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No final do dia, a polícia queniana fecha o portão da fronteira entre Mandera e Bula Hawa, na Somália. Os dois lados da fronteira são altamente interligados | Will Swanson /
No final do dia, a polícia queniana fecha o portão da fronteira entre Mandera e Bula Hawa, na Somália. Os dois lados da fronteira são altamente interligados| Foto: Will Swanson /

Quando o portão da fronteira com a Somália foi aberto no início da manhã, micro-ônibus deixavam os passageiros por ali e carroças puxadas por burros e pedestres o atravessavam livremente, em ambas as direções.

Os muitos laços familiares, econômicos e educacionais que ligam os dois lados da fronteira são fortes demais para que qualquer linha divisória seja prática, dizem muitos habitantes locais.

Mas os recentes ataques do Shabab, grupo extremista somali que já matou centenas de pessoas no Quênia nos últimos dois anos, fizeram surgir uma proposta nacional ambiciosa que supostamente começa aqui: uma enorme barreira 682 quilômetros ao longo da fronteira com a Somália.

“Todos os problemas vêm daquele lado”, disse Abdi Billow, de 60 anos, queniano descendente de somalis nascido nesta cidade.

Este canto distante do norte do Quênia sofreu o impacto da violência, incluindo ataques a um ônibus de professores no Natal e aos trabalhadores em uma pedreira no ano passado, onde os cristãos eram separados dos muçulmanos e mortos a tiros. Um dos integrantes do ataque a uma universidade no leste do Quênia no mês passado, que deixou cerca de 150 mortos, também veio daqui.

“O muro irá ajudar a estabelecer algum controle sobre a movimentação”, disse Alex Nkoyo, comissário do distrito do município de Mandera.

Autoridades quenianas dizem que os equipamentos chegaram a Mandera para construir o que é frequentemente chamado de muro, mas que na verdade foi planejado como uma barreira de cercas, valas e postos de observação que se estende daqui até o oceano Índico.

“Não é como a Grande Muralha da China. Isso seria muito caro”, disse Mwende Njoka, porta-voz do ministério do Interior.

Os dois lados da fronteira são altamente interligados — Bula Hawa é a cidade do lado Somali. O serviço de celular aqui rotineiramente oscila entre empresas quenianas e somalis, e comerciantes cruzam o limite a toda hora. Algumas crianças da Somália vêm para cá, onde é mais seguro, em busca de educação formal, e até mesmo o comissário distrital de Bula Hawa tem uma casa em Mandera.

“Um muro de segurança não vai ajudar. O Shabab se mistura à população e tem um monte de espiões”, disse Ishak Aden, de 60 anos, somali de Bula Hawa.

A área já tem toque de recolher, entre o anoitecer e o amanhecer, imposto após o ataque à universidade. Os mais velhos aqui dizem que já apoiaram uma união com a Somália, mas abandonaram essa ideia há muito tempo.

O negociante Abdullah Mohamed, de 51 anos, disse: “Eu quero o muro. Homens armados vêm do outro lado, atacam e fogem. Alguns parentes meus morreram”.

Zeinab Hassan, de 45 anos, divorciada e mãe de três, vem para Mandera para comprar khat, uma folha que, quando mastigada, age como estimulante, para vendê-la em Bula Hawa. “Não queremos o muro”, disse ela.

Rubaba Mohamed, de 50 anos, viúva e mãe de nove, também de Bula Hawa, disse que apoiou a ideia do muro, contanto que continue sendo possível cruzá-lo.

“A segurança é ruim, mas se eu ainda puder comprar meu khat e vendê-lo, não me importo.”

Ali Roba, governador do Condado de Mandera disse que apoia a construção do muro “300 por cento”.

Porém, até mesmo as autoridades percebem que sua eficácia tem limites. Roba pediu uma coordenação maior entre o governo nacional e as autoridades locais para melhorar a segurança.

“O muro não é a solução definitiva. A ideologia radical não vem pela terra, mas pela tecnologia”, disse Nkoyo.

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