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Manu Prakash, no colo de sua mãe, no centro, na Índia. Isso foi pouco tempo antes de ele se interessar por ciência |
Manu Prakash, no colo de sua mãe, no centro, na Índia. Isso foi pouco tempo antes de ele se interessar por ciência| Foto:

Na parede de seu quarto, Manu Prakash possui um mapa que imagina o mundo como se ele fosse configurado segundo as pesquisas científicas produzidas em cada região.

Julgado dessa forma, disse ele, "a África simplesmente desaparece, a Índia é pequena e a China é apenas um pouquinho maior".

Para combater essa desigualdade, o dr. Prakash propôs a criação de uma "ciência frugal". Ele acredita que, distribuindo instrumentos de laboratório que são ao mesmo tempo poderosos e baratos, é possível espalhar ciência e oportunidades médicas pelo mundo todo.

Prakash, de 34 anos, biofísico e professor assistente na Universidade de Stanford, está desenvolvendo ferramentas laboratoriais significativamente mais baratas (e, em alguns casos, mais poderosas) do que equipamentos profissionais existentes.

Seu Foldscope é um microscópio impresso em 3D, feito de papel dobrado em origami. O produto permitirá que crianças, técnicos de laboratório e até mesmo os melhores cientistas do mundo tenham o poder de imagem de um dispendioso instrumento de mesa pelo custo de menos de um dólar. Ele espera colocar microscópios de papel nas mãos de cada criança no mundo desenvolvido, abastecendo-as com a capacidade de ver com os próprios olhos coisas como o grau de limpeza de sua água potável.

"Quero explorar o que acontece com a sociedade quando os microscópios são algo comum no dia a dia", disse ele.

A meta do dr. Prakash evoluiu ainda mais em abril, quando ele e um estudante de pós-graduação, George Korir, receberam o primeiro prêmio de US$50 mil na Moore Foundation Science Play and Research Kit Competition, um desafio para repensar o antigo kit de química e atrair uma nova geração de jovens cientistas.

Os pesquisadores desenvolveram o protótipo de um "laboratório de química num chip", baseado numa tecnologia conhecida como microfluídica, que envolve condicionar e depositar tubos, válvulas e bombas num chip de silício.

O potencial para esse tipo de ferramenta ficou evidente depois que a Moore Foundation anunciou ter premiado o laboratório de Prakash com US$757 mil para fabricar 10 mil Foldscopes. Os microscópios serão distribuídos a pessoas que enviarem perguntas que possam ser respondidas com a ajuda do instrumento. Em duas semanas, mais de 8 mil inscrições foram recebidas.

Um criador na Mongólia pediu um Foldscope para ajudá-lo a convencer outros criadores de sua comunidade de que eles deveriam ferver ou pasteurizar seu leite. A Sociedade de Albinismo da Tanzânia queria entender melhor os riscos do câncer de pele. Um pesquisador da Agência Espacial Canadense pretende colocar microorganismos em órbita a bordo de um mini-satélite. Ele precisava de um microscópio que pese menos de 10 gramas, e o Foldscope tem apenas 8 gramas.

O interesse científico de Prakash remonta à sua infância na Índia. Ele chamou a atenção do físico Neil Gershenfeld, do MIT, durante sua visita ao Instituto Indiano de Tecnologia, em Kanpur.

"Havia todos aqueles estudantes sérios, e então havia Manu", disse ele. "Ele tinha 10 projetos diferentes, nenhum deles fazia sentido e todos eram interessantes".

Prakash obteve um Ph.D. do MIT Media Laboratory em 2008.

Em fevereiro, no encontro anual dos programas de ciências biomédicas do Pew Charitable Trusts em Herradura, na Costa Rica, Prakash demonstrou seu microscópio a uma sala lotada de cientistas. Ele é feito com papel cortado, pode ser montado em poucos minutos e pode ter uma resolução próxima a 700 nanômetros. Isso o transforma num possível instrumento médico para gerar imagens e diagnosticar doenças bacterianas fatais. Pode também atingir a ampliação de 2.000 vezes usando amostras comuns de laboratório, não requer energia externa, pode projetar imagens em alta resolução e cabe no bolso. Prakash demonstrou sua resistência pisando sobre o dispositivo.

Michael B. Eisen, professor de biologia molecular na Universidade da Califórnia, em Berkeley, disse que os membros da plateia reagiram como crianças com um brinquedo novo.

"Havia uma sala repleta de cientistas, incluindo dois ganhadores do Nobel, olhando aquilo com admiração", recordou ele. "Existe algo de mágico em fazer coisas como essa".

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