Roupa usada reflete tendência da moda

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Foi um sucesso inesperado, consequência talvez do deleite de se poder usar calça de pijama em plena luz do dia, assim como o cardigã xadrez do vovô e o casaco de vison imitando pele de leopardo meio comido pelas traças. Estamos falando da "Thrift Shop", ode de Macklemore e Ryan Lewis ao prazer democrático que o cesto de promoções de roupas usadas provoca.

Vivemos uma cultura de brechó — e, em 2013, isso ficou bem claro na evolução do estilo. Apesar dos grandes esforços dos fabricantes de produtos de luxo, a moda parece ter perdido o "M" maiúsculo.

Sim, muita coisa aconteceu na Moda: os estilistas ergueram suas tendas em Milão, Nova York e Paris para fazer funcionar o circo tradicional; entretanto, os mais espertos — Marc Jacobs, que "telegrafou" sua aposentadoria iminente da Louis Vuitton desfilando renda escura e jeans rasgados, e Rick Owens, que importou quatro grupos de dança norte-americanos, com mulheres de todas as formas e tamanhos, para se apresentarem em seu desfile em Paris — pareciam determinados a mandar uma mensagem secreta a seus admiradores: a moda se torna obsoleta quando atinge um ponto hermético ou elitista demais, quando se isola das novidades do mundo.

Mais do que nunca, é possível conferir essa verdade em qualquer rua de qualquer grande capital da moda ou espalhada nos slides de paparazzi talentosos como Tommy Ton. Quase invisível em meio à confusão de imagens que ele fez em 2013, havia uma linha mestra quase escondida, um panorama editado da naturalidade através da qual o consumidor absorveu as inúmeras lições da última década de moda.

Foi como se, no último ano, cansado de ser importunado, ele decidisse se afastar dela para seguir o exemplo de Macklemore e fuçar as araras de promoção em busca de algo que já existe.

"Estamos vivendo um momento em que as pessoas que se interessam por moda não precisam se restringir porque não existe norma ou regra rígida", diz Annie Georgia Greenberg, editora de estilo do site Refinery29. "As pessoas da minha idade, entre vinte e trinta anos, se sentem mais livres para interpretá-la à sua própria maneira".

Assim como os achados mais estranhos de repente parecem perfeitos no espelho do brechó, combinações ilógicas e esquisitas fazem todo o sentido visual na esfera neutra em valores da rede: os ursinhos de pelúcia e as minimochilas usadas com bolsas Chanel; macacões e shorts cavados; um corte de cabelo que parece ter saído de "Butch", estudo fotográfico de Kanithea Powell sobre o estilo lésbico, e uma camiseta cortada da Minnie combinada com um sapato Manolo Blahnik para ver o desfile de Marc Jacobs durante a Semana de Moda de Nova York.

Joe Zee, diretor criativo da Elle, comentou a respeito de Miley: "Ela é bem esperta quando se trata de bolar seu estilo".

E acrescentou, dando a entender que essa qualidade faz parte de sua geração: "Miley acabou de completar 21 anos, ou seja, essa mistura toda é muito natural para ela. Seria a coisa mais fácil do mundo alguém na sua posição dizer: ‘Eu vou ser a nova Madonna,’ ou ‘Quero ser a nova Joan Jett ou o novo Run-DMC;’ no entanto, ela prefere sinalizar algo do tipo: ‘Vou pegar um pouquinho de cada um e fazer a coisa do meu jeito’". Para Michael Hainey, da revista GQ, Miley criou uma imagem emblemática e inovadora.

"O nosso estilo, o estilo norte-americano, tem um pouco de tudo. Há muita liberdade, principalmente agora, e é por isso que os europeus se inspiram tanto em nós," afirma ele.

Para Stacy Lambe, editora da revista Out, "subversivamente ou abertamente, artistas como Miley e Macklemore se aproveitam disso porque foram criados em uma cultura mais aberta. A coisa é bem mais solta hoje em dia. Chegamos a um ponto em que todo mundo é influenciado por tudo."