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Nos outdoors de Teerã, obras como “O Grito”, de Edvard Munch | Arash Khamooshi /The New York Times
Nos outdoors de Teerã, obras como “O Grito”, de Edvard Munch| Foto: Arash Khamooshi /The New York Times

O prefeito de Teerã, Mohammad Baqer Ghalibaf, é famoso no Irã como ex-comandante da Guarda Revolucionária, piloto aposentado e por perder duas eleições presidenciais. Agora, acrescentou mais um título ao currículo: patrono das artes, depois de mandar que todos os 1.500 outdoors da cidade sejam substituídos por reproduções de obras de arte, inclusive de pintores ocidentais famosos.

Quase do dia para a noite os cartazes da capital deixaram de anunciar lava-louças sul-coreanas e os juros bancários mais vantajosos para exibir as naturezas mortas de Rembrandt e as imagens feitas pelo fotógrafo francês Henri Cartier-Bresson.

Os moradores, que passam horas no trânsito engarrafado, não acreditaram quando viram obras de nomes como Rothko e Munch (“O Grito”) lado a lado com criações iranianas de destaque.

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“O caminho que eu faço toda manhã virou uma grande aventura. Agora no táxi a gente fala de pintura e arte”, comemora Hamid Hamraz, 58 anos.

E essas discussões são exatamente o objetivo do projeto, como explica Mojtaba Mousavi, membro da Organização de Embelezamento de Teerã, grupo municipal responsável pela decoração de muros, parques e outros espaços públicos.

“A população anda muito ocupada para ir a museus e galerias; por isso, decidimos transformar a cidade inteira em um espaço artístico”, continua ele.

Segundo outro integrante, Reza Bagheri, o prefeito se entusiasmou com a ideia. “Administrar uma cidade grande como Teerã vai além da prestação de serviços; é preciso incluir cultura e arte também.”

Os analistas, porém, detectaram um motivo oculto na repentina devoção do prefeito pelas artes: como nos EUA, as facções políticas daqui estão se preparando para as eleições presidenciais de 2016 – e Ghalibaf é conhecido por ser um político astuto e ambicioso.

Com a chance de obtenção de um acordo em relação ao polêmico programa nuclear nacional e a possibilidade de estreitamento das relações com os norte-americanos, o prefeito pode estar tentando se posicionar como “o homem certo para o momento”.

“Oferecer arte à classe média de Teerã é obviamente uma tentativa de ganhar sua simpatia. Eu, é claro, não me importo. É incrível ver tanta beleza na cidade toda, uma ocasião única”, afirma Hamid Taheri, 65 anos, historiados e colecionador de arte.

Das obras, escolhidas por um comitê especial, mais de 30% são de estrangeiros, inclusive John Singer Sargent e o fotógrafo Lee Friedlander. Entre os artistas locais, só foram selecionados os que já morreram, já que os trabalhos modernos “poderiam levar a objeções que queremos evitar”, explica Mousavi.

À mostra, antigos tapetes iranianos, pinturas inspiradas no famoso “Livro dos Reis” e os trabalhos de Bahman Mohassess, conhecido como o “Picasso persa”. “Adorei a ideia, mas a cidade não pode se esquecer de que as calçadas também precisam ser limpas”, diz Manijeh Akbari.

Durante anos, após a Revolução de 1979, mesmo a publicidade não era vista com bons olhos pelos líderes clérigos, que preferiam apenas cartazes, como o que ficou famoso durante a guerra Irã-Iraque: “O sangue que corre em nossas veias é uma dádiva ao nosso querido líder”. Os muros eram quase sempre decorados com murais de retratos dos mártires do conflito, no qual 400 mil jovens iranianos foram mortos.

Embora depois disso a arte dos outdoors tenha passado a abordar temas comerciais, a novidade foi recebida com entusiasmo. “É claro que é melhor ver obras de arte que anúncios. É a primeira vez que tenho vontade de ir a um museu em vez de sair para fumar narguilé”, constata Majed Hobi, estudante de Física de 19 anos.

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