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Atirador cobra 75 libras para matar uma raposa em Londres | Tom Jamieson/The New York Times
Atirador cobra 75 libras para matar uma raposa em Londres| Foto: Tom Jamieson/The New York Times
  • Terry Woods e Sandra Reddy cuidam de raposas feridas

O atirador chegou no final da tarde levando binóculos infravermelhos e um silenciador. Ele montou seu rifle nos fundos de uma casa vitoriana, apontou o cano para o canto mais longínquo do jardim e ficou aguardando. Em menos de uma hora, uma sombra saiu da escuridão. Houve um estampido, e o alvo virou um volume inerte de pelo cor de gengibre.

"Mais um ponto para meu bebê", disse Phil, afagando o rifle. Então ele perguntou à sua cliente de 37 anos, que tem dois filhos: "Você tem um saco de lixo?".

O Reino Unido tem a maior densidade de raposas urbanas do mundo. Calcula-se que 10 mil desses animais estejam pelas ruas e pelos jardins de Londres.

As raposas desenterram bulbos de flores, remexem o lixo e ocasionalmente atacam animais de estimação e pessoas. Elas têm sido acusadas de matar filhotes de pinguins e de flamingos no zoo de Londres e, certa vez, de arrancar o dedo de um bebê com os dentes.

"As raposas podem parecer adoráveis, mas são uma peste e uma ameaça, sobretudo em nossas cidades", disse Boris Johnson, o prefeito de Londres. Quando seu gato aparentemente foi agredido por uma raposa, Johnson conta que ficou tão irado que pensou em "sair com meu rifle calibre 22 e atirar até acabar com ela".

O assunto desperta reações inflamadas em um país que inventou a caça à raposa no século 18, além de ter a tradição mais antiga no mundo em prol dos direitos dos animais.

A Sociedade Real de Prevenção da Crueldade com os Animais foi fundada em 1824, nove anos antes de o Império Britânico abolir a escravidão. Um santuário de burros em Devon obtém mais doações por ano do que o conjunto das três principais instituições beneficentes britânicas voltadas à violência contra mulheres.

Clare, advogada que tem três filhos, também contratou alguém para matar raposas em seu jardim. Ela pediu para manter seu sobrenome no anonimato. "Provavelmente há mais pessoas querendo matar humanos que eliminam raposas do que pessoas querendo matar raposas."

É por isso que Phil também pediu que seu sobrenome não fosse publicado. "Não quero que alguém fure meus pneus ou atire uma bomba em minha casa."

No Reino Unido é ilegal matar raposas. Phil, encanador de 63 anos, refletiu sobre isso pela primeira vez há três décadas, depois que uma raposa arrancou a cabeça do porquinho-da-índia de sua filha. Depois, dois cães de uma amiga foram atacados, e ele "eliminou" duas raposas no jardim dela. "Daí em diante, foi como uma bola de neve", comentou.

Sua clientela inclui clubes de tênis, escolas, fazendas e famílias urbanas que, em geral, têm crianças pequenas ou animais de estimação. Ele cobra 75 libras, ou cerca de R$ 310, para matar uma raposa e aproximadamente 50 libras por cada raposa morta a mais.

Alguns londrinos as alimentam. Outros colocam câmeras em jardins para transmitir vídeos on-line. Páginas no Facebook como Urban Fox Defenders têm milhares de apreciadores.

Quando as gêmeas Lola e Isabella Koupparis, de nove meses, foram hospitalizadas com ferimentos no rosto e nos braços depois que uma raposa entrou em seu quarto no norte de Londres em 2010, sua mãe recebeu tantas ameaças que obteve proteção policial.

Stephen Harris, da Universidade de Bristol, culpa os tabloides por fazer as pessoas acreditarem que as raposas urbanas são "tão grandes quanto pastores-alemães" e que sua população está "fora de controle".

Já em 1973, um jornal britânico advertiu que uma raposa poderia matar um bebê, escreveu Harris no "Guardian". "Isso, porém, não aconteceu." Na verdade, acredita-se que o número de raposas esteja estável desde os anos 1980.

No mesmo dia em que Phil montou tocaia com seu rifle no jardim, Sandra Reddy e Terry Woods cuidavam de três raposas feridas em um santuário nos arredores de Londres.

Charlotte, Carl e Beau, todas supostas vítimas de cães, carros ou ácaros, estavam se recuperando à base de uma dieta de ração para cães e comprimidos homeopáticos contra sarna. "É uma crueldade matar animais; da mesma maneira que eu não faria isso com Terry, tampouco o faria com uma raposa", explicou Reddy, 53. "Isso também é inútil, pois para cada raposa morta, outra aparece", acrescentou ela.

Há evidências de que ela tem razão. Uma pesquisa feita por Harris mostra que leva em média quatro dias para uma nova raposa controlar um território vago. Segundo ele, "para reduzir a quantidade de raposas de maneira significativa, seria preciso matar 70% delas a cada ano".

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