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Abu Bakr al-Baghdadi, que se identifica como o califa do Estado Islâmico do Iraque e do Levante, prega em Mosul, em julho | reuters
Abu Bakr al-Baghdadi, que se identifica como o califa do Estado Islâmico do Iraque e do Levante, prega em Mosul, em julho| Foto: reuters

Quando forças dos Estados Unidos atacaram uma casa nos arredores de Falluja durante a turbulenta ofensiva de 2004 contra a insurgência sunita iraquiana, acabaram prendendo os militantes que buscavam. As tropas também capturaram um iraquiano de 30 e poucos anos do qual nada sabiam: Ibrahim Awad Ibrahim al-Badry. A figura antes periférica se tornou conhecida para o mundo agora como Abu Bakr al-Baghdadi, autodesignado califa do Estado Islâmico do Iraque e do Levante (EIIL) e arquiteto da violenta campanha para redesenhar o mapa do Oriente Médio.

"Ele era um bandido comum quando o capturamos em 2004", disse um funcionário do Departamento de Defesa norte-americano. "Seria bom se pudéssemos ter tido uma bola de cristal que nos dissesse que ele viria a ser o chefe do EIIL".

A cada passo, a ascensão de Baghdadi foi definida pelo envolvimento dos Estados Unidos no Iraque. E agora ele forçou um novo capítulo daquela intervenção, depois dos sucessos militares do EIIL e massacres brutais de minorias em seu avanço, levando o presidente Obama a ordenar ataques aéreos no Iraque.

Baghdadi prometeu "confronto direto" com os EUA. Ele também impôs uma campanha violenta para extirpar minorias religiosas, tais como xiitas e yazidis, o que foi condenado até mesmo por líderes da Al Qaeda.

Acredita-se que Baghdadi tenha feito doutorado em estudos islâmicos em uma universidade em Bagdá e foi pregador em uma mesquita de sua cidade, Samarra. Ele também afirma ser descendente da tribo coraixita, à qual pertenceu o profeta Maomé.

O Departamento de Defesa afirma que depois de ser preso em Falluja no começo de 2004, Baghdadi foi libertado em dezembro daquele ano com prisioneiros considerados de nível inferior. Porém, Hisham al-Hashimi, acadêmico iraquiano, disse que Baghdadi passou cinco anos num centro de detenção norte-americano onde se radicalizou.

De acordo com Hashimi, Baghdadi cresceu num vilarejo rural e sua família era sufista – ramo do islã conhecido pela tolerância. Segundo ele, Baghdadi veio para Bagdá no começo da década de 90 e foi se tornando mais radical com o passar do tempo.

No começo, ele se sentiu atraído por um novo grupo jihadista liderado pelo militante jordaniano Abu Musab al-Zarqawi. Embora esse grupo, a Al Qaeda no Iraque, tenha começado como uma organização iraquiana insurgente, ele jurou lealdade à liderança global da Al Qaeda, trazendo líderes estrangeiros.

Bruce Riedel, ex-agente da Agência Central de Inteligência (CIA), escreveu há pouco tempo que Baghdadi trabalhara com Zarqawi no Afeganistão. Porém, há quem afirme que a comunidade norte-americana de inteligência não acredita que Baghdadi tenha saído do Iraque e da Síria, nunca tendo sido visto próximo de Zarqawi.

A operação norte-americana que matou Zarqawi em 2006 foi um grande golpe à liderança da organização. Enquanto os norte-americanos terminavam a guerra no Iraque, eles se concentraram nos líderes restantes da Al Qaeda no país. Em abril de 2010, uma operação conjunta das forças iraquianas e norte-americanas matou suas duas figuras principais.

Um mês depois, o grupo anunciou nova liderança e Baghdadi ocupava o primeiro lugar da lista. "Tem alguma ideia de quem são esses sujeitos?", um analista da Stratfor, empresa particular de inteligência, escreveu em e-mail divulgado pelo WikiLeaks. Em junho de 2010, a firma publicou um relatório sobre o grupo afirmando que sua "intenção de estabelecer um califado islâmico no Iraque não diminuiu".

As tribos sunitas da Síria oriental e das províncias iraquianas de Anbar e Ninawa mantêm laços mais profundos do que as fronteiras nacionais. À medida que grupos rebeldes sírios mais moderados foram vencidos pelas forças de segurança da Síria e seus aliados, o EIIL assumiu o controle da luta, em parte por causa do poder das armas e do financiamento de suas operações no Iraque e de apoiadores jihadistas no mundo árabe.

Tal fato levou políticos norte-americanos, incluindo Hillary Clinton, ex-secretária de Estado, a acusar o presidente Obama de ajudar a ascensão do EIIL de duas formas: primeiro pela retirada das tropas do Iraque em 2011 e depois por hesitar em armar grupos da oposição síria mais moderados no começo daquele conflito. Muito antes disso, a invasão norte-americana presenteou Baghdadi com um inimigo pronto e recrutando apoio. E a deposição de Saddam Hussein, cuja ditadura brutal manteve os movimentos extremistas islâmicos sob controle, deu a Baghdadi liberdade para suas visões radicais florescerem. O grupo agora praticamente se financia sozinho. E embora ele tenha dominado território por meios brutais, Baghdadi também apresentou um lado mais suave. Em Mosul, o EIIL realizou um "dia divertido" para as crianças, distribuiu alimentos, inaugurou serviços de ônibus e abriu escolas.

Um funcionário do Departamento de Defesa afirmou, com admiração relutante, que Baghdadi "fez um bom trabalho reunindo e organizando um grupo vencido. Porém, talvez agora ele tenha ido longe demais".

Omar Al-Jawoshy colaborou com esta reportagem em Bagdá, Hwaida Saad em Beirute, Líbano, e Karam Shoumali, de Istambul

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