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Tropas russas atravessam a fronteira e um líder autocrático russo culpa as Nações Unidas e "radicais e nacionalistas" pela interferência. Não espanta que a crise na Ucrânia esteja sendo comparada ao que ocorreu na Hungria em 1956, ou à Tchecoslováquia em 1968, nem que um coro de comentaristas políticos esteja falando sobre o retorno da Guerra Fria.

Entretanto, existe uma grande diferença entre aquele momento e agora: Moscou possui uma bolsa de valores.

Sob o comando autocrático do presidente Vladimir Putin, a Rússia pode ser uma democracia só de fachada, mas as oscilações da bolsa de valores de Moscou fornecem um referendo minuto a minuto de suas ações militares e diplomáticas. À medida que as atividades aumentavam na Crimeia, o índice da bolsa de valores russa, a RTSI, caiu mais de 12 por cento. O mergulho acabou com quase 60 bilhões de dólares em ativos.

Tão logo Putin afirmou que não seria mais necessária a intervenção dos militares russos, a bolsa recuperou seis pontos percentuais. Com as tensões voltando a crescer, o mercado russo pode se mostrar novamente volátil.

Putin parece estar "seguindo o velho manual soviético" na Ucrânia, afirmou Strobe Talbott, especialista em Guerra Fria. "Mas naquela época, não havia temores sobre o que poderia acontecer com a bolsa de valores. Se, na verdade, Putin está esfriando a cabeça e pode até mesmo mudar de ideia, isso provavelmente se deve ao temor em torno do preço que a Rússia pode vir a pagar".

A Rússia está mais exposta a flutuações de mercado que muitos países, já que é dona majoritária de boa parte das maiores empresas do país. A Gazprom, o conglomerado energético que é a maior empresa da Rússia em termos de capitalização de mercado, pertence majoritariamente à Federação Russa. Ao mesmo tempo, as ações da Gazprom estão listadas na bolsa de valores de Londres e também são vendidas nos Estados Unidos, e nas bolsas de Paris e Berlim.

A antiga União Soviética era praticamente blindada contra as pressões comerciais de outros países. Não faz muito tempo, em 1985, o comércio internacional respondia por apenas quatro por cento do PIB nacional.

"O principal erro do Kremlin foi ignorar sua fraqueza econômica e sua dependência em relação à Europa", afirmou Anders Aslund, pesquisador sênior do Instituto Peterson de Economia Internacional, em Washington.

Putin pode estar "vivendo em outro planeta", conforme afirmou a chanceler alemã, Angela Merkel, mas até ele também deve ser capaz de perceber que o mundo mudou. Ele certamente está ouvindo um monte de seus amigos ricos oligarcas, muitos dos quais economizaram seus ativos pessoais em lugares como Londres e Nova York.

Um economista russo, que pediu para não ter seu nome revelado por ter medo de uma retaliação, destacou que a elite bilionária russa – os amigos e aliados políticos do presidente Putin – são justamente os que mais sairiam afetados com a proibição dos vistos, imposta pelo presidente Obama.

A Rússia certamente possui laços profundos com a Ucrânia, e talvez haja pouco que os Estados Unidos e seus aliados possam fazer para reestabelecer o status quo. "O confinamento, de um modo silencioso e modificado, será mais uma vez a estratégia do Ocidente e da missão da OTAN", previu Talbott. Porém, não se trata de outra Guerra Fria.

"Uma guerra de propagandas é perfeitamente factível", afirmou o economista russo. "Os eventos recentes foram completamente irracionais, enfurecendo o Ocidente sem qualquer razão aparente. É isso que mais assusta, principalmente no caso das empresas. Ao invés de resolver os problemas da economia em crise, Putin assustou todo mundo sem necessidade e sem nenhum retorno em vista. Por isso, é difícil prever quais serão suas próximas ações. No entanto, acredito que uma Guerra Fria de fato seja improvável".

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