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 | Jonathon Rosen
| Foto: Jonathon Rosen

Como a grande maioria parte das pessoas, George Rue adorava música.

E tocava guitarra em uma banda, além de ir a muitos shows.

Quando estava com quase trinta anos, começou a sentir uma dor de ouvido chata depois de qualquer evento musical.

"Foi há quase nove anos; saí de um show de blues com uma dor medonha e um zumbido no ouvido. Ali minha vida mudou para sempre", conta o nativo de Connecticut de 45 anos.

Todos os sons, com exceção dos mais delicados, não só ficaram altos demais, como se tornaram dolorosos. Ouvir passou a doer.

Agora ele sente uma queimação constante nos ouvidos, além do zumbido, ou tinnitus, tão alto que parece "um raio laser cortando uma placa de aço". "Os pequenos ruídos do dia a dia, como o motor da geladeira, parecem agulhas no tímpano", conta ele, por e-mail, já que falar ao telefone é muito dolorido.

George foi diagnosticado com hiperacusia, termo genérico que tem várias definições, incluindo "sensibilidade ao som" e "intolerância a barulhos"; o que acontece é que muitas vezes ela também causa dor.

Pouco compreendido até agora, o problema começa a receber mais atenção.

"Sem dúvida é um campo que está se expandindo", afirma Richard Salvi, assessor científico da ONG Hyperacusis Research.

Com o tempo, os sons muito altos, mesmo que não causem dor, podem danificar as células e as fibras nervosas sensoriais do ouvido interno, afirma Charles Liberman, professor de Otologia da Escola de Medicina de Harvard. "Para os mais suscetíveis, possivelmente por causa de uma combinação genética que resulta em ouvidos ‘delicados’, o barulho gera uma resposta anormal", explica ele.

A origem da hiperacusia, com ou sem dor, é desconhecida.

O nervo auditivo contém fibras mielínicas, usadas para avaliar o nível de ruído e processar a fala, e outras, em que não há mielina – e embora ainda não tenha sido provado, é a hiperatividade dessas últimas a responsável pela sensação de dor que afeta quem sofre do mal.

O sofrimento também pode vir dos receptores do tímpano ou dos pequeninos músculos e articulações do ouvido médio, revela o Dr. Salvi.

Quem sofre desse mal não pode sentar à mesa de jantar, por exemplo, pois as vozes e o barulho da louça e dos talheres podem dar uma sensação dolorosa que dura horas, dias ou até mais.

Três anos atrás, Ann Lesky, na época professora de Matemática em Newton, em Massachusetts, foi vítima de um assobio de dedos a alguns centímetros de sua orelha, o que lhe causou uma dor insuportável. Pouco mais de uma hora depois o zumbido começou, como se fosse o barulho de uma chaleira.

Quando a dor causada pelos ruídos da classe se tornou insuportável, Ann teve que deixar o emprego. Ainda hoje sente dor o tempo todo no ouvido ruim e sofre com o zumbido em ambos.

"Os ruídos mais altos causam mais dor, que dura mais tempo. Às vezes parece que estou melhorando e aí vem um barulho e me faz piorar", conta ela, hoje com 57 anos.

Como muitos pacientes desse mal, Ann procurou vários médicos em busca de alívio.

Nenhum a ajudou. Um inclusive recomendou uma ressonância magnética tão barulhenta que resultou em meses de agonia e acrescentou um novo ruído ao tinnitus permanente, semelhante ao de vidro se quebrando.

"A melhoria a curto prazo pode enganar. Toda hora sabemos de casos de gente que segue maus conselhos e vive como se nada tivesse acontecido para voltar reclamando, confusa, de mais dor", diz Bryan Pollard, presidente da Hyperacusis Research.

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