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A multidão reunida na Prefeitura de Roma irrompeu em aplausos quando o prefeito entrou, usando a faixa verde, vermelha e branca sobre o peito, e continuou batendo palmas. Noivos e noivas se curvaram sobre a mesa para assinar o registro oficial; os convidados, com bebês no colo, tiravam fotos e tentavam conter as lágrimas.

Embora a cerimônia tenha todas as características de um casamento civil tradicional, é uma união somente espiritual: todos já tinham se casado antes – mas não na Itália, onde a união de pessoas do mesmo sexo ainda não é reconhecida.

Ao registrá-los, o prefeito de Roma, Ignazio Marino, engrossa a rebelião política promovida por um número cada vez maior de colegas ao redor do país. Com ela, esperam forçar os legisladores a esclarecer a confusão legal que envolve as uniões homoafetivas, principalmente de italianos que se casam no exterior.

"Hoje é um dia especial, mas ainda temos um longo caminho a percorrer para que seja um procedimento normal. Infelizmente, pela falta de uma lei nacional, só posso registrar o casamento", disse Marino.

Na Itália, é cada vez maior o número de pedidos feitos por casais gays para que seja pelo menos reconhecida a legalidade das uniões oficializadas em países onde é permitida, como Bélgica e Espanha.

O registro ajuda esses casais a superar uma série de problemas triviais — como a possibilidade de tirar licença-maternidade/paternidade e a permissão para cônjuges estrangeiros viverem na Itália — embora ainda estejam bem longe de conquistar os mesmos direitos de um casal heterossexual.

A concessão — pequena e ainda contestada — começou apenas no início do ano, quando a justiça mandou um prefeito da Toscana registrar um casamento oficializado em Nova York. Depois disso, o gesto passou a ser repetido em várias partes do país.

No início de outubro, porém, o Ministro do Interior italiano, da Nova Centro-Direita, emitiu uma ordem a todos os municípios para anular tais registros, afirmando que não passavam de meros "autógrafos".

Marino e muitos outros se recusaram a obedecer, alegando que somente a justiça pode anular o ato de um prefeito.

No caos jurisdicional e político que se seguiu, o governo do primeiro-ministro Matteo Renzi propôs uma lei nacional que permita a união civil e adoção, mas não o casamento homossexual.

"Levamos uma vida normal, mas é preciso regulamentar o casamento de pessoas do mesmo sexo na Itália", diz Laura Terrasi, de 39 anos, mulher de Marilena Grassadonia. Elas, que se casaram na Espanha, também tiveram a união reconhecida pelo prefeito de Roma. O casal tem três filhos: um menino de sete anos, seu filho biológico, e um casal de gêmeos de Marilena.

"O pior é que nossos filhos são irmãos, mas isso não é reconhecido pela lei. É muito injusto", lamenta ela.

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