• Carregando...

Como muitos jornalistas estrangeiros credenciados pelas autoridades iranianas, Jason Rezaian, correspondente do jornal The Washington Post no Teerã, já se acostumou a estar sob constante suspeita. Opositores dos líderes do Irã dizem que os correspondentes não escrevem artigos críticos para não serem expulsos, enquanto conservadores fora do Irã costumam chamá-los de espiões. Alguns mais linha-dura chegam a dizer que eles deveriam ser executados.

"É como andar na corda bamba", afirmou Rezaian, de 38 anos, em junho. "Quando você cai, é o fim".

Então, em 22 de julho, homens com um mandado de prisão assinado pelo judiciário iraniano forçaram a entrada no apartamento de Rezaian, levando ele e sua esposa, Yeganeh Salehi, repórter de um jornal nos Emirados Árabes Unidos, para um local desconhecido. Além de um telefonema de Salehi para seus pais, quando ela afirmou que estava "numa festa", não se sabe deles desde então.

Suas prisões apontam para uma divisão entre o presidente do Irã e as instituições estatais que mantêm o verdadeiro poder nesta nação.

"Isso é um constrangimento para o presidente", declarou Farshad Ghorbanpour, jornalista íntimo do presidente do Irã, Hassan Rouhani.

Rouhani foi eleito em 2013 após prometer maior liberdade e melhores relações com o mundo exterior, mas vem sendo desafiado por uma aliança linha-dura de clérigos e comandantes.

Embora Rouhani tenha sugerido refrear a polícia da moralidade, que prende mulheres por não cobrir a cabeça completamente, seus opositores organizaram manifestações exigindo uma repressão maior àquelas que não se cobrirem adequadamente. Enquanto ele pedia pela ampliação dos direitos pessoais, a cidade de Teerã, controlada por um antigo comandante das Guardas Revolucionários, começou a segregar homens e mulheres em escritórios municipais.

Na frente internacional, a iniciativa de Rouhani para normalizar as relações com países ocidentais foi combatida por gritos semanais de "morte aos americanos" durante a oração de sexta-feira.

No mês passado, depois que Rouhani sugeriu a possibilidade de cooperar com os Estados Unidos para conter o caos no Iraque, onde militantes tomaram cidades e aldeias, o líder supremo do Irã, o Aiatolá Ali Khamenei, rapidamente mandou os americanos se afastarem.

No Irã, correspondentes credenciados podem trabalhar livremente na capital, embora precisem de autorização para trabalhar em outros lugares do país. Eles não passam por censura antes da publicação, mas os artigos que, na visão das autoridades, cruzam uma linha invisível, podem levar a uma remoção temporária ou permanente das credenciais de imprensa.

Rezaian, que trabalhava para o jornal The Washington Post desde 2012, foi preso no dia em que suas credenciais haviam sido renovadas. Seu artigo mais recente falava sobre o beisebol no Irã.

"Nosso escritório não teve nenhum problema com eles; eles são membros de nossa família de jornalistas", declarou Mohammad Koushesh, diretor da organização do governo que supervisiona a imprensa estrangeira no país. Koushesh disse ter pedido ao judiciário "novidades sobre os jornalistas, mas eles nos pedem que aguardemos pela apresentação das acusações oficiais".

Dias após as prisões, o chefe de justiça do Teerã, Gholam Hossein Esmaili, insinuou que os jornalistas eram "inimigos", mas não especificou acusações contra eles e afirmou que eram necessários mais interrogatórios, segundo a Islamic Republic News Agency, um órgão estatal.

"As forças de segurança têm o país inteiro sob vigilância e controlam a atividade dos inimigos", ele teria dito. "Elas não permitirão que nosso país se torne uma terra onde nossos inimigos e seus agentes conduzam suas atividades".

Permanece incerto se as prisões de Rezaian, Salehi e uma fotógrafa estão ligadas às recentes prisões de outros ativistas e jornalistas no Irã. A família da fotógrafa pediu que seu nome não fosse revelado, por medo de atrapalhar as negociações para sua libertação.

Rezaian, filho de um vendedor de tapetes iraniano e de mãe americana, cresceu no norte de San Francisco, mas mudou-se para o Irã em 2004.

Em Teerã, um amigo do jornalista detido, pedindo anonimato por medo daqueles que prenderam Rezaian, afirmou: "De todos os jornalistas daqui, nunca esperei que isso acontecesse com eles".

0 COMENTÁRIO(S)
Deixe sua opinião
Use este espaço apenas para a comunicação de erros

Máximo de 700 caracteres [0]