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Em "Hacker", o novo suspense de Michael Mann, depois que um segurança ingênuo insere o pen drive de uma moça no computador da empresa, a câmera se demora na marca do dispositivo: Sony. Alguns cliques aqui e ali e o sistema é invadido – e o hacker, um sujeito legal, está bem perto de ter acesso a uma fortuna ilícita roubada por outro. Se não é um retrato fiel da arte imitando a vida, o lançamento da Universal Pictures, previsto para janeiro nos EUA, é no mínimo uma coincidência extraordinária com o ataque sofrido por seu principal concorrente, a Sony Pictures.

O trabalho de Mann, produzido pela Legendary Pictures por US$80 milhões, é um dos retratos do hacking mais autênticos de que se tem notícia – sem contar a importância cultural que ganhou, sem querer, ao coincidir com o ataque a Sony. Hollywood sempre teve dificuldade em transformar códigos de computador e software nocivo em cinema de qualidade, mas Mann, que conquistou três indicações ao Oscar por "O Informante" — história de 1999 de um homem que denuncia a indústria do fumo — passou anos trabalhando na nova produção.

"O foco não está nas especificações técnicas, mas sim na história. Entretanto, há muitas informações", diz o cineasta sobre a apresentação dos métodos usados pelos hackers. ("Black hat", título original do filme em inglês, é a gíria usada para se referir aos hackers criminosos, ao contrário dos especialistas em segurança digital, conhecidos como "white hats".)

O ataque a Sony acabou levando a ameaças dos terroristas aos cinemas norte-americanos e ao cancelamento da pré-estreia de "A Entrevista", comédia que mostra uma tentativa de assassinato do líder norte-coreano Kim Jong-un. Dias depois a Sony lançou a película em cinemas independentes e no serviço de vídeo. "O ataque a Sony acrescentou ao hacking um elemento de identificação que não existia. O público de repente percebeu que aquela troca constrangedora de e-mails ou o trabalho criativo que está pela metade podem ser roubados e exibidos para o mundo inteiro", diz Hemanshu Nigam da empresa de segurança on-line SSP Blue.

O longa conta a história de um hacker sofisticado à caça de outro. O anti-herói, interpretado por Chris Hemsworth, recebe a proposta de ter sua sentença amenizada se puder impedir a ação do terrorista cibernético que está usando o código criado por ele próprio. Os estragos são ainda maiores do que os representados pelo ataque da Sony e a produção começa com uma explosão causada por hacking em uma usina nuclear chinesa. A perseguição que se segue, baseada em pesquisa cuidadosa de Mann, envolve o exibicionismo entre hackers e os toques de estilo pessoal para registrar o movimento invisível de software malicioso (pontos de luz que surgem em uma rede digital, por exemplo, e a digitação mostrada de dentro do teclado). "A forma como se invade um sistema geralmente envolve algum tipo de engenharia social, como convencer um funcionário a permitir o ataque, por exemplo", explica Mann.

Outro caso que aparece no filme é o do agente do governo que é enganado e acaba tendo sua senha trocada, o que levou muitos especialistas a questionarem se não houve elementos semelhantes no ataque a Sony.

Uma das lições mais explícitas do filme – e que Hollywood aprendeu recentemente – é que não há barreiras internacionais para os crimes cibernéticos. Segundo as autoridades, o hackeamento da Sony parece ter sido feito pela Coreia do Norte através da China e conduzido por servidores de Cingapura, Tailândia e Bolívia.

Michael Mann, cujos trabalhos incluem "Ali", "Fogo contra Fogo" e "Inimigos Públicos", conta que se interessou pelo tema depois de passar um tempo em Washington com o pessoal de defesa cibernética do governo. "Ficou claro que Washington — leia-se a Casa Branca — sempre soube da nossa vulnerabilidade à intrusão cibernética e se mostra frustrada pela falta de assistência do pessoal do setor de segurança, financeiro e de infraestrutura para melhorar a defesa", revela o diretor que também escreveu o roteiro com Morgan Davis Foehl. "No geral, o público não tem a mínima ideia da nossa fragilidade e essa falta de noção é que eu acho fascinante", conclui ele.

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