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Com fumaça artificial jorrando de todos os lados e a música alta tomando conta de um dos auditórios mais prestigiados da capital, Ahmad Hellat, fonte de inspiração para muitos iranianos, aparecia simultaneamente em três telões, de agasalho azul, pilotando uma vespa.

Ele estava ali para dar ao público a esperança de conquistar uma vida feliz e cheia de realizações – sentimento escasso para muita gente na República Islâmica, cujas leis podem ser sufocantes e as perspectivas, desanimadoras.

"Que uma chuva de ouro caia sobre suas cabeças! Eu sou o Dr. Hellat – bonito, rico e poderoso. Você também pode chegar lá se repetir as palavras mágicas. Como vocês estão?", disse ele a cerca de 1.800 fãs através da mensagem introdutória gravada de boas-vindas.

"Muito bem!", ecoa o público em uníssono, com a resposta que aprendeu durante os vários seminários de Hellat. A vida, diz ele – que não é médico de verdade, mas está fazendo doutorado em Psicologia – é uma questão de amor, pensamento positivo e prosperidade.

E os iranianos, em grande parte desesperadamente necessitados de uma injeção de moral, bebem suas palavras com avidez.

Segundo as estatísticas oficiais, 25 por cento da população do Irã sofre de depressão – e ela, por sua vez, se reflete em estatísticas deprimentes. O número de divórcios cresceu 135 por cento desde 2001; a dependência às drogas e ao álcool vem subindo, sem trégua, há mais de dez anos; o número de casamentos e a taxa de natalidade, só fazem cair.

"Não podemos negar o que vemos à nossa volta", afirmou Hellat, de 51 anos, durante uma entrevista recente em seu escritório.

São os clérigos muçulmanos xiitas que tradicionalmente dizem aos iranianos como comer, como rezar e amar e Hellat tem o maior cuidado ao enfatizar que seus ensinamentos não substituem, de forma alguma, a religião. "O que eu faço é usar a psicologia motivacional, é completamente diferente", explica.

Sua revista, a "Moavaghiat" ("Sucesso"), é uma das mais populares no país.

No auditório, com material "emprestado" sem pudores de palestrantes norte-americanos como Anthony Robbins, Hellat consegue agitar a multidão: homens de gravata borboleta e ternos impecáveis batem palmas ao ritmo da música, enquanto as mulheres, com echarpes coloridas protegendo os cabelos, se mexiam nos assentos.

Um clérigo de turbante entrou por uma porta lateral. As palmas cessaram na mesma hora. Mulheres começaram a se arrumar para não deixar muito cabelo à mostra. Hellat desapareceu nas coxias para voltar trinta segundos depois, com um largo sorriso no rosto. "Vamos dar as boas-vindas a Hojatoleslam Ali Razini, um dos membros mais importantes do Judiciário!"

Razini, que há décadas sobreviveu a uma tentativa de assassinato, já acomodado na área VIP, balançou a cabeça. "Louvemos o profeta!", Hellat conclamou o público. "Vamos nos acalmar e fazer os exercícios de respiração. Todo mundo comigo, vamos lá. Ah, é muito bom, não é?"

Não demorou e até o clérigo parecia preocupado em respirar corretamente.

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