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Sree Sreenivasan do Metropolitan Museum, acima, e Shelley Bernstein do Brooklyn Museum têm ideias diferentes sobre como usar a internet em seus planos de marketing global | Nicole Bengiveno/The New York Times
Sree Sreenivasan do Metropolitan Museum, acima, e Shelley Bernstein do Brooklyn Museum têm ideias diferentes sobre como usar a internet em seus planos de marketing global| Foto: Nicole Bengiveno/The New York Times

Como a vodka, os espelhos de parques de diversão e as viagens ao Japão, a internet pode nos dar a sensação de que somos grandes.

Ela convence os enclausurados a tentarem se tornar astros da webcam; faz o ignorante imaginar que seus comentários cheios de belas palavras vão transformar o mundo; seduz o fabricante de queijo artesanal com visões de um mercado mundial.

E pode fazer até o museu de arte mais tradicional imaginar que pode fazer sua coleção chegar às aldeias da China e às universidades do Peru, quem sabe até a alguma prisão? Talvez possa se espalhar pelo mundo todo.

Dois museus de Nova York embarcaram nesse sonho: um deles ainda acredita nisso; o outro descobriu que o verdadeiro valor da internet não está na possibilidade de chegar a todos os lugares, mas sim em se fortalecer em seu próprio local.

Eles são o Metropolitan Museum of Art e o Brooklyn Museum, ambiciosas instituições com diferentes reputações: o Met é um dos principais museus do mundo, e o Brooklyn é famoso localmente. Mesmo assim, alguns anos atrás ambos compartilharam o sonho de conquista mundial.

"O sonho era que qualquer um, em qualquer lugar, poderia participar e que o faria se tivesse a chance," disse Shelley Bernstein, vice-diretora de engajamento digital e tecnologia do Brooklyn Museum. "Eu alimentei essa ilusão".

O mesmo ocorreu no Met com Sree Sreenivasan, diretor da área digital do museu — e o primeiro no cargo. "A maioria das pessoas que se interessa por arte não vai pegar um avião e vir prá cá. Seria ótimo se pudessem. Mas, tudo bem, por que esperamos que o que estamos fazendo chegue até eles em formato digital", disse.

Porém hoje, os sonhos de ambos divergem: o Brooklyn Museum acabou com algumas iniciativas na mídia social e agora quer uma abordagem mais local, usando a internet para coisas como levar a audiência aos ateliês de artistas da região. O Met tenta alcançar o público em lugares distantes como a China, contornando proibições ao Twitter e ao Facebook e se valendo das competências linguísticas dos curadores para atingir milhões via Weibo, uma plataforma de blogues do país. "Estamos realmente comprometidos com essa ideia de chegar ao mundo todo", disse Sreenivasan.

Para isso, o Met criou uma conta no Instagram que exibe obras de sua coleção; publicou uma "linha do tempo da história da arte" que, segundo eles, atrai um terço de todo o tráfego do site; lançou uma galeria digital chamada "Um Met. Muitos Mundos". Seus mais de 60 posts no Weibo já foram vistos perto de três milhões de vezes, segundo Sreenivasan.

De acordo com seus cálculos, o Met atrai 6 milhões de visitantes por ano, mas também tem 29 milhões de visitas ao seu site e chega a 92 milhões de pessoas através de sua página do Facebook.

Para a instituição, isso significa mudar velhos hábitos para cultivar seguidores. Os valores dessa era digital e os do museu tradicional são diferentes; o equilíbrio entre eles é o desafio que enfrentam Sreenivasan e sua equipe de 70 membros.

"Como deixar as coisas mais acessíveis sem diluir seu valor intelectual?" disse Sreenivasan. "Essa é a meta".

O Brooklyn Museum se esforçou para conquistar terras distantes quando se aventurou no mundo digital.

"Oito anos atrás, dizíamos que a internet seria o caminho para a ampliação", contou Bernstein. "Acho que deveríamos pensar nisso com mais moderação agora".

Um experimento chamado "Click!" pede que usuários avaliem fotografias. Outro, chamado "Split Second", pedia que o público votasse em pinturas da Índia.

Essas experiências provaram uma tese diferente da do Met: mesmo sendo muito fácil compartilhar a coleção do museu com Gana e Mongólia, foram as pessoas das regiões próximas que mais se engajaram com o site.

Seus criadores ficaram surpresos com os resultados do tráfego de dados. No "Click!", mesmo com acesso de 40 países diferentes, 64 por cento dos participantes vieram de Nova York, Nova Jersey e Connecticut, e os moradores do local contribuíram com 74 por cento das avaliações. Quase metade das avaliações veio do próprio Brooklyn. No "Split Second", o museu descobriu que os usuários locais gastam uma média de 15 minutos no site, em comparação com a metade do tempo dos usuários mais distantes.

Shelley disse que esses dados surpreenderam sua equipe. Para ela, a ideia dessas ferramentas era romper com antigos modelos de museus que focavam demais na elite. Mas o mundo digital foi, no seu caso, simplesmente a repetição do modelo elitista de visitação do espaço físico.

Desde então, o museu fechou muitas das suas plataformas digitais: Flickr, History Pin, iTunesU, sua página exclusiva no Foursquare, além de alguns outros.

A lição aprendida foi a seguinte: "Não deixe a tecnologia orientar o que você está fazendo, porque pode não estar certo". O mundo digital não é uma panaceia, afirma ela. "É apenas mais uma opção".

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