galinha, embora ainda com cores vibrantes.

A suavidade produzida em escala nanoestrutural dá o brilho aos ovos, concluiu a equipe, e essas mesmas estruturas minúsculas são provavelmente responsáveis pela iridescência "Esse efeito não foi anteriormente documentado em nenhum outro ovo de pássaro", disse Branislav Igic, ornitólogo na Universidade de Akron, em Ohio.

Não se sabe o motivo pelo qual o macuco desenvolveu ovos tão brilhantes e lustrosos, mas os autores suspeitam que possa haver algo relacionado ao comportamento de acasalamento. Ao contrário da maioria das aves, os macucos masculinos assumem a responsabilidade pela incubação de ovos, e um único ninho pode conter ovos de várias fêmeas. Os ovos parecem atuar como um atrativo sexual, sugerindo que a cor possa ter evoluído para chamar a atenção da fêmea. Por outro lado, as fêmeas podem produzir ovos coloridos para se certificar de que os machos irão guardar o ninho, caso contrário este seria avistado por predadores. Ou, finalmente, o brilho dos ovos pode ser apenas um subproduto de mecanismos de defesa que evoluiu para protegê-los da água ou de micróbios, por exemplo.

"Seria interessante ver mais trabalhos examinando essa evolução, mas tais experiências são muito difíceis de testar ao natural", disse John Bates, curador de aves do Museu Field de História Natural em Chicago. Ou, como disse Hauber: "Precisamos encontrar uma maneira de perguntar às aves: ‘Vocês ligam para o brilho e a cor do ovo?’"

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