• Carregando...
Alguns arranha-céus no centro financeiro de Moscou estão praticamente vazios. O High Level Hostel aluga um espaço ali | James Hill para The New York Times
Alguns arranha-céus no centro financeiro de Moscou estão praticamente vazios. O High Level Hostel aluga um espaço ali| Foto: James Hill para The New York Times

No cobiçado escritório de canto, um barbudo de moletom prepara ovos mexidos em uma cozinha minúscula, admirando a beleza das luzes da cidade brilhando lá embaixo. Outros dois jogam videogame em um Xbox. Em vez de divisórias, há beliches.

O High Level Hostel, um dos novos inquilinos do centro financeiro conhecido aqui como Moskva City, está localizado em uma área supervalorizada, no 43º andar de um prédio comercial multimilionário.

"Nós pensamos: ‘Por que não abrir um albergue em um arranha-céu?’", conta Roman Drozdenko, o dono de 25 anos.

A área, batizada formalmente de Centro Internacional de Negócios de Moscou, reflete os problemas que enfrenta a economia da Rússia, prevista para entrar em recessão em 2015. O país, que sofre sanções financeiras e é dominado por empresas estatais, não precisa dos escritórios imensos para corretores de ações e banqueiros.

O espaço de 60 hectares, que está avaliado em US$12 bilhões e inclui o edifício mais alto da Europa, o Mercury City Tower, tinha uma taxa de disponibilidade de 32 por cento no fim de outubro, segundo a consultoria imobiliária Cushman & Wakefield. E esse número deve extrapolar os 50 por cento quando forem inaugurados os novos prédios.

"O russo tem o costume de construir coisas de que não precisa", constata Sergei Petrov, que trabalha em uma das torres.

O espaço foi concebido para ser o centro de um mercado financeiro emergente, símbolo da influência internacional da Rússia, cada vez maior. E, por um tempo, a ideia não foi de todo descabida: de 2000 a 2007, a economia local cresceu a uma média de sete por cento/ano. Um dos prédios, chamado Evolution ("Evolução"), tem o formato contorcido semelhante ao de uma hélice dupla de DNA; o pináculo das Federation Towers lembra velas infladas, simbolizando a chegada da Rússia ao futuro capitalista. A Federation Tower East, aliás, terá 95 andares, chegando a uma altura de 373 metros para ultrapassar a vizinha Mercury City Tower, praticamente vazia, e se tornar o edifício mais alto da Europa.

Oito prédios estão prontos, oito estão em construção e dois, em planejamento. As sanções do Ocidente recaem sobre as maiores instituições financeiras estatais do país, Sberbank e VTB, sendo que ambas possuem espaço próprio no Centro. Como os bancos agora têm uma capacidade limitada de emissão de dívida nos mercados globais, suas opções de expansão estão limitadas. As medidas inclusive devem roubar um por cento do crescimento do PIB nacional deste ano.

Mesmo sem sanções, os problemas vêm se acumulando: a inflação em alta, o preço do petróleo em queda e um rublo desvalorizado deixaram a Rússia à beira da recessão. O governo também responde por uma fatia excepcionalmente grande da economia, deixando espaço insuficiente para os banqueiros, advogados e empresas para quem o Centro foi construído. Na Rússia, 81 por cento das ações das dez maiores companhias são da mesma entidade: o Estado. Na Alemanha, esse número cai para onze, de acordo com a Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico.

Para preencher seus espaços, o Centro está mudando de tática, alugando para várias iniciativas não financeiras: há um escritório vendendo cidadania cambojana para os russos que quiserem um segundo passaporte; uma escola de culinária acabou de abrir as portas. Muitas multinacionais também se instalaram ali: IBM, General Electric, KPMG, General Motors, Hyundai, Energizer e Japan Tobacco International são alguns dos inquilinos.

Consequentemente, os preços vêm caindo. Roman Drozdenko, o dono do albergue, conta que um corretor lhe ofereceu o espaço de 148 metros quadrados por US$8 mil/mês.

A Empire Tower, onde está situado o High Level Hostel, continua praticamente vazia, dois anos após a inauguração. O albergue abriu as portas em setembro, com diárias a partir de US$25,50 em um quarto para seis pessoas, incluindo café da manhã com torrada, mingau ou muesli.

O gerente, Leonid L. Fedotov, de 19 anos, não se esquece de um casal de mochileiros da Holanda, Ron e Eve. "Foi bem legal porque Ron e eu tocávamos violão à noite admirando o mar de luzes da cidade lá embaixo", conta o rapaz.

0 COMENTÁRIO(S)
Deixe sua opinião
Use este espaço apenas para a comunicação de erros

Máximo de 700 caracteres [0]