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Uma autoridade advertiu que o Paquistão pode se tornar “um país carente de água”. Uma garota pegando água para sua família em uma favela de Islamabad | Faisal Mahmood/Reuters
Uma autoridade advertiu que o Paquistão pode se tornar “um país carente de água”. Uma garota pegando água para sua família em uma favela de Islamabad| Foto: Faisal Mahmood/Reuters

Paquistaneses, com sua economia abalada pela crônica falta de combustível e de eletricidade, logo poderão ter que enfrentar uma nova crise: uma grande escassez de água, alertou recentemente o governo paquistanês.

Uma combinação da mudança climática global e o desperdício e a má gestão local levaram a um alarmantemente rápido esgotamento do abastecimento de água do Paquistão, disse o ministro da Água e Energia, Khawaja Muhammad Asif. “Na situação atual, nos próximos seis ou sete anos, o Paquistão pode se transformar um país carente de água”, disse Asif.

A perspectiva de uma grande crise de água no Paquistão constitui um desafio adicional ao primeiro-ministro Nawaz Sharif, cujo governo está sendo duramente criticado por não conseguir solucionar a crise de energia elétrica do país.

A agricultura é um dos alicerces da economia paquistanesa. O Rio de Indo, de 3.200 km de extensão, que nasce no Himalaia e corre pelo país, alimenta uma vasta rede de canais de irrigação que passa por campos de trigo, verduras e algodão, todas as principais fontes de divisas. No norte, hidrelétricas são a base do sistema de geração de energia.

Uma combinação de derretimento de geleiras, diminuição da chuva e má gestão crônica colocou o abastecimento de água em perigo, dizem os especialistas. Em um relatório publicado em 2013, o Banco Asiático de Desenvolvimento descreveu o Paquistão como um dos países com maior “problema de água” do mundo, com uma disponibilidade de mil metros cúbicos por pessoa por ano — um quinto do volume desde sua independência em 1947, e aproximadamente o mesmo nível da Etiópia, atingida pela seca.

O governo de Sharif já luta com a crise de eletricidade aparentemente intratável, que regularmente provoca apagões de 10 horas por dia até mesmo nas grandes cidades. Asif disse que o governo já havia passado do ponto crítico. Mas reconheceu que os problemas de recursos do país eram, em grande medida, endêmicos. “Há um hábito nacional de desperdício”, disse ele, acrescentando que isso se estende por outros recursos como gasolina, eletricidade ou água.

A água também está ligada à política nacionalista, até mesmo jihadista, do Paquistão. Durante anos, conservadores religiosos e militantes islâmicos acusaram a rival Índia, onde nasce o sistema do Rio Indo, de restringir o abastecimento de água do Paquistão. Hafiz Saeed, líder do grupo militante que realizou os ataques de 2008 em Mumbai, na Índia, regularmente protesta contra o “terrorismo da água” indiano.

Asif disse que, contrariamente a tais acusações, a Índia não construía reservatórios nos rios que correm para o Paquistão.

Um grande culpado na iminente crise de água do Paquistão, dizem os especialistas, são as instalações de armazenamento de água inadequadas do país. Na Índia, cerca de um terço do abastecimento de água é armazenado em reservatórios, em comparação com apenas 9 por cento no Paquistão, disse Pervaiz Amir, diretor da Parceria de Água do Paquistão. “Construímos nossa última barragem há 46 anos”, ele disse. “A Índia construiu quatro mil barragens, com mais 150 sendo desenvolvidas.”

Especialistas dizem que as políticas caóticas do país estão afetando sua imagem aos olhos de doadores ocidentais, que poderiam ajudar.

Arshad H. Abbasi, especialista em Água e Energia do Instituto de Desenvolvimento e Política Sustentável, grupo de pesquisa baseado em Islamabad, disse que “a maior crise iminente é de governança, não da água — que poderia tornar este país inabitável nos próximos anos”.

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