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O Playpen é um dos últimos estabelecimentos da cidade a ainda oferecer shows eróticos em cabines. “Já virou piada”, diz a dançarina
Na era da pornografia on-line, moedas na máquina e janelas deslizantes | Richard Perry/The New York Times
O Playpen é um dos últimos estabelecimentos da cidade a ainda oferecer shows eróticos em cabines. “Já virou piada”, diz a dançarina Na era da pornografia on-line, moedas na máquina e janelas deslizantes| Foto: Richard Perry/The New York Times

Em meio aos outdoors gigantescos de Times Square, os pequenos anúncios em neon parecem fora de lugar, um delineando uma mulher nua em repouso, o outro anunciando as atrações da loja. DVDs para adultos. Shows eróticos em cabines exclusivas. Opções só para homens.

Houve um tempo em que lugares assim eram comuns em Nova York, quando a região era uma zona livre de sexo e imundície; hoje há menos que dez, relíquias da mudança de zoneamento e da migração da pornografia para a Internet. E dos que ainda existem, como o Playpen, pouquíssimos oferecem o mais raro dos espetáculos: o peep show ao vivo. Os seis compartimentos da casa, que fica no terceiro andar, dão não para uma tela, mas para uma saleta protegida por vidro onde uma dançarina como Anastasia aguarda. Duas décadas atrás, quando começou a se apresentar nesse ramo, ela garante que conseguia faturar US$600 nos dias bons e US$200 se o movimento fosse baixo.

Atualmente, se fizer US$100 durante seu turno, já fica feliz. "Virou meio que uma piada. Os caras chegam aqui, tipo, ‘Puxa, mas isso ainda existe?’".

Em 1995, o prefeito Rudolph W. Giuliani começou uma campanha para fechar o comércio de conteúdo sexual usando a lei de zoneamento com rigidez para restringir os "estabelecimentos adultos", mas a legislação acabou relaxando depois de enfrentar vários processos, no fim dos anos 90. De acordo com um grupo que promove negócios na região, agora há apenas dez voltado para o público adulto. São nove ou dez pessoas trabalhando na Playpen, administrando as vendas, cuidando das câmeras de segurança e limpando as cabines. As mulheres que trabalham "no andar de cima" são consideradas contratadas. Os funcionários pediram para se manterem no anonimato.

Cada compartimento é do tamanho de um armário pequeno e dividido por uma parede com um painel que esconde uma janela — e se ergue quando o cliente coloca US$10 na máquina. Esse dinheiro é para a casa e, além dele, é preciso pagar a gorjeta para a dançarina. A maioria das mulheres faz strip-tease por US$20 e se masturba por US$30.

Anastasia aprendeu a gostar do trabalho, uma porque era fácil e outra, por pagar bem. O movimento continua caindo, mas os fregueses a salvam. Ela tem até apelidos para eles: "O cara da meia-calça, porque ele gosta que eu use; o cara do cigarro, para quem eu fumo, e o do gravador, que faz uma eternidade que não vejo. Para ele eu conto histórias, que ele grava", ela conta.

No meio do dia, que ali é o horário de pico, homens de meia-idade e até mais idosos entram e se dirigem para um produto já familiar ou para as cabines. "Todo mundo que entra aqui tem só uma coisa em mente: sexo. Não dá nem para puxar papo. Não dá para conversar. Você perde o contato com a humanidade", reflete o porteiro.

Embora Anastasia admita se sentir infeliz, vê o lado positivo da situação. "Claro que eu quero parar, mas, ao mesmo tempo, sei que esse trabalho me permitiu um estilo de vida que, de outra forma, não teria. Não sei fazer nada. Quando era adolescente, larguei os estudos e fugi, mas posso comprar presente de US$500 e tênis caros para os meus filhos por causa disto aqui", admite.

Ela pensa em voltar a estudar e poder começar uma nova carreira. O porteiro adoraria trabalhar em um hotel, mas, enquanto isso, os dois continuam no Playpen, mesmo com a perda contínua de clientes.

"Não dá para competir com a Internet. O lance do peep show agora dá mais trabalho que qualquer outra coisa. Tenho que vir até aqui, subir, falar com as meninas uns minutinhos."

"Os únicos que mantêm esse lugar funcionando são os curiosos, os babacas e os clientes – que estão sumindo", conclui o porteiro.

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