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Venezuelanos que saíram às ruas para protestar são reprimidos | Carlos Garcia Rawlins/Reuters
Venezuelanos que saíram às ruas para protestar são reprimidos| Foto: Carlos Garcia Rawlins/Reuters
  • A raiva contra a prisão de um político da oposição

A única rede de TV que veicula implacavelmente vozes críticas ao governo foi vendida no ano passado e os novos donos aliviaram a cobertura. Recentemente, o presidente Nicolás Maduro proibiu os canais de notícia de TV a cabo estrangeiros, depois que um deles mostrou imagens de uma jovem manifestante que foi assassinada na cidade.

Legisladores da oposição foram afastados dos debates e perderam postos no comitê da Assembleia Nacional. Além disso, quando um líder da oposição convocou um protesto, Maduro agendou sua própria marcha para começar no mesmo local e enviou a Guarda Nacional para impedir que os manifestantes protestassem em outro lugar.

A Venezuela está de cabeça para baixo com os maiores protestos desde que o presidente que passou anos no poder, o carismático Hugo Chávez, morreu há quase um ano.

Embora os manifestantes condenem uma série de problemas antigos, incluindo as grandes taxas de criminalidade, a inflação alta e a falta de produtos básicos como açúcar e papel higiênico, a intensidade das manifestações tem sido incentivada por algo mais sutil e talvez mais forte – a noção de que os espaços para manifestar a discordância com o governo estão diminuindo.

"Você tem um governo que, desde a época de Chávez, mas ainda mais com Maduro, fecha cada vez mais praticamente todos os canais de comunicação", afirmou Margarita López Maya, uma historiadora que estuda protestos públicos. "Se você tem uma sociedade que não tem canais institucionais que possam reclamar, fazer exigências, criar políticas, acredito que a tradição na Venezuela, na América Latina e provavelmente no resto do mundo seja ocupar as ruas".

Em relação à oposição, ela afirmou que "eles se sentem estrangulados, sem voz".

Nas últimas semanas, quatro pessoas foram assassinadas nas manifestações, dezenas ficaram feridas e inúmeras foram presas. Um jornal local afirmou que alguns dos tiros disparos realizados em um dos assassinatos parece ter vindo de um grupo que incluía seguranças uniformizados e oficiais de segurança e homens que os acompanhavam à paisana.

Uma miss, Génesis Carmona, de 22 anos, coroada Miss Tourism 2013 pelo estado de Carabobo, morreu no dia 19 de fevereiro, um dia depois de ser alvejada na cabeça em uma passeata em Valencia, a terceira maior cidade do país. Os manifestantes afirmaram que homens de motocicleta atiraram contra a passeata.

Porém, o ministro do Interior, Miguel Rodríguez Torres, afirmou que o tiro que matou Carmona partiu de um dos manifestantes.

Muitas pessoas pedem pela renúncia do presidente Maduro, mas além disso, as manifestações representam a expressão geral de descontentamento. Até mesmo alguns ativistas admitem que não sabem como transformar a raiva em objetivos políticos concretos.

A reação de Maduro tem sido a repressão, mas isso só tem alimentado as chamas. Há pouco tempo, ele prendeu um político da oposição, Leopoldo López, afirmando que ele treinou gangues de jovens para disseminar a violência como parte de um golpe para derrubá-lo do poder. O presidente também ameaçou prender outros políticos da oposição.

Maduro afirmou que declararia uma espécie de lei marcial conhecida como "estado de exceção" no estado de Táchira, no oeste do país. "Se eu tiver que declarar estado de exceção em Táchira, estou pronto para fazer isso e enviar os tanques, os soldados, os aviões e toda a força militar do país", afirmou.

Partes da capital, Caracas, e algumas outras cidades se transformaram em campos de guerra. Os soldados patrulham Caracas durante a noite, usando gás lacrimogênio e balas de borracha para afastar os manifestantes que bloqueiam as ruas com barricadas de lixo em chamas.

Maduro ridiculariza os manifestantes e ignora suas reclamações. "Eles não são estudantes, são vândalos fascistas", afirmou.

Desde a morte de Chávez, sente-se que existe ainda menos espaço para reformas no país – apesar de Maduro prometer que se abriria para o diálogo. Uma estação de TV contrária ao governo, a Globovision, foi vendida no ano passado para um grupo de investidores próximo do governo. Desde então, a estação deixou de ser um contrapeso ao tom favorável ao governo visto nos diversos canais estatais.

Muitos manifestantes afirmam que estão cansados das divisões do país.

"Estou aqui porque me cansei da criminalidade, da escassez, estou cansada de esperar na fila para comprar qualquer coisa", afirmou María Luchón, de 21 anos, em um protesto recente. "Estou cansada dos políticos de ambos os lados".

María Eugenia Díaz contribuiu

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