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Setores de mineração na Malásia, no Brasil e na Austrália estão sentindo os efeitos da desaceleração do crescimento chinês. Para cortar custos, trabalhadores não sindicalizados  rabalham em mina de ferro controlada por chineses na Malásia | Fotografia de Rahman Roslan para The New York Times
Setores de mineração na Malásia, no Brasil e na Austrália estão sentindo os efeitos da desaceleração do crescimento chinês. Para cortar custos, trabalhadores não sindicalizados rabalham em mina de ferro controlada por chineses na Malásia| Foto: Fotografia de Rahman Roslan para The New York Times

O gigantesco equipamento de mineração que escava o negro minério de ferro acabou com as palmeiras e outras plantas desta ribanceira na selva cujo nome em malaio significa "Morro de Ferro". A chinesa CAA Resources, que reabriu a mina adormecida no começo do ano, logo elevou a produção a quase 500 mil toneladas anuais, pretendendo dobrá-la no ano que vem.

Suas ambições, porém, estão sendo prejudicadas pela mudança no terreno global: o minério de ferro está cada vez mais barato.

"A China ainda precisa de muito aço para infraestrutura, projetos habitacionais e trilhos de trens. O único problema é o preço", disse Li Yang, executivo-chefe da CAA.

Com a aparentemente insaciável demanda chinesa, o preço do minério de ferro subiu durante grande parte da década passada. A China fabrica metade do aço mundial, que é feito de ferro e usado na construção civil, linhas ferroviárias e muito mais.

O aumento ajudou a dar fôlego ao crescimento veloz de empresas como a CAA, bem como das economias de países em desenvolvimento, ricos em recursos. Desde a Indonésia e a Austrália até o Peru e o Brasil, empresas multinacionais e chinesas investiram em grande escala e em longo prazo nas minas.

Mas o crescimento da economia da China, que já chegou à casa dos dois dígitos, diminuiu para cerca de sete por cento, com a produção industrial caindo ainda mais drasticamente. Muitas empresas de commodities, no entanto, aumentaram a produção para atender o apetite anterior.

O resultado é um golpe duplo às empresas de recursos naturais e aos mercados emergentes, com poucos setores sendo mais prejudicados do que o de minério de ferro. Os preços nas últimas semanas caíram 48 por cento desde o início do ano, chegando a US$70 por tonelada, uma baixa de cinco anos.

A empresa brasileira Vale disse em agosto que pretende dobrar as exportações para a China em cinco anos. A BHP Billiton da Austrália anunciou planos no mesmo mês para investir US$ 2 bilhões em projetos de expansão de minas. A Rio Tinto, empresa com sede em Londres e com operações na Austrália, irá aumentar a produção em 13 por cento no próximo ano.

As empresas chinesas também se expandem internacionalmente. Na Malásia, o número de minas de minério de ferro aumentou mais de sete vezes desde 2007, principalmente graças ao investimento chinês.

À medida que a demanda por minério de ferro cai, minas como esta aqui em Bukit Besi continuam operando, em parte escavando fundo suas jazidas mais ricas em ferro, em vez de explorá-las de modo mais uniforme, extraindo o minério de baixa qualidade junto com o de boa. A medida manteve uma torrente de minério de ferro entrando no mercado mesmo com a queda dos preços.

"Eles ampliam o problema ao explorar a parte mais rentável", disse Bruce Diesen, da Carnegie ASA, empresa norueguesa de gestão de ativos com sede em Oslo.

Li, de 27 anos, descendente de uma família de chineses que enriqueceu com a indústria de minério de ferro, tem trabalhado para construir laços com líderes políticos na Malásia e com a realeza. Ele disse que teve de pagar para que cada integrante do partido governista com participações indiretas na mina recebesse o título de nobreza de "dato", que pode ser traduzido como "honorável". O preço para se conseguir uma concessão real pode chegar a US$100.000, ele disse.

Embora grupos que combatam a corrupção tenham feito campanha contra tais acordos, Li disse que estava simplesmente seguindo práticas comuns na Malásia.

Para evitar possíveis problemas trabalhistas, Li contratou trabalhadores com salários baixos de países como Camboja, Mianmar e Vietnã, que não são sindicalizados. E evitou a necessidade de autorização de impacto ambiental ao dividir a mina em duas.

Os maiores desafios da CAA vêm de forças externas. O minério de Bukit Besi é menos rico em ferro do que o produzido por concorrentes como Austrália ou Brasil. O minério de ferro menos concentrado precisa passar por uma etapa extra, e cara, antes que possa ser vendido. Isso diminui o lucro da CAA.

O transporte também é caro. As minas australianas e brasileiras são conectadas por linhas ferroviárias aos portos de águas profundas que podem lidar com grandes cargueiros. Isso limita seus custos de frete para a China para cerca de US$8 por tonelada. Em comparação, transportar minério de ferro da Malásia para a China custa US$ 16 por tonelada, porque os portos da Malásia são mais rasos.

A indústria de aço chinesa — e o governo chinês — reluta em confiar exclusivamente na Austrália e no Brasil, dadas as dificuldades passadas.

"Há um imperativo estratégico — a China não quer ser unicamente dependente da Austrália e Brasil", disse Tim Huxley da Wah Kwong Maritime Transport Holdings, companhia de navegação de Hong Kong. "Já fizeram isso antes, e perderam muito dinheiro."

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