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Na Somália, uma garota de quatro anos recebe tratamento contra a diarreia, que mata 700 mil crianças/ano no mundo | Roberto Schmidt/Agence France-Presse — Getty Images
Na Somália, uma garota de quatro anos recebe tratamento contra a diarreia, que mata 700 mil crianças/ano no mundo| Foto: Roberto Schmidt/Agence France-Presse — Getty Images

Bem longe do temor mundial com o ebola e a MERS, acontece uma revolução no diagnóstico de uma doença muito mais ameaçadora: a diarreia infantil. Depois da pneumonia, ela é a doença que mais mata crianças no mundo: são aproximadamente 700 mil/ano.

Mais de 40 patógenos causam diarreia em crianças nos países em desenvolvimento. De acordo com a Organização Mundial de Saúde, elas devem receber reidratação oral – e, se não conseguirem manter o nível recomendável de fluidos, o processo deverá ser intravenoso, além de um suplemento de zinco. As diretrizes recomendam antibióticos só em caso de sangue nas fezes.

“A diretiva foi criada há mais de trinta anos, baseada naquilo em que todo mundo acreditava na época: que a diarreia era principalmente viral — e só se fosse bacteriana, então haveria um pouco de sangue”, explica o Dr. Jeffrey M. Pernica, pediatra da Escola de Medicina da Universidade McMaster, no Canadá. E completa: “Com o advento da tecnologia do diagnóstico melhorado, agora podemos ser mais específicos.”

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Análise abrangente sobre as causas da diarreia infantil, o Estudo Entérico Multicentrado Global, publicado em 2013, descobriu que os cinco principais agentes são o rotavirus, o parasita Cryptosporidium, duas cepas da bactéria E. coli e a bactéria Shigella. “Na verdade, o sangue é um marcador muito frágil para a diarreia bacteriana”, afirma o Dr. David M. Goldfarb, microbiólogo da Universidade da Colúmbia Britânica.

Na ocorrência da doença, o tempo é importantíssimo. Muitas crianças já chegam ao hospital quase mortas por causa da desidratação. Quando o agente é um vírus, os médicos só podem torcer para que o sistema imunológico consiga acabar com ele. Várias infecções bacterianas são tratadas com antibióticos, mas os parasitas são exterminados com outros remédios. Antes, um diagnóstico preciso chegava a levar dias; as fezes eram congeladas e enviadas aos laboratórios para avaliação microscópica ou testes de anticorpos. As clínicas dos países pobres, impossibilitadas de fazer isso, usavam as diretrizes da OMS.

Porém, o preço que se paga pela não-ministração de antibióticos quando necessário é alto: com crises repetidas de diarreia, as vítimas têm problemas de crescimento. Crianças que sofrem de desnutrição crônica antes dos dois anos vão mal na escola, são menores que o normal e, quando adultas, geram bebês menores.

Tarik Jasarevic, porta-voz da OMS, afirma: “Os novos estudos são importantes, mas não o bastante para mudarem as diretrizes. O uso pródigo de antibióticos poderia encorajar o surgimento de cepas locais de bactérias resistentes ao medicamento.”

Alguns especialistas são contra a lógica. “O problema não é que as diretrizes estejam erradas, mas estão ultrapassadas”, explica a Dra. Anita Zaidi, diretora de doenças diarreicas da Fundação Bill & Melinda Gates, que financiou por grande parte das pesquisas mais recentes. Para ela, o temor pela criação de resistência não justifica o tratamento sem antibióticos. “Se os turistas são tratados com eles, por que não as crianças com menos de dois anos que estão arriscadas a morrer?”.

Segundo Dr. Magnus Lindh, especialista em diarreia da Universidade de Gotemburgo, na Suécia, muitos pequenos têm diversos patógenos simultaneamente e, por isso, é difícil determinar o agente causador.

E ensina que a melhor maneira de presumir o diagnóstico é contar quantas vezes o equipamento usado para detectar genes pela reação da cadeia da polimerase (PCR, na sigla em inglês) tem que dobrar a amostra de DNA para se obter uma leitura positiva. Uma “contagem de ciclo” baixa implica em vários patógenos.

O problema é que essas máquinas chegam a custar US$30 mil ou mais; cada teste não sai por menos de US$50. Já existem versões especializadas menores, como a GeneXpert, que revolucionou o diagnóstico da tuberculose nos países em desenvolvimento. No entanto, a versão diminuta da PCR somente para diarreia ainda não foi produzida.

Especialistas duvidam que esse tipo de diagnóstico chegue a ter um custo-benefício decente. “Vale a despesa para o diagnóstico preciso da tuberculose, que exige pelo menos seis meses de tratamento, mas a terapia da diarreia custa US$0,50 e mesmo com o custo do antibiótico ficaria mais US$0,50 mais caro”, explica Eric R. Houpt, da Universidade da Virgínia.

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