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Traficantes de Mianmar transportam regularmente heroína e outras drogas para a Tailândia. Milicianos em um posto de controle perto de Tachileik | Guillem Valle/The New York Times
Traficantes de Mianmar transportam regularmente heroína e outras drogas para a Tailândia. Milicianos em um posto de controle perto de Tachileik| Foto: Guillem Valle/The New York Times

Uma transformação notável rumo à democracia teve início em Mianmar ao longo dos últimos dois anos, deixando para trás o legado de cinco décadas do regime militar.

No entanto, as áreas fronteiriças do país, por muito tempo dilaceradas pelos conflitos étnicos, colocam obstáculos às esperanças de paz nacional alimentadas pelo governo. As autoridades adiaram repetidas vezes o anúncio de um cessar-fogo nacional, em parte devido à incapacidade do governo de entrar em acordo com os grupos étnicos localizados em um arco em torno das fronteiras norte e leste do país.

A ONU informou recentemente que a produção de ópio, que é usado para fazer heroína, subiu 26 por cento em Mianmar este ano em comparação com 2012. A produção de metanfetaminas no nordeste de Mianmar também subiu.

Essa área é ignorada nas conversas internacionais sobre Mianmar, disse Jason Eligh, do Escritório das Nações Unidas para Drogas e Crime. A intensificação do cultivo de ópio é um indicador de que as coisas não estão indo bem.

Eligh diz que a região nordeste sofre com uma combinação clássica entre armas e tráfico.

"Existem dezenas de grupos com dezenas de agendas diferentes", disse ele. "É impossível encontrar uma solução para o conflito sem resolver primeiro a questão das drogas."

Um conflito intermitente entre o governo central e o emaranhado de grupos étnicos que habitam o norte e o nordeste de Mianmar é por vezes descrito como a mais antiga guerra civil do mundo.

Desde que Mianmar, a antiga Birmânia, conquistou a independência da Grã-Bretanha em 1948, os grupos étnicos têm lutado por mais autonomia. Hoje, sob o primeiro governo dito civil desde 1962, eles têm protestado pela instauração do federalismo. O governo central e especialmente os militares ainda não propuseram uma alternativa específica para o Estado altamente centralizado do país, controlado por membros do principal grupo étnico, os birmaneses.

Uma espécie de autonomia de fato reina em muitas áreas fronteiriças, incluindo grandes faixas de território onde o governo central tem pouca ou nenhuma presença.

O exemplo mais gritante envolve o povo Wa, que adquiriu algo próximo a uma autonomia durante o domínio britânico e construiu um Estado dentro do Estado, inclusive com as suas próprias forças armadas, o Exército Unido do Estado Wa, com pelo menos vinte mil homens.

Os Wa construíram suas próprias estradas, escolas, hospitais, tribunais e prisões. Eles usam placas próprias nos veículos, têm uma força policial própria e têm acesso a conexões de telefone e Internet em redes chinesas e tailandesas. Muitos dos Wa – se não a maioria – não falam birmanês.

"O governo em Naypyidaw não respondeu adequadamente à nossa demanda de um estado autônomo wa", disse U Aung Myint, porta-voz dos Wa, referindo-se à capital de Mianmar. Os Wa ainda não decidiram se vão aceitar o acordo de cessar-fogo em todo o país, acrescentou.

Aqui em Tachileik, os Wa têm um escritório de representação que funciona como uma embaixada, com cerca de 20 representantes wa armados.

Negociadores de paz do governo se reuniram com vários grupos étnicos, por vezes em territórios controlados pelos rebeldes. No entanto, os líderes étnicos dizem que o governo não enfrentou a questão-chave de como um Estado unitário acostumado a décadas de regime militar irá restaurar o poder para as áreas étnicas a fim de estabelecer um Mianmar novo e mais democrático. Líderes de grupos étnicos dizem que as forças armadas, que têm mantido uma influência e um poder significativos no novo governo, não parecem se incomodar com a ideia de manter um comando central.

"Todo mundo, incluindo o presidente, está falando sobre o federalismo, exceto os militares", disse o general Gun Maw, vice-chefe do estado-maior do Exército da independência de Kachin, uma milícia étnica que tem entrado em conflito regularmente com as tropas do governo.

U Ar Thet, vice-oficial da representação dos Wa, não quis comentar as perspectivas de paz. Mas afirmou que a segurança melhorou em Tachileik durante os seus quinze anos de trabalho na cidade.

"Quando cheguei aqui, havia tiroteios quase todos os dias", disse ele. "Agora é só de vez em quando."

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