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Praticamente todo mês alguém liga para o reverendo Phil Oswald e pergunta se ele estaria disposto a batizar um hindu que quer se tornar cristão. "Todos falam exatamente a mesma coisa; é óbvio que é coisa armada", conta o pastor da International Christian Fellowship.

Os soviéticos usavam "armadilhas açucaradas" – bebidas e belas mulheres – para pegar os ocidentais em situações comprometedoras; para alguns cristãos na Índia, porém, há a "armadilha de Jesus": promessas de salvação da alma atraem pastores e missionários estrangeiros para conversões que os fariam perder o visto de residência. Oswald conta que recomenda a quem liga – e que imagina serem nacionalistas hindus – uma conversa com religiosos indianos, que não podem ser deportados, mas a sugestão é sempre recusada.

A suspeita se deve porque seus membros denunciam há séculos muçulmanos e cristãos por "forçarem" os hindus a se converterem a suas religiões. E é por isso que a doutrinação feita por não-hindus não é vista com bons olhos, principalmente se forem estrangeiros. Os vistos para profissionais da fé são estritamente limitados, alguns missionários são aconselhados a não evangelizarem de forma aberta e agora que um deles se tornou primeiro-ministro, os grupos mais radicais já começaram uma campanha para recuperar as perdas por conversão.

Em Agra, quase 200 muçulmanos se converteram ao Hinduísmo, em cerimônia comum, por um integrante da poderosa Rashtriya Swayamsevak Sangh, ala ideológica do partido da situação, o Bharatiya Janata, da qual fazia parte o atual líder do país, Narendra Modi.

Alguns recém-convertidos contam terem sido iludidos por benefícios econômicos.

O líder do Rashtriya Swayamsevak Sangh, Mohan Bhagwat, prometeu acelerar as conversões, às quais o grupo se refere como "volta para casa", embora uma cerimônia em massa planejada para o Dia de Natal tenha sido cancelada. "Traremos de volta aqueles que se perderam. Eles não o fizeram por vontade própria", afirmou.

Cerca de 80 por cento do 1,2 bilhão de indianos é hindu; quase quinze é muçulmana e o resto se divide entre cristãos, budistas, adivasis (tribos indígenas) ou zoroastras.

Jawaharlal Nehru, o primeiro primeiro-ministro do país, fez do secularismo uma parte vital de sua filosofia de governo, mas a intolerância pôs a Índia em polvorosa repetidas vezes ao longo da história; além disso, é a identidade religiosa que molda o padrão de voto. Grupos hindus acusam os partidos centristas de tentar conquistar as minorias.

Os oposicionistas, que denunciam as conversões como tendo motivação política, se uniram para paralisar a Câmara Alta do Parlamento até que Modi as condenem publicamente. "É um assunto nacional muito grave, a ponto de que só o primeiro-ministro pode falar sobre ele no Parlamento", afirma Abhishek Singhvi, do Partido do Congresso Nacional Indiano.

O próprio Modi já foi figura polêmica: era ministro-chefe do estado de Gujarat, em 2002, quando houve ali confrontos religiosos que deixaram mais de mil mortos – mas chegou ao governo federal prometendo trabalhar pelo desenvolvimento econômico nacional. Mesmo seus críticos reconhecem que ele mostrou poucos sinais de ser religiosamente controverso, mas os mais conservadores, irritados com a recusa de Modi de defender suas causas, começaram a denunciar – e alguns insistem que o fazem com a aprovação tácita do líder.

"Aqui, cristãos e muçulmanos são nossos irmãos de sangue. Foram forçados a se converter por terem sido atraídos ou por fraude. Se tem quem queira corrigir o erro de seus ancestrais, o que há de errado nisso?", questiona Surendra Jain, do grupo nacionalista hindu Vishva Hindu Parishad.

O recesso parlamentar de inverno, iniciado em 23 de dezembro, travou os planos modestos de mudança de Modi e representa um golpe sério em sua intenção de ressuscitar a economia nacional, tão combalida.

O comentarista político Shekhar Gupta se diz surpreso com o fato de até agora Modi ter se recusado a denunciar as conversões – um preço supostamente baixo a pagar em troca da agilização da agenda legislativa.

"De onde se conclui que ou o primeiro-ministro não tem força para impedir essas conversões ou as aprova. Eu não sei qual dos dois é pior", concluiu.

Contribuiu Neha Thirani Bagri

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