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Estabelecendo uma forte ligação entre o aquecimento global e um conflito humano, pesquisadores disseram que a seca terrível que afetou a Síria entre 2006 e 2009 foi muito provavelmente causada pelas mudanças climáticas e um dos fatores que influenciaram a revolta violenta que teve início ali, em 2011.

A estiagem foi a pior no país em tempos modernos e em um estudo recente publicado na Proceedings of the National Academy of Sciences (publicação oficial da Academia de Ciências dos EUA), os cientistas a responsabilizaram pelas condições cada vez mais quentes e secas que afligem o leste do Mediterrâneo há mais de um século. Segundo eles, a tendência se deve aparentemente a dois fatores: o enfraquecimento dos ventos que espalham a umidade do mar e as temperaturas mais altas, que causam evaporação.

Colin P. Kelley, principal autor do estudo, explica que descobriu que, embora a Síria e o resto da região conhecida como Crescente Fértil normalmente enfrentem períodos mais secos, as chances de uma estiagem tão severa dobraram ou triplicaram por causa da maior aridez na região.

Martin P. Hoerling, meteorologista da Administração Atmosférica e Oceânica Nacional considera o estudo “convincente”. “O documento ilustra bem a primeira ligação de uma cadeia casual, ou seja, a interferência humana no clima que acabou aumentando as chances de seca na Síria”, elabora ele por e-mail.

Alguns cientistas sociais, políticos e outros já tinham sugerido que a seca teve um papel importante na revolta síria e os pesquisadores abordaram a questão dizendo que o fenômeno teve um “efeito catalítico”.

E citam estudos que mostram que a estiagem extrema, combinada com outros fatores – incluindo políticas agrícolas e de uso de água falhas – resultou no colapso das plantações, o que acabou levando 1,5 milhão de pessoas das áreas rurais para os centros urbanos. E o resultado foi o aumento no estresse social que resultou no levante contra o presidente Bashar al-Assad, em março de 2011. O que começou como uma guerra civil passou para um conflito complexo que já causou pelo menos 200 mil mortes.

Os primeiros estudos que tentam mostrar a relação entre as mudanças climáticas e o conflito foram refutados por alguns. Thomas Bernauer, professor de Ciências Políticas do Instituto Federal de Tecnologia, em Zurique, diz, por e-mail, não acreditar nela. “A evidência que alega que essa seca contribuiu para o início da guerra civil na Síria é baseada em especulações”.

Mark A. Cane, um dos autores do estudo e cientista do Observatório Terrestre Lamont-Doherty, que faz parte da Universidade Columbia de Nova York, defende o trabalho.

“Acho que há um caso sólido aí, mas também fizemos questão de explicar que a relação entre um evento climático fora dos padrões e o conflito é complexa e certamente envolve outros fatores”.

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