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Milhões de eleitores europeus estão se afastando dos partidos políticos de centro. Em países como Espanha e Polônia, grupos populistas de extrema esquerda e extrema direita são sérios concorrentes nas eleições parlamentares marcadas para este ano.

O partido Lei e Justiça da Polônia, de extrema direita, ganhou recentemente a Presidência (que é essencialmente cerimonial) e promete seguir o exemplo da Hungria, onde o cada vez mais autocrático e nacionalista primeiro-ministro Viktor Orban enfureceu seus parceiros europeus. Fazendo eco às políticas de Orban, os direitistas poloneses querem novos impostos sobre os bancos e supermercados de propriedade estrangeira e prometem proteger os interesses nacionais contra a interferência da Europa ocidental, que é considerada decadente.

Enquanto isso, o partido Podemos da Espanha segue as pegadas do premiê Alexis Tsipras da Grécia e seu partido Syriza, de extrema esquerda. Em um ato de desafio inédito na Europa, os gregos estão contestando as exigências da falange de credores, liderados pela Alemanha, de mais cortes orçamentários e maior liberalização econômica.

Enquanto a crise financeira europeia segue em seu sétimo ano, grupos populistas de ideologias diversas encontraram um adversário comum: os governos de centro que se atêm às políticas de austeridade.

Os políticos da corrente dominante insistem que a economia europeia está se recuperando, mas os populistas dão voz àqueles que ficaram para trás, principalmente os jovens. Em abril, 4,75 milhões de pessoas com menos de 25 anos estavam desempregadas nos 28 países membros da União Europeia, segundo a Eurostat. Na Espanha e na Grécia, cerca de 50% dos jovens estão sem emprego. Entre os jovens poloneses, o índice de desemprego é de 21,7%; a média da UE é 20,7%.

Muitos jovens eleitores não confiam mais nos partidos tradicionais, que são considerados elitistas e cada vez mais corruptos.

“O populismo é uma reação ao modo como a UE se comportou diante da crise —mal, muito mal”, disse Paolo Gentiloni, o ministro das Relações Exteriores italiano. Gentiloni pertence ao Partido Democrático, de centro-esquerda, um dos poucos grupos governantes que ainda têm forte apoio. Os italianos estão pedindo novas iniciativas para promover o crescimento econômico, mas a Europa “reagiu com a ditadura da regulamentação”, disse ele.

Os Verdes manifestam exigências semelhantes. Em poucos anos, o movimento ecológico, que já foi descrito como caótico e irresponsável por adversários de centro, amadureceu e aderiu à corrente dominante europeia.

Hoje os Verdes são vistos como uma força contra a corrupção, a favor da democracia popular e do desenvolvimento sustentável.

“Nós criticamos a austeridade há muito tempo”, disse-me Ulrike Lunacek, a vice-presidente do Parlamento Europeu e membro dos Verdes. “Nós lembramos às pessoas os anos 1930 nos EUA, quando o presidente Roosevelt fez o New Deal. Pedimos algo como um novo acordo verde.”

Os Verdes ganharam assentos nos Parlamentos nacionais de 20 países europeus e têm 38 deputados no Parlamento Europeu.

“Adotar novas tecnologias para combater a mudança climática e a dependência do combustível fóssil criaria muitos novos empregos”, disse Lunacek.

Mais de um terço dos 751 membros do Parlamento Europeu são considerados “eurocéticos”.

Enquanto os direitistas como a Frente Nacional francesa, de Marine Le Pen, querem destruir a União Europeia, radicais à esquerda são pró-UE, pelo menos na teoria. Na prática, os partidos de esquerda como o Syriza e o Podemos querem substituir o capitalismo por um sistema econômico alternativo, receita dificilmente aceita pela corrente dominante.

Nem todos os problemas da Europa podem ser atribuídos à lentidão econômica.

“Há guerras acontecendo na Ucrânia e na Síria, em nossa vizinhança”, disse Lunacek. Milhares de refugiados do Oriente Médio, assim como de regiões abaladas por crises na África, estão batendo às portas da Europa.

Lunacek se disse desapontada por a Europa ter demorada para admitir os refugiados. Ela está especialmente perturbada pelo fato de que movimentos xenófobos ganham força nas regiões mais ricas da UE.

Na abastada Dinamarca, por exemplo, onde eleições parlamentares deverão ocorrer na quinta (18), o Partido do Povo Dinamarquês, anti-imigração, poderá ser uma força decisiva na formação de um novo governo.

Porém, os populistas defensores dos insatisfeitos —sejam de direita ou de esquerda— chegaram ao topo em apenas um país: a Grécia. O Syriza tentou convencer os credores de que não pode continuar penalizando o sistema de aposentadorias ou aumentando impostos.

Há meses os credores se recusam a liberar os últimos US$ 8 bilhões de fundos de socorro, enquanto Tsipras insiste em melhores condições de repagamento. Se ele tiver sucesso, o Syriza poderá servir como modelo para outros países, como a Espanha.

Mas não se trata só de economia. Grécia e Espanha, assim como Hungria e Polônia, são membros da Otan. E o elefante na sala que quase ninguém ousa mencionar é o presidente russo, Vladimir Putin.

Os populistas de direita da Polônia odeiam Moscou mais do que odeiam Bruxelas, mas Tsipras e Orban poderiam ser tentados a fazer o jogo russo.

Enquanto a Europa decide se renova as sanções contra a Rússia por sua interferência na Ucrânia, Tsipras discute cooperação econômica com Puitn. A Grécia poderá ganhar bilhões de dólares da Rússia se permitir que seu território seja usado para um novo gasoduto. Diante das circunstâncias, poderá ser uma oferta irrecusável para Tsipras.

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