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A Flórida é a maior produtora de toranja do mundo: grande parte da produção exportada para o Canadá, Europa e Japão | Aldrin Capulong para The New York Times
A Flórida é a maior produtora de toranja do mundo: grande parte da produção exportada para o Canadá, Europa e Japão| Foto: Aldrin Capulong para The New York Times

Nos quase cem anos em que a família de Rusty Banack cultiva toranja na Flórida, o setor passou por muitos altos e baixos.

Nada, porém, se compara ao declínio abissal atual, apesar de o estado ainda ser o maior produtor mundial da fruta. Há dez anos, o volume chegava a 41 milhões de caixas; este ano, mal deve chegar a 16 milhões. Alguns agricultores foram forçados a desistir do negócio, mas os que ficaram, como Banack, estão investindo milhões de dólares na terra, em uma tentativa desesperada de salvar uma das culturas cítricas mais tradicionais do estado.

Os últimos dez anos foram particularmente complicados. Primeiro houve um surto implacável de cancro cítrico, bactéria que causa danos terríveis à fruta; depois, vieram os furacões. A seguir foi divulgado um estudo destacando os efeitos problemáticos da toranja combinados a certos medicamentos e a expansão do desenvolvimento urbano, que reduziu as áreas de plantio. Agora, as árvores estão enfrentando outro inimigo de peso: o greening, ou amarelão, doença bacteriana incurável que está acabando com as plantações.

Com tantas dificuldades, a produção chegou ao nível mais baixo em 75 anos. As laranjeiras, base da indústria dos citros, também estão sendo seriamente afetadas pelo Diaphorina citri, inseto que causa o greening. Por causa dele, a fruta contaminada murcha e cai antes de amadurecer, não podendo ser comercializada.

Embora os produtores consigam retardar a doença com fertilizantes e termorregulação, já estão gastando três vezes mais do que em 1998. Em 1996, o estado tinha cerca de 56 mil toranjeiras; no final de 2013, eram apenas 14 mil. No litoral leste da Flórida, onde fica a maioria das plantações, o setor propicia um benefício econômico anual de mais de US$500 milhões.

A fruta cultivada em Treasure Coast, a poucos quilômetros do Oceano Atlântico, é mais doce e mais suculenta do que a de outros estados e/ou países. Cerca de metade da produção da região é destinada para o processamento de suco; o resto é exportado para consumo natural, principalmente para o Canadá, a Europa, o Japão e, cada vez mais, para a Coreia do Sul.

O greening e o cancro cítrico reduziram o volume da colheita que se encaixa nas especificações para venda no exterior e no comércio doméstico — sem manchas, com tamanho considerável. Assim, o setor se viu reduzido, na contramão do preço da toranja, que subiu por causa da escassez e dos custos de envio. As exportações para o Japão, tradicionalmente o maior mercado, caíram trinta por cento em 2013, para chegar ao ponto mais baixo em 28 anos, em parte também porque o Japão enfrenta problemas internos.

Para piorar, um estudo médico revelou que a toranja pode causar efeitos colaterais quando consumida com determinados remédios, incluindo os reguladores da pressão sanguínea e algumas estatinas para o tratamento do colesterol alto. Como o número de consumidores dessa substância é alto entre os idosos — que por acaso também são os maiores consumidores da fruta —as vendas despencaram.

No momento, porém, esse é um dos poucos problemas que não preocupam os produtores. Michael W. Sparks, representante do setor, desabafou: "A Mãe Natureza está sendo cruel com a cultura dos cítricos da Flórida".

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