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“Os ataques mais negativos, mais difamatórios, vêm de pessoas que estão sendo investigadas” | Cristian Movila para The New York Times
“Os ataques mais negativos, mais difamatórios, vêm de pessoas que estão sendo investigadas”| Foto: Cristian Movila para The New York Times

Equipes de TV ficam sempre de prontidão diante do gabinete de Laura Codruta Kovesi, prontas para transmitir imagens ao vivo do próximo capítulo do drama mais comentado dos últimos 25 anos na Romênia. Hoje em dia, ninguém na Romênia quer ser visto entrando no gabinete de Kovesi, que comanda o Diretório Nacional Anticorrupção do país, órgão antes pacato, mas que hoje está à frente de uma campanha vigorosa de combate à corrupção.

"Esta senhora calma e discreta tornou-se a pessoa mais temida do país e, para alguns, a mais odiada", comentou Vladimir Tismaneanu, da Universidade de Maryland, que encabeçou uma comissão criada na Romênia para investigar crimes cometidos antes da queda do ditador Nicolae Ceausescu, em 1989.

Os alvos de Kovesi, e seus aliados, criticam a procuradora-geral, tachando-a de stalinista, e acusam seu órgão —conhecido pela sigla DNA, devido às suas iniciais romenas— de reativar métodos empregados pelo Securitate, o temido e onipresente serviço de segurança de Ceausescu.

Kovesi faz pouco caso da alegação, considerando-a absurda. Disse que ela e sua equipe de promotores "nos formamos depois de 1989, de modo que não temos ideia de quais seriam os métodos do Securitate". Ela disse que o grampeamento de telefones e outros meios de comunicação "não foi inventado pelo DNA, mas é usado em todo o mundo" por países democráticos.

Seus críticos —entre os quais se destaca um grupo de mídia controlado por Dan Voiculescu, magnata e político sentenciado em agosto a dez anos de prisão por corrupção— travam uma campanha implacável para sujar o nome da procuradora.

O jornal "Jornalul National", controlado por Voiculescu, descreveu Kovesi como a "promotora stalinista" da Romênia, e outro veículo do empresário, a emissora de TV Antena 3, a comparou a Hitler e a Stalin e a acusou de receber dinheiro de mafiosos.

Kovesi disse que já está acostumada às calúnias e observou que "os ataques mais difamatórios vêm de pessoas que estão sendo investigadas".

Kovesi recusa-se a ter guarda-costas 24 horas por dia. Porém, ela tem sua segurança garantida pelo Serviço de Proteção e Guarda, organismo público responsável pela proteção de autoridades. "Levo uma vida normal", disse, fazendo pouco caso dos riscos. "Vou ao cinema, à academia."

Kovesi disse que os cidadãos comuns que encontra nunca lhe pedem que ela seja leniente com Voiculescu ou com outros processados pelo diretório anticorrupção. "Sempre que vou ao mercado, às lojas ou ao cinema, encontro pessoas amigáveis que me parabenizam e me encorajam a continuar meu trabalho."

Promotora de carreira e filha de um promotor, Kovesi, 41, estudou direito em Cluj. Depois de se formar, em 1995, ela aceitou o primeiro de uma série de cargos no sistema de Justiça romeno, que vem sendo criticado com frequência pela Comissão Europeia devido à ingerência política e à corrupção. Mas, apesar de seus adversários terem procurado muito, não veio à tona nenhuma evidência sólida de qualquer erro de conduta de sua parte.

Desde que ela assumiu o comando do DNA, em 2013, o número de prisões e processos contra figuras de perfil alto se multiplicou. Mais de 90% dos processos terminaram com condenações.

A maior condenação feita agora pelo órgão foi a do ex-primeiro-ministro Adrian Nastase, sentenciado em janeiro a quatro anos de prisão por recebimento de subornos. Nastase só passou seis meses atrás das grades, mas sua condenação provocou arrepios na classe política romena.

Neste ano, 16 legisladores foram indiciados, ao lado de um general do Exército, quatro promotores e 18 juízes.

"Ninguém jamais esperava que algo assim pudesse acontecer", comentou o analista político Sorin Ionita, em Bucareste.

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