• Carregando...
Palestinos evacuam um menino ferido depois dos ataques aéreos israelenses realizados para libertar um soldado que teria sido sequestrado | Eyad Baba/Associated Press
Palestinos evacuam um menino ferido depois dos ataques aéreos israelenses realizados para libertar um soldado que teria sido sequestrado| Foto: Eyad Baba/Associated Press

Esse foi um dos episódios mais sangrentos do novo conflito em Gaza.

Menos de 90 minutos depois da trégua temporária no dia primeiro de agosto, que deveria ter dado fim a esse conflito, combatentes do Hamas saíram de um túnel e emboscaram uma unidade israelense, matando dois soldados e sequestrando um terceiro, o que levou o exército de Israel a perseguir os sequestradores e lançar uma série de ataques aéreos e de artilharia em uma área densamente povoada na cidade de Rafah, na fronteira sul do país.

Ao final no ataque, 120 palestinos e o soldado sequestrado haviam morrido.

Essa foi uma das raras ocasiões em que o exército israelense fez uso do "procedimento Hannibal", uma de suas diretivas mais odiadas e questionadas, que permite que os comandantes convoquem mais soldados e apoio aéreo para utilizar força máxima na tentativa de recapturar um soldado perdido. Sua cláusula mais detestável afirma que a missão é evitar que os sequestradores fujam com as vítimas, mesmo que isso possa custar a vida dos soldados israelenses capturados.

No episódio em Rafah, parece improvável que o procedimento Hannibal tenha sido o culpado pelo ferimento que vitimou o soldado sequestrado, o Segundo Tenente Hadar Goldin, que provavelmente havia sido ferido no ataque inicial, morrendo mais tarde em combate.

Ainda assim, o uso do procedimento agitou o debate em torno dessa antiga diretiva, que foi escondida do público pela censura militar durante muito tempo, e que raramente é discutida em Israel. Soldados israelenses capturados são um prêmio importante e muito desejado pelo Hamas, que prendeu um desses soldados, Gilad Shalit, por cinco anos. Ao final, ele foi trocado por mais de 1.000 prisioneiros palestinos, muitos dos quais haviam sido condenados por ataques mortais contra israelenses

Porém, a troca de tantos prisioneiros por soldados cativos tem se tornado cada vez mais difícil e os críticos argumentam que cada troca bem sucedida apenas encoraja futuros sequestros.

As mortes de 1.800 pessoas na Faixa de Gaza, incluindo muitas mulheres e crianças, além de uma terrível destruição material, expuseram Israel a duras críticas por parte de outros países, atraindo especial atenção para o ataque a Rafah.

O procedimento Hannibal foi criado por três oficiais sêniores do comando norte de Israel nos anos 80, depois que dois soldados israelenses foram capturados pelo Hezbollah no Líbano.

Para alguns israelenses, o procedimento Hannibal é inaceitável.

"O procedimento é moralmente errado", afirmou Emanuel Gross, da Universidade de Haifa, especialista em lei marcial e juiz militar. "Não temos o direito de arriscar a vida de um soldado apenas para evitar o pagamento de seu resgate".

Autoridades e especialistas afirmam que não se lembram de um caso em que o procedimento Hannibal tenha sido colocado em prática e um soldado tenha se ferido por conta disso.

Yaakov Amidror, general israelense aposentado e ex-conselheiro de segurança nacional, além de um dos autores da diretiva, afirmou: "Entendíamos que quando se trata de um sequestro, a ordem deve ser muito clara, para que os soldados comuns não hesitem em batalha, nem precisem tomar decisões por conta própria".

O nome Hannibal foi dado em referência a Aníbal, o famoso comandante cartaginês que preferiu tomar veneno, a cair nas mãos dos Romanos. Porém, Amidror afirma que o nome foi escolhido a esmo, e não traz nenhum significado especial.

"Moralmente, a questão é importante: o que se pode fazer para evitar um sequestro?", afirmou Amidror. "A ordem era a de fazer tudo o que fosse necessário, inclusive arriscar – não matar – o soldado".

Se tivermos a informação de que um soldado cativo esteja sendo transportado em determinado veículo, afirmou Amidror, é aceitável atirar com um tanque de guerra no motor desse carro. Ao ser questionado se arriscar a vida de um soldado dessa maneira seria moralmente aceitável, Amidror: "Sabe, a guerra é muito controversa. Os soldados precisam saber que existem muitos riscos no campo de batalha e que esse é um deles".

0 COMENTÁRIO(S)
Deixe sua opinião
Use este espaço apenas para a comunicação de erros

Máximo de 700 caracteres [0]